quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma leitura parcelar

Neste primeiro texto que publico após a realização das eleições regionais não resisto, apesar de já terem passado alguns dias e do essencial ter sido dito e interiorizado pelos cidadãos, não resisto, como dizia, a tecer algumas considerações sobre o que ditou a vontade popular no passado dia 19. Antes porém devo dizer que a minha ausência desta coluna nas últimas semanas foi uma iniciativa própria. Iniciativa que a minha consciência e a ética, com que pauto a minha intervenção pública, me aconselharam. É claro que para quem na luta política considera que não há regras e que vale tudo para atingir os fins dirá: - Mas que asneira!
Eu direi que o descrédito da maioria dos cidadãos na política e nos seus actores, que a abstenção traduz, é em grande parte, resultante directo de atitudes eticamente incorrectas e politicamente condenáveis. Quando afirmo, como é costume, que nem as políticas, nem os seus actores são iguais não o faço de forma gratuita. Uma leitura mais atenta do quotidiano conduzirá, incontornavelmente, a essa conclusão. Há quem sirva o interesse público e há quem dele se sirva.
O tempo e a história se encarregarão de separar o trigo do joio. Uns perdurarão como se de uma obra de arte se tratasse, outros volatilizar-se-ão no discurso populista e demagógico com que seduzem os cidadãos e as cidadãs, outros serão vítimas das suas próprias práticas. E quer uns, quer outros serão reduzidos à sua insignificância quando o povo se decidir a ser livre, a exigir direitos e a recusar esmolas.
Os resultados eleitorais demonstraram, claramente, a justiça da alteração à Lei Eleitoral com a introdução do Círculo de Compensação Regional. Não fora isso e o partido que menor votação obteve (424), teria eleito 1 deputado, por um círculo eleitoral de ilha, com apenas 75 votos e outros, com uma expressão eleitoral substancialmente maior, veriam os seus votos desperdiçados face ao perverso anacronismo da desproporcionalidade, que subsiste, corrigida pelo Círculo e Compensação, embora apenas a atenue.
Um outro dado interessante relaciona-se com a substantiva descida da massa eleitoral do PS de Carlos César. Menos 15 mil votos, em termos absolutos, a que corresponde uma descida relativa de 7%. É certo que o PS continua a deter a maioria absoluta mas… levou um cartão amarelo. O resultado obtido pelo PS de Carlos César não é, ainda assim, correspondente ao generalizado descontentamento que se regista por toda a Região. Não fosse a demissão de mais de 50% dos eleitores e teria sido possível um resultado eleitoral que obrigaria César a descer do pedestal e a recuperar a capacidade de ouvir e a cultivar o diálogo democrático. Fica o aviso popular e a eleição da voz necessária no Parlamento Regional.
Qualquer apropriação por José Sócrates da vitória do PS Açores para a transferir para o plano nacional é abusiva. Todos nos lembramos o que esse mestre da manipulação da palavra disse aquando da “banhada” eleitoral do PS na Região Autónoma da Madeira. Se aquele acto eleitoral, pelas suas especificidades, não podia ser incorporado como uma derrota de José Sócrates, então as eleições nos Açores, pelas suas especificidades, não podem, pelas mesmas ordens de razão, ser apropriadas por Sócrates como se de uma vitória sua se tratasse. Não deixa de ser sintomática a anuência de Carlos César a esta tese.
Os resultados do PSD Açores não espantaram, aliás serão aqueles que menos surpreenderam e não se trata, em minha opinião, apenas da fragilidade da liderança regional e nacional. Ao PSD falta-lhe o espaço político que o PS de Sócrates e César lhe ocuparam.
IN, A União, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Dizes que o tempo e a história se encarregarão de separar o trigo do joio e estás cheio de razão. Não vamos esperar muito para ver isso acontecer.
A Educação vai, como todos nós sabemos,de vento em popa. Quanto à Saúde, dizem que não há necessidade de se recorrer a outros países, porque não precisamos e que tudo está a correr muito bem!
Na prática, o que acontece é o que se vê! Agora, no Centro de Saúde de Angra (tive a oportunidade de constatar isso, há dois dias atrás) a novidade é esta: não se marcam RX ao tórax, porque vão entrar em obras em Novembro! Onde ir? Quem pode, à privada. Quem não pode, fica assim! Em relação aos ECG, passa-se um caso semelhante: marcam, mas não há relatórios, porque temos que esperar que peçam autorização para que um médico que já não se encontra no activo, seja contratado para o efeito…
Só me resta dizer: “QUE BOM É SER AÇORIANO!”