sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Estado da saúde

Ao contrário do que brilha no transbordante optimismo dos discursos do Presidente do Governo Regional é pródigo, no anúncio de mais obras e nas declarações de intenção sobre os investimentos públicos para a saúde na Região, a realidade é que o Serviço Regional de Saúde (SRS) continua a enfrentar graves e sérios problemas que põem em causa a sua eficácia e qualidade.
Os Açores necessitam de um sistema de saúde que saiba gerir os seus recursos com eficiência. Sim. É verdade!
Concordo e subscrevo o princípio do rigor e da rentabilização dos dinheiros públicos mas esse princípio, como é sabido, não contraria a existência de um SRS que cumpra o direito a todos os açorianos o acesso à saúde e garanta os apoios condignos que são devidos aos cidadãos nas suas horas de maior carência e fragilidade.
O Governo Regional tem revelado a verdadeira extensão da sua insensibilidade social e mostrado que está mais preocupado com a satisfação dos indicadores estatísticos e financeiros do que em dar um rosto humano ao nosso sistema de saúde colocando-o, de facto, ao serviço dos açorianos.
E, a verdade é que a opção política pela subcontratação e privatização de serviços, pela criação da “Saudeaçor” e de hospitais-empresa falhou rotunda e inegavelmente.
Não é mais barato! Não é mais eficaz! Não presta um serviço de melhor qualidade!
Mas, acima de tudo, estão por resolver os problemas estruturais do SRS, seja em termos de lista de espera, seja em carência de profissionais, seja na adequação às especificidades regionais, seja o do crónico subfinanciamento deste sector social cuja competência compete em primeira instância ao Governo Regional.
Os números aí estão para o provar e, mais do que os números, existe um outro indicador seguro desta realidade: o crescente descontentamento dos açorianos com o seu SRS. Fica um exemplo, de entre outros, relacionado com a situação do apoio aos utentes do SRS que têm de ser deslocados é que é bem reveladora de uma política indigna.
É que enquanto se dá, em minha opinião muito bem, um apoio diário de 70 Euros para cada atleta que se desloque em função da realização de provas desportivas, por outro lado, atribuem-se apenas 18€ para comparticipar o alojamento de doentes quando têm de se deslocar das suas ilhas para aceder a cuidados médicos que pelas insuficiências do SRS e pelas especificidades regionais não encontram nas suas ilhas de residência. A dimensão verdadeiramente miserabilista deste apoio em nada contribuiu para minorar os gravíssimos problemas sociais, antes os acentuam, que as situações de doença grave muitas vezes causam nas famílias de menores rendimentos.
O mais chocante de toda esta situação é que, ao mesmo tempo que se mantém um apoio útil e necessário ao nível de uma paupérrima esmola, vão-se gastando milhões na contratualização de serviços com privados, desbaratando recursos sem nenhuma estratégia para resolver os problemas estruturais que o SRS enferma.
Os Açores necessitam de um SRS, moderno, bem equipado, abrangente, adequado às especificidades insulares e arquipelágicos e com apoios condignos aos cidadãos que têm de se deslocar para acederem aos serviços e cuidados médicos.
Aníbal Pires, IN Expresso das Nove, 27 de Fevereiro de 2009, Ponta Delgada

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