segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sortes ou azares

Não sendo transversal é inegável que a festa taurina está profundamente enraizada na cultura açoriana com os seus tempos, lugares e modos muito próprios.
À semelhança de outras tradições a festa taurina tem nos Açores um modo próprio de se manifestar. A Tourada à Corda é a matriz cultural e tradicional constituindo-se como a apropriação popular da “festa brava”.

As touradas de praça, seja na variante da lide a cavalo seja na lide apeada, gozam também de uma grande popularidade e constituem um património cultural e tradicional que se estende por várias das nossa ilhas e por outras regiões do nosso país e, independentemente de gostar ou não destes espectáculos respeito-os enquanto parte integrante de uma cultura e tradição seculares.
Não posso é concordar que se pretenda, ao abrigo das novas competências legislativas conferidas à Região pela revisão constitucional de 2004 e consagradas no novo Estatuto, introduzir a moda espanhola designada de “Sorte de Varas” nas corridas de praça. É isso que se vai passar esta semana na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Um grupo de 26 deputados, cumprindo a agenda política do Partido Popular Monárquico (fazendo fé em notícias publicadas na imprensa regional e nacional) subscreveu uma proposta de Decreto Legislativo Regional que tem por objectivo legalizar a “Sorte de Varas” nos Açores.
Caso venha a ser aprovada esta proposta, que não faz parte de nenhum programa ou compromisso eleitoral dos partidos com assento parlamentar mas que foi subscrita por deputados do PS, PSD, CDS e PPM, introduz-se uma variante da tourada apeada que nada tem a ver com a tradição da festa taurina nos Açores, acrescentando ao espectáculo uma prática que não adjectivo mas sobre a qual sempre direi que contraria os princípios que universalmente servem de referenciais civilizacionais, por conseguinte a introdução da “Sorte de Varas” só poderá ser considerado um retrocesso civilizacional.
Esta responsabilidade política terá de ser devidamente considerada na avaliação que os eleitores farão do trabalho parlamentar de quem votar a favor. Os deputados têm filiação partidária, foram eleitos em listas e representam projectos políticos.
Aníbal C. Pires, IN Açoriano Oriental, 11 de Maio de 2009, Ponta Delgada

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

A “arte” de tourear pode ser considerada bonita, ter grande valor artístico e/ou técnico. Porém, perde toda a legitimidade quando utiliza o sofrimento físico e psicológico dos animais para ser realizada.
Ninguém duvida de que o Homem, numa luta com as suas armas consegue ser superior a qualquer outro animal. Demonstrar isso numa luta desigual não é nobre! É estúpido!
Não há qualquer justificação moral para se causar sofrimento para fins de entretenimento. Atitudes e/ou posturas dessas revelam, na minha modesta opinião, falta de cultura, falta de educação e falta de carácter.
A violência, o sangue, a crueldade, tudo o que humilha e desrespeita a vida nunca poderá ser considerado "arte" ou "cultura". A violência é a negação da inteligência.
Muito ainda teria que dizer. Todavia, penso que a citação transcrita abaixo, só por si, diz tudo.

"Os espectáculos bárbaros e cruéis, em que o prazer dos espectadores está precisamente na contemplação do martírio e, porventura, na agonia dos animais sacrificados, em que se integram as corridas de touros, o tiro aos pombos e os combates de animais uns contra os outros, devem ser banidos de todas as sociedades com pretensão a civilizadas".

Professor Pedro José da Cunha

Beijinhos.