quinta-feira, 7 de maio de 2009

Quem pede desculpa a quem

Na passada sexta-feira comemorou-se o 35.º aniversário do Dia do Trabalhador, em liberdade. Liberdade que raiou em Abril e que o povo e os trabalhadores em Maio solenizaram exigindo o que até aí lhes tinha sido sonegado – dignidade, trabalho, direitos. Passados que são 35 anos celebrou-se Maio sob o lema “Mudar de Rumo - Dignificar os Trabalhadores, Emprego, Salário, Direitos. Agora como há 35 anos repetem-se as palavras de ordem e os trabalhadores voltam às ruas em jornadas de luta e manifestações contra as políticas de direita que arrastaram o país para uma profunda crise que, sendo do capital, vitimiza em primeiro lugar os trabalhadores.
Sobre a jornada de luta contra as políticas do Governo a comunicação social, os analistas e os escribas dizem: nada.
E porquê? Porque este ano o PS que, como sabemos, é o grande responsável pela continuação e aprofundamento das políticas desastrosas que deixaram o país à mercê das conjunturas externas resolveu enviar o candidato ao Parlamento Europeu à manifestação do 1.º de Maio em Lisboa. Ao que é sabido quem por lá estava não gostou muito e tratou de apupar Vital Moreira não respeitando o direito desta personalidade se manifestar em conjunto com os trabalhadores. Lamentável! O senhor tem todo o direito ao espaço público que como sabemos é de todos sem ser de ninguém.
Mas convenhamos o que é que Vital Moreira foi fazer à manifestação do 1.º de Maio?
Quem costuma ler o emérito constitucionalista sabe qual é a sua opinião sobre a actual situação do país, sobre os direitos dos trabalhadores, que o digam os docentes, e sobre outras conquistas de Abril, como as autonomias regionais.
Vital Moreira estava no lugar errado à hora errada, ou talvez não pois a campanha para as europeias precisava de um “empurrão” e nada melhor que uma nova “Marinha Grande” para relançar o candidato do PS para as manchetes dos noticiários, ainda que, pelo grotesco, pelo acessório, aliás como convém a quem tem de defender um projecto político para a Europa que submete, cada vez mais, Portugal aos interesses dos grupos económicos instalados no poder político por via do Partido Socialista Europeu e do Partido Popular Europeu.
Entre insultos, empurrões e outras atitudes deploráveis (deviam ter-se contido) lá saiu Vital Moreira com um sorriso nos lábios e a verborreia de “donzela ofendida”.
Sorriso de quem tinha ganho a aposta naquele passeio e ainda por cima com dois bodes expiatórios: a CGTP e o PCP.
Pois claro! Esta veio mesmo a calhar, ou não pois o caso tem contornos de ter sido pensado. Durante os dias que se seguem não há manchetes sobre a crise, sobre o caso “Freeport, sobre Tratado federalista e, como bónus, vamos cair em cima de quem nos faz frente, quem propõe alternativas, quem denuncia, quem luta, quem não desiste.
Será que alguém acredita que a CGTP e o PCP podem ser responsabilizados por um acto incontido de alguns manifestantes que, perante a presença de um representante das políticas que promovem a precariedade, o desemprego, a exclusão, a pobreza, o “lay-off” e que dão milhões de euros do erário público ao capital financeiro, reagiram de forma menos correcta e urbana.
Vital Moreira deveria calar-se e, ele sim, pedir desculpa aos trabalhadores, aos desempregados, aos excluídos, aos pobres, aos precários e a todos os que sofrem os efeitos de uma crise gerada por um modelo de desenvolvimento que ele defende e representa.
Aníbal C. Pires, IN A União, 05 de Maio de 2009, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

Este Governo é pródigo em atribuir culpas. Tudo o que se passa de mau é ou foi culpa dos papões dos comunistas
Desde quase o início do mandato legislativo que José Sócrates e os seus ministros têm vindo, de forma sistemática, a atacar toda e qualquer actividade sindical deste país, considerando-a como uma espécie de braço artilhado do PCP.
Mostrando, desde que o "fulgor" da sua liderança começou a ficar ensombrado, algum embaraço em lidar com a crítica, José Sócrates tem vindo a acusar os comunistas de tudo o que é contestação à sua liderança governamental.
São vários e numerosos os exemplos.
Quem não se recorda da primeira grande manifestação dos professores? Cem mil nas ruas de Lisboa, protestando contra as políticas educativas do Governo. Quem mobilizou tanta gente? De acordo com José Sócrates, foi a máquina partidária comunista, que tudo queria fazer para derrubar a ministra da Educação. Tal como ocorreu no segundo grande protesto dos docentes, quando cerca de 120 mil professores terão regressado a Lisboa.
O último grande caso verificou-se com os lamentáveis incidentes do 1.º de Maio e as agressões e insultos a Vital Moreira.
Qual a atitude do PS? Exigiu um pedido de desculpas, por parte do PCP!
Agora, pergunto eu: será que o PS (e por que não o primeiro-ministro e o secretário-geral socialista?), também vai assumir a responsabilidade por crianças terem sido usadas com o Magalhães, num tempo de antena do partido?
Onde estão as desculpas de José Sócrates por ter prometido que não aumentaria os impostos?
Onde estão as desculpas por ter prometido a criação de 150 mil postos de trabalho?
Onde estão as desculpas por ter enganado descaradamente os eleitores portugueses? E … e … e …

“Não importa o que os outros fazem de nós, mas o que nós fazemos do que de nós fazem.”
Sartre, Jean-Paul

Beijinhos.