quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Continuamos em diferido

A educação e as políticas educativas adoptadas pelos governos de Carlos César e José Sócrates executadas por protagonistas que, quer num caso, quer noutro, foram substituídos no início das presentes legislaturas procurando induzir a ideia de uma mudança de paradigma. Houve quem acreditasse que sim e tivesse concedido um período probatório, também conhecido por estado de graça, a Lina Mendes e Isabel Alçada mas, cedo se verificou que afinal nada tinha mudado. A operação foi de simples cosmética pois nem a esfíngica Secretária nem a finória Ministra possuem requisitos intrínsecos para se afirmarem dentro dos governos onde regras são impostas pelos “chefe” e, se os anteriores titulares da pasta da Educação, na Região e na República, eram possuidores de forte personalidade – num caso afável e aparentemente dialogante, noutro granítica e incapaz de cogitar estratégias que, ao menos se parecessem como uma espécie de diálogo com os seus interlocutores -; personalidade que lhes permitiu construir imagens junto da opinião pública regional e nacional de protagonistas da reforma que impuseram no sistema educativo.
Lina Mendes e Isabel Alçada constituem-se, assim, como meros acessórios de governos cujas políticas educativas estão a contribuir para a perpetuação do atraso cultural e da desvalorização do papel da educação que caracteriza o povo português, herança de 48 anos de ditadura mas ainda com efeitos bem visíveis na Região, no País e na diáspora, atente-se aos estudos feitos junto das comunidades portuguesas no estrangeiro sobre os percursos escolares dos jovens descendentes de imigrantes.
Se é verdade que a qualificação académica e profissional não é, por si só, suficiente para debelar os efeitos da crise em que Portugal e o Mundo mergulharam, não é menos verdade que quando falamos de emprego, ou do seu contrário, se constata que os cidadãos possuidores de maiores qualificações são os menos vulneráveis.
O ano escolar iniciou-se esta semana com a renovação das críticas dos educadores e professores e dos seus sindicatos a quem cabe, por direito próprio, fazer tais pronúncias sobre o que consideram ser mais perverso no sistema educativo (regional e nacional), um direito que também assiste a qualquer cidadão.
No território continental e a fazer fé nas declarações de Rodrigo Queiroz e Melo, director executivo da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, à comunicação social e cito: - "Há famílias com problemas de desemprego de um dos membros do agregado e não conseguem manter os seus filhos no ensino particular e cooperativo"; por outro lado afirma, Álvaro Almeida dos Santos presidente do Conselho de Escolas (ensino público), e passo a citar: - "Há, de facto, uma maior procura no ensino público e o que é necessário, na minha perspectiva, é estabelecer um trabalho efectivo em rede, que permita que as escolas encontrem as soluções".
A realidade é que há crianças que não têm lugar em nenhuma das escolas pretendidas e há também, muitas outras, que ficaram colocadas muito longe do seu local de residência, isto tudo porque a subida na procura das escolas públicas fez esgotar as vagas.
Por cá foi inaugurado o Colégio do Castanheiro, iniciativa privada considerada de elevado interesse público e, por conseguinte financiada com dinheiros públicos.
Não é novidade que os efeitos positivos ou negativos que ocorrem fora da Região chegam aqui com algum atraso, isto apesar dos avanços tecnológicos que se verificam no acesso à comunicação e informação, este é apenas mais um exemplo de que continuamos em diferido.
Ponta Delgada, 13 de Setembro de 2010

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de Setembro de 2010, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Maria Brandão disse...

Muito em diferido...o que dá sempre jeito para melhor controlar a carneiragem :/