Os tempos conturbados que vivemos têm uma vantagem significativa: são tempos de clarificação.
O desmoronar do sistema financeiro internacional e a crise que se abateu, de forma aparentemente súbita e avassaladora, sobre o nosso País e sobre a nossa Região marcam, clara e inegavelmente, o fim de um longo ciclo de ilusões.
Caiu a ilusão da infalibilidade dos mercados que, assim nos afirmavam os nossos governantes, nos conduziriam inevitável e deterministicamente à maior das prosperidades possíveis e à mais justa distribuição da riqueza.
Caiu a ilusão do crescimento económico à base do aumento descontrolado do endividamento, desmantelando a base produtiva real do país, estrangulando a produção nacional.
Caiu a ilusão do nosso supostamente sólido sistema bancário e financeiro, que se desmora como um castelo de cartas perante a desconfiança dos emprestadores estrangeiros.
Cai, com estrondo, a sempre apregoada solidariedade europeia que, de ajuda e incentivo ao desenvolvimento do continente que deveria ser, se converte em mero garrote monetarista colonial, ao serviço das grandes potências.
Para os que ainda tinham dúvidas, a realidade da pobreza, do desemprego, do crescimento das desigualdades, do aumento da dependência externa e do endividamento, interromperam, definitivamente, a longa fantasia em que tentaram mergulhar os portugueses.
É tempo de clarificações.
Porque estão agora dolosamente às claras as duas caras do PS e do PSD Açores que tentam esconder os prejuízos que causam aos açorianos, lamentando e tentando minimizar o que eles próprios propuseram e subscreveram e aprovaram na República.
Muitos dos problemas que vão crescer, dos obstáculos ao desenvolvimento que vão aumentar, muito do sofrimento que se vai agravar se deve, de forma directa, às medidas tomadas pelo Governo da República, consagradas no Orçamento de Estado que o PS e o PSD viabilizaram.
Enquanto discursam no Faial sobre desenvolvimento, aprovam em Lisboa a recessão! Não lhes resta por isso, já, qualquer sombra onde ocultem a duplicidade e a hipocrisia política que praticam. Isso está clarificado.
Mas esta crise serve também para mostrar a escassa protecção de que gozamos face às conjunturas externas desfavoráveis porque, afinal, a tal crise que chegaria mais tarde aos Açores e se iria embora mais cedo parece ser, por cá, mais funda e com efeitos mais prolongados.
Os baixos salários – ainda mais baixos nos Açores; A pobreza e desigualdade – que se cava mais profunda e com ainda menor esperança nos Açores; O desemprego – que cresce muito mais nos Açores; As baixas qualificações – que são o lugar-comum dos trabalhadores açorianos; A paralisação da actividade e do investimento.
Esta semana discute-se na ALRAA o futuro próximo da Região e, pelo sentido das propostas apresentadas pelos diferentes partidos das oposições e a sua aceitação, ou não, pelo partido maioritário, é também um momento de clarificação.
Horta, 23 de Novembro de 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário