quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Uma mulher na presidência

Dilma Rousseff, uma mulher na Presidência do Brasil. No caso brasileiro a primeira mulher a ocupar o cargo o que, em si mesmo, já é motivo de interesse pois apesar da igualdade de género consagrada legalmente estamos, no Brasil e na generalidade dos países ocidentais, muito longe da igualdade de facto, aliás a lei da paridade é, ao fim e ao cabo, o reconhecimento de que é necessária uma ajuda extra para garantir que as mulheres participem em igualdade com os homens na vida política. Mas não é tanto pelas questões de género que trouxe Dilma Rousseff para esta reflexão e partilha semanal com os leitores, embora a eleição de uma mulher para um tão alto cargo seja sempre um passo mais a caminho da tão almejada igualdade de género, a presidente eleita do Brasil é uma mulher mas, não é uma mulher qualquer, quer pelo seu passado de luta, quer pelo projecto político que herdou de Lula da Silva e que a partir de Janeiro de 2011 vai protagonizar mas, sobretudo por aquilo que pode trazer de novo à caminhada iniciada há 10 anos pelo operário que se tornou Presidente da República Federativa do Brasil.
Lula da Silva transformou o Brasil num país mais justo mas onde ainda subsistem profundas assimetrias sociais e económicas, impôs respeito ao vizinho do Norte e cooperou com os vizinhos do Sul, afirmou-se na cena internacional, não só como uma potência económica, mas também como um activo parceiro promotor da paz e da cooperação.
A sua sucessora herda um importante e reconhecido património político com o qual está comprometida e que conhece muito bem pois fez parte da equipa que o concebeu e concretizou mas, considerando o seu primeiro discurso, após a eleição, Dilma parece querer ir para além da mera gestão da sua herança política. Não é despiciente que a presidente eleita tenha referido no seu discurso de vitória que assumia como prioridade a erradicação da miséria e que contava com o envolvimento dos movimentos sociais para atingir esse objectivo.
As palavras de Dilma não deixam dúvidas quanto aos contornos do compromisso ao afirmar: “Ressalto, entretanto, que essa ambiciosa meta não será realizada apenas pela vontade do Governo. Essa meta é um chamado à nação. É preciso o apoio de todos para superar esse abismo que nos separa de ser uma nação desenvolvida”.
Se este compromisso comprova que Dilma pretende aprofundar o projecto político que tem vindo a transformar o Brasil, o facto de convocar os movimentos sociais demonstra, por outro lado, que tem a profunda consciência das dificuldades que vai enfrentar e da necessidade de manter alianças com as forças políticas e sociais que podem cooperar com o seu governo para a auxiliar a cumprir o compromisso assumido.
Dilma Rousseff tem noção que a atitude expectante que os movimentos sociais adoptaram após a primeira eleição de Lula, aguardando que o governo respondesse positivamente aos compromissos, dificultou a acção governativa que naturalmente se viu a braços com pressões da classe dominante.
O sucesso de Dilma depende, assim, da mobilização e da pressão política permanente dos movimentos sociais e foi isso, justamente, que a presidente eleita pediu, desde logo, às forças políticas e sociais que a apoiaram na campanha eleitoral, mas também a todos os brasileiros que estão dispostos a aprofundar as importantes mudanças sociais e económicas que se verificaram na última década e que constituem directa e indirectamente uma imensa maioria.
Ponta Delgada, 01 de Novembro de 2010

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 03 de Novembro de 2010, Angra do Heroísmo

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