Angela Merkel declarou recentemente que “Se o euro falhar, a Europa falhará.” A frase potencialmente histórica da Chanceler Alemã ecoou com estrondo nos corredores do poder Europeu.
Angela Merkel resume desta forma toda a preocupação dos que vêm no projecto europeu apenas a criação de um bloco monetário que lhes permita a ampliação dos seus mercados e os defenda contra os ventos da crise que assolam todas as economias do planeta.
Ao colocar a união monetária como o único objectivo válido da construção europeia, Angela Merkel revela a verdadeira face da política que tem norteado UE. E, essa política, resume-se à defesa da estabilidade cambial, baseada no valor potencial dos mercados do conjunto dos países membros, e da livre circulação de capitais e mercadorias, de que se alimentam as grandes empresas dos países mais poderosos.
Reduzir o processo de construção europeia à questão monetária é passar ao lado dos grandes desígnios que inspiraram os fundadores da UE: a paz, a cooperação entre os povos, a defesa da democracia e a coesão social. A União Monetária e Económica deveria ser um instrumento para servir esses objectivos grandiosos e não um fim em si mesmo.
É porque os problemas que a UE vive neste momento derivam, justamente do afastamento desses objectivos e da criação de várias Europas, a várias velocidades, igualmente sujeitas a uma cega ditadura orçamental que não leva em conta os seus graus de desenvolvimento ou das suas dificuldades específicas.
O processo de integração falha quando se cava cada vez mais o fosso entre países ricos e países pobres. O processo de integração falha quando os estados membros deixam de ter a liberdade de definir as vias para o seu próprio desenvolvimento, sendo sujeitos a uma ditadura de mercado aberto que lhes impõem um determinado modelo económico e social. O processo de integração falha quando, cada vez mais, há uma franja de países que trabalha apenas para continuar a pagar os lucros fabulosos dos grandes grupos económicos. O processo de integração falha quando o autoritarismo dos poderosos se começa a tentar sobrepor ao diálogo democrático entre parceiros livres e soberanos.
Aprisionados que estão na sua redoma ideológica, os políticos liberais do Partido Popular Europeu e do Partido Socialista Europeu, não conseguem já, sequer, conceber outra forma de fazer Europa que não seja a da mera exploração desenfreada dos mercados e da acumulação de capital. Não entendem que há muito mais Europa para lá do Euro.
Horta, 16 de Novembro de 2010
Aníbal Pires, In Diário Insular, 17 de Novembro de 2010, Angra do Heroísmo
Sem comentários:
Enviar um comentário