quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Para que os resignados se indignem

Podem crer, eu esforço-me e prometo a mim mesmo: – Esta semana não vou falar da crise, nem dos perigos que ela representa para a democracia e para o futuro dos meus filhos e netos.
Sento-me e olho para a folha em branco e... Não! Não posso deixar de o fazer, não posso deixar de dar um contributo, um pequeno contributo que seja, para que os resignados se indignem e se juntem aos 300 mil que encheram o “Terreiro do Povo”, se juntem aos povos que na Europa e no Mundo lutam contra a voragem do capitalismo, lutam pela democracia, lutam contra a ditadura dos mercados.
Tenho consciência plena do que tudo isto significa e passar-lhe ao lado sem utilizar todas as armas seria, assim, como se estivesses a ser cúmplice e a trair o meu povo, não o fazer seria trair todo o percurso de lutas da humanidade para se libertar da tirania e da indignidade. Um percurso onde ainda falta muito caminho para andar e muitas lutas para travar mas... vamos (íamos) caminhando.
Já todos percebemos e até comentamos que aquilo que a Alemanha não conseguiu pela força das armas está a consegui-lo pela via pacífica. Pois bem, então esperamos o quê para nos revoltarmos perante esta imposição que, não sendo bélica, é ilegítima e configura uma agressão externa. Claro que não é só a Alemanha, ou melhor, não é a Alemanha, são as corporações e oligopólios financeiros os verdadeiros responsáveis, como o foram nos conflitos que a Alemanha protagonizou na primeira metade do século XX.
Tudo isto se pode resumir nesta frase: “Se os povos da Europa não se levantarem, os bancos trarão o fascismo de volta”. As palavras são do compositor Mikis Theodorakis e foram proferidas recentemente.
Não estou a dramatizar a situação e muito menos a ser piegas e, também não me parece que o compositor grego o estivesse a ser. Estou apenas a ser realista. A democracia não funciona, a vontade dos povos não é respeitada, estamos a ser desprovidos da liberdade e, a cada nova imposição da sacra trindade (FMI, BCE e UE) ficamos mais pobres e lá se vai mais um pouco da soberania nacional.
Não podemos continuar a tolerar que a crise financeira seja resolvida com o empobrecimento dos cidadãos, com o aumento da carga fiscal, com a privatização dos setores sociais do estado.
Não nos podemos resignar. As agências de notação reforçam o seu poder na resignação dos povos. Enquanto escrevia este texto chegou a notícia – “Moody’s volta a atacar”. E o ataque consubstancia-se no seguinte: “A agência de notação financeira Moody's baixou esta segunda-feira a notação de Portugal, Espanha, Itália, Eslováquia, Eslovénia e Malta. Em comunicado, a Moody's anuncia ainda que se prepara para rever em baixa a notação máxima atribuída à França, Inglaterra e Áustria.”
A propósito, alguém se lembra da crise da Islândia!? Pois é! As corporações mediáticas não nos têm dado conta de como tem evoluído a situação islandesa, não vá este povo servir de inspiração a outros, o que a acontecer seria uma verdadeira chatice para os sacrossantos mercados e para os seus fiéis seguidores.
Horta, 13 de fevereiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 15 de fevereiro de 2012, Angra do Heroísmo

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