segunda-feira, 29 de abril de 2013

Há um oceano que nos une


Antes de iniciar este texto divulguei, nas redes sociais, a opinião de Manuel Leal publicada a semana passada na coluna que com regularidade publica no Expresso das Nove. O texto veio de New Jersey, onde o Manuel vive, a distância não impede este e muitos outros concidadãos nossos de acompanharem, de perto, a situação social, económica e política que se vive na Região e no País. “A insegurança na supressão da opinião divergente”. Foi assim que Manuel Leal intitulou o texto a que me tenho vindo a referir. O texto é, antes de mais, um gesto de solidariedade, é um abraço do tamanho do Atlântico e eu, quero agradecer publicamente o amplexo solidário do Manuel Leal, Bem hajas Manuel. Mas quero também afirmar que na divergência de opinião que temos sobre alguns assuntos conseguimos, ainda assim, estabelecer pontes que o oceano não consegue destruir e que vão para lá da solidariedade com que o Manuel me brindou. 
Conheci pessoalmente o Manuel ainda nem sequer fez um ano. Desse fugaz encontro nas Furnas e de um outro no Largo do Infante, na cidade da Horta ficou a simpatia e a admiração pelo Manuel, pela sua história de vida, pela sua frontalidade, pelo seu apego à família e à terra que o viu nascer. Estamos por aí Manuel, uma vez mais bem hajas pelo teu gesto.
Já agora deixo-te parte de uma reflexão que escrevi no limiar do século XXI, era assim como uma espécie de ensaio sobre a construção da “Identidade Regional”, fundado na análise de quatro premissas, a geografia, os movimentos autonomistas, a religiosidade e, a emigração, o excerto foca, ainda que superficialmente, o contributo dos emigrantes para a construção da identidade regional. Depois diz-me o que pensas sobre o tema.
(…) Tal como as Festas do Espírito Santo o fenómeno da emigração atravessa toda a sociedade açoriana, todas as ilhas, todas as freguesias viram os seus filhos partir na procura da concretização de sonhos e de melhores condições de vida.
A emigração açoriana que em determinada altura chegou a assumir características de autêntico êxodo, entre 1961 e 1991 emigraram mais de 100 000 açorianos.
Este fenómeno permitiu a formação de grandes comunidades açorianas no estrangeiro, particularmente significativas nos estados Unidos e no Canadá, onde a saudade da terra, a mesma origem geográfica e alguns aspetos culturais, apesar de oriundos de todas as ilhas do arquipélago, teve um efeito aglutinador que proporcionou um melhor conhecimento da terra distante e aproximou-os à volta de um sentimento comum: - ser açoriano.
A dispersão territorial do arquipélago que impedia que açorianos nascidos em diferentes ilhas se conhecessem e se identificassem com uma identidade regional é agora proporcionada longe da terra natal. 
Este facto leva-nos a afirmar que a identidade regional (o ser açoriano em toda a sua dimensão) foi, em parte, construída fora das suas fronteiras, isto é, germinou nas comunidades e transferiu-se gradualmente para a região, contribuindo para a construção da identidade regional.
A emigração constitui assim, um dos aspetos, paralelamente com os anseios de autonomia e a religiosidade, manifestada de forma ímpar pelo culto do Divino Espírito Santo, marcantes na construção da identidade regional. (…)
Talvez seja um pouco especulativo, que me dizes caro amigo.
Vamo-nos encontrando por aí Manuel, haja saúde. 
Um abraço,
Ponta Delgada, 28 de Abril de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 29 de Abril de 2013, Ponta Delgada

Sem comentários: