quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Nada de novo

Foto - Madalena Pires
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA), na passada semana aprovou, apenas com os votos favoráveis do PS, o Plano de Investimentos e o Orçamento para 2016. O PS aprovou meia dúzia de propostas de alteração, das muitas dezenas de propostas apresentadas pelos cinco partidos da oposição. Até parece que o PS é um partido que, mesmo sem disso necessitar, está aberto a acolher as propostas e a dialogar com os partidos da oposição. Mas só parece.
O Plano e Orçamento consubstanciam as opções e a estratégia do governo regional, apoiado pela maioria absoluta do PS na ALRAA, estes dois instrumentos continuam a não dar respostas aos grandes problemas da nossa Região. Antes pelo contrário são o reflexo da teimosia e da cegueira políticas, agravadas pela ânsia de perpetuação no poder suportada por maiorias absolutas acríticas como as que têm caracterizado o PS nos Açores.
Assim, estes documentos, em vez de desenhar uma política, tentam esconder uma realidade. Em vez de procurarem soluções, insistem nos erros. Ao invés de resolver adiam ou escondem os problemas. Em vez de dar resposta aos anseios, tentam calar os descontentamentos. Em vez de serem ferramentas para governar, são instrumentos para angariar apoios eleitorais.
O Plano e o Orçamento são também a continuidade de uma política que teve e tem efeitos destrutivos na nossa Região. A política que falhou em desenvolver o nosso sector produtivo e que não o conseguiu proteger das flutuações internacionais e que colocou os agricultores e pescadores açorianos à beira de um ataque de nervos por incapacidade de satisfazer compromissos e encargos com o financiamento dos seus investimentos, devido à queda do rendimento do seu trabalho. A política que tudo fez e tudo faz para tornar mais barato o custo do trabalho, mais baixas as remunerações dos trabalhadores, mais precários e com menos direitos os seus vínculos.
A política que transformou o trabalho, de direito humano básico, em benesse supostamente caritativa, dando aos açorianos que tiveram a desdita de ficar sem emprego o “privilégio” de serem explorados à vontade, de trabalharem sem quaisquer direitos nem regalias, a troco de salários miseráveis.
Esta é a política que esqueceu, ou guardou na gaveta, o primeiro dos objetivos da nossa Autonomia, a coesão social e territorial dos Açores. E, assim, continua a centralizar medidas e investimentos onde for preciso ganhar votos ou consolidar clientelas, de um lado, e a contribuir para o esvaziamento e a agravar a desertificação, por outro, deixando-nos com um arquipélago a várias velocidades, onde o fosso de desenvolvimento socioeconómico é cada vez mais fundo e onde os contrastes, também sociais, são cada vez mais gritantes.
Confesso que tinha esperança, talvez por estarmos à entrada de um ano de eleições regionais, de um vislumbre de uma inversão da política seguida até aqui, de um vestígio de mudança de atitude, de uma centelha um rasgo de imaginação e coragem política para reconhecer erros e fazer diferente. Mas não, a expetativa que tinha foi uma vez mais defraudada. Nada disso se encontra nos documentos aprovados. Apenas a velha política deste Governo, para mal dos Açores e dos açorianos.
Ponta Delgada, 01 de Dezembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 02 de Dezembro de 2015

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