sábado, 26 de novembro de 2016

Da memória, de Cuba e de Fidel


(*) Tenho alguns, poucos, textos escritos e publicados sobre Cuba. Este é um deles.
Foi escrito em 2006 na sequência da doença que, à data, afastou Fidel de Castro das responsabilidades que então detinha, quer no Partido Comunista de Cuba, quer na estrutura do Estado cubano, e das aleivosidades que na altura se disseram e escreveram sobre o fim da revolução cubana.

Abutres
A longevidade de Fidel Castro Ruz e da revolução cubana tem sido, desde 1959, uma preocupação para quem administra e dirige os Estados Unidos e para quem olha para Cuba como exemplo “subversivo” de poder popular. Talvez por isso tenham tentado, por várias vezes e socorrendo-se de vários expedientes, por fim à vida do comandante, como é carinhosamente referenciado pelos cubanos, e às transformações que naquela ilha das Caraíbas foram acontecendo nos últimos 47 anos.
Fidel Castro, que comemora este ano o seu octogésimo  aniversário, foi recentemente sujeito a uma delicada intervenção cirúrgica que o afastou, transitoriamente, do exercício dos cargos que detém na estrutura do estado cubano. A notícia da sua doença e a perspetiva do seu eventual falecimento fez levantar e esvoaçar um conhecido bando de abutres de Miami e Washington.
Fazer depender da presença física de Fidel de Castro a sobrevivência da revolução cubana é, em minha opinião, um erro crasso.
Ao histerismo da administração estado-unidense e do grupo de terroristas sedeados em Miami respondeu a serenidade do povo cubano e a voz do bispo de Havana que transmitiu aquele que é, sem dúvida, o sentimento generalizado que se vive em Cuba.
As ridículas e condenáveis declarações de George W. Bush, que já teve o cuidado de corrigir, atestam bem o incómodo que Cuba causa ao seu vizinho do Norte.
Escolher o caminho do socialismo, resistir ao brutal bloqueio económico e aos atentados terroristas e, ainda assim, continuar a exportar solidariedade um pouco por todo o Mundo não é, nem nunca foi, aceitável pelos Estados Unidos que fazem da guerra o seu mais importante segmento de negócio e para quem a cooperação é um ato desconhecido.
Com o subversivo exemplo, mesmo à soleira da porta, de um regime político ancorado no poder popular, que contraria as teses do fim da história e das ideologias, que apresenta um elevado índice de desenvolvimento humano (segundo o PNUD) e um crescimento económico assinalável, facilmente, se percebe que a potência imperial e de referência do neoliberalismo se desdobre em intenções e ações para que o vizinho deixe de ser a “ovelha negra” e regresse ao rebanho de onde se tresmalhou à 47 anos
O inevitável desaparecimento físico de Fidel, a lei natural da vida mais cedo ou mais tarde a isso conduz, representará desde logo uma grande perda para Cuba, mas também para a América latina e para o Mundo. 
Mas a história universal há muito lhe reserva a eternidade e tal como outros símbolos do nosso tempo o seu exemplo, coragem, inteligência e determinação vão perdurar para além dos abutres.

Ponta Delgada, 10 de Agosto de 2006


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