domingo, 30 de março de 2008

Periferias

Ver o “estado da obra”, anunciar “nova obra”, cerimónias de colocação de “primeiras pedras” e, naturalmente, inaugurar “obra feita”. A agenda do governo regional mais parece o diário de um gabinete projectos ou, de uma empresa de obras públicas. Não me espanta, aliás ficaria surpreendido era se não houvesse obra que se visse na fase final de uma legislatura marcada pelo desafogo financeiro das contas regionais.
É necessário mostrar obra feita para que os eleitores não duvidem da capacidade empreendedora deste governo. Mas, não sei se será necessário tanto circo. As obras do governo regional, naturalmente, pela necessidade de serem executadas e corresponderem ao interesse regional mas, também pelo sobredimensionamento, pela sua anedótica originalidade, outras até pela sua inutilidade, são bem visíveis aos olhos dos potenciais eleitores. E digamos, em abono da verdade, que governar com betão e asfalto num contexto de desafogo financeiro não é obra, até porque alguma da obra feita e anunciada nem sempre corresponde às necessidades estruturais que afectam o viver insular e arquipelágico, nem sempre são potenciadores da economia regional, nem sempre atendem às necessidades das populações ou, ainda, nem sempre têm em devida conta o desígnio autonómico de desenvolver a Região harmoniosamente.
A ilha da Graciosa é um exemplo paradigmático do que deixei dito. A esta como outras ilhas da periferia açoriana falta a principal obra. A obra que evite o declínio populacional, que adeqúe os transportes marítimos e aéreos de passageiros e mercadorias às necessidades da população e da economia local, a obra que coloque a Graciosa e as restantes “ilhas da coesão” no caminho do desenvolvimento harmonioso e com futuro. Essa é a obra está por fazer! Não está feita, nem se vislumbra qualquer sinal que haja intenção de a vir a concretizar. Mas se isto é verdade para as ilhas da periferia açoriana é igualmente verdade para alguns dos concelhos da Ilha de S. Miguel.
A Graciosa, onde estive recentemente, motivou este texto e, é com a Graciosa e com o seu futuro que vou terminar. Se muitos dos problemas que afectam esta ilha são comuns a outras há um que particularmente a afecta – a escassez de água potável. Sobre este grave problema o governo regional diz nada mas, entretanto anunciou, de entre outras, uma obra que configura mais um atentado ambiental e ao património natural e que em nada contribuirá para que se inverta o actual ciclo de declínio que actualmente a caracteriza.
Angra do Heroísmo, 20 de Março de 2008

Ausência

Ausência para lá do que era esperado.
Pela viagem que se prolongou mais uma noite para além do previsto devido ao mau tempo que condicionou a operacionalidade do voo que me trazia do Pico a S. Miguel na passada quinta feira mas, sobretudo por uma virose que me deixou inerte já lá vão 3 dias.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Em viagem por S. Jorge, Faial e Pico

Depois da Terceira e da Graciosa (onde a imagem foi colhida) eis-me de novo no cais da partida.
As ilhas de S. Jorge, Faial e Pico constituem um dos espaços mais belos deste arquipélago Atlântico. Nos próximos dias terei o privilégio de, uma vez mais, as calcorrear.
Fruindo momentos, paisagens únicas!
Saboreando o queijo da ilha, em S. Jorge, o caldo de peixe no Pico e um gin tónico no mítico Peter, ali mesmo à entrada do porto da Horta, na ilha do Faial.



Por ali,
onde o tempo
dá tempo
ao tempo
há tempo
de conversar com as gentes
de tudo
de nada
do futuro
do Espírito Santo
há tempo
de ouvir estórias
do tempo
que passou
do tempo
que há-de vir
Por ali
há tempo
de conversar do tempo
apenas do tempo

sábado, 22 de março de 2008

Insularidades

Partir querendo ficar
Chegar para de novo partir
Na ilha há um cais
No ilhéu mora a saudade
Do mar e do céu
Fundidos no horizonte
Para além da ilha
Outras ilhas
De saudade
Do tranquilo verde,
do imenso azul,
do futuro no alvorecer renovado em cada madrugada

sexta-feira, 21 de março de 2008

Como a cortiça… sempre à tona

Não deixa de ser interessante, embora pouco abonatório para quem o pratica, verificar como a opinião de alguns actores políticos se molda às conjunturas do calendário político eleitoral e à casualidade do mercado.
Há algum tempo atrás, pouco mais de um ano se tanto, apenas uma voz reclamava para os Açores a possibilidade de produzir mais leite. Produzir leite em função da capacidade instalada, ou seja, sem aumento do encabeçamento nem da área de exploração. E as vozes insurgiam-se contra quem sempre tem vindo a defender este princípio.
Não. Mais leite, não! – Parecia um coro afinado com o Secretário Regional da Agricultura e Florestas, tal maestro, com a batuta a reger os deputados regionais e europeus, os fundamentalistas do betão e outros que tal.



Na altura, Noé Rodrigues chegou mesmo a afirmar, em declarações à comunicação social regional, que essas exigências poderiam resultar em prejuízo dos produtores de leite.
Pois bem! Nos últimos meses e no presente “aqui d’el-rei” que é preciso mais quota. O coro continua a ter o mesmo maestro e a mesma “prima donna” que antes clamavam pelo cumprimento das orientações comunitárias e pelo silêncio da reivindicação, suportada ao abrigo do estatuto das ultraperiferias.
O acaso do mercado (talvez não seja tão acaso assim) ditou a necessidade de se aumentar a produção de leite, pois verificou-se um défice deste e de outros produtos alimentares junto dos consumidores. A indústria aumentou o preço à produção e agora é ver o coro dos compadres, em bicos de pés, a marcar posição em defesa do mais importante sector da economia produtiva regional. Ou não fosse este um ano eleitoral.
Sempre na crista da onda, a boiar ao sabor das casualidades e das ocasiões. Há quem assim seja, moldável, flexível e desprovido de respeito para com os compromissos que uma vez são, outras vezes nem por isso.
A memória dos agricultores não será assim tão curta e em Outubro a justiça poderá ser feita, penalizando quem se mantém à tona como a cortiça, numa atitude parasitária dos momentos.
Justiça pode ser feita, premiando quem mais coerentemente tem defendido a economia produtiva açoriana e em particular a agropecuária, independentemente da conjuntura político eleitoral.
Ponta Delgada, 13 de Março de 2008

De regresso para em breve partir...

Um ciclo de declínio populacional afecta algumas das ilhas do arquipélago dos Açores. A ilha da Graciosa é uma de entre outras.
A Graciosa mais do que betão e asfalto necessita de políticas públicas que fixem e captem população, necessita que os transportes marítimos e aéreos de mercadorias e passageiros sejam adequados às necessidades dos cidadãos e da economia local.
Voltarei à Graciosa!
Com mais algumas notas e imagens.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A caminho da Graciosa e da Terceira

Os próximos dias vou dedicá-los a visitar as Ilhas da Graciosa e da Terceira.
Esta breve viagem enquadra-se numa da vertentes da minha actividade - a intervenção política.
Mas como nem só de política vive o homem terei oportunidade e tempo para rever lugares, amigos, sabores e sons.
Estender os olhares sobre as terras e as gentes, registar instantes em notas soltas e procurar trazer na memória pedaços do mar, do céu e das gentes.

sábado, 15 de março de 2008

Há dias em que nem para uma...

Ontem não houve tempo para uma... como aqui ao lado tenho prometido.
Nem sempre sou dono do tempo... do meu tempo e ontem o tempo foi mesmo para a actividade cívica e política e não sobrou para deixar aqui a prometida foto por dia.
Ficam duas...
E para amanhã talvez seja um daqueles raros dias em que conseguirei ir até à três.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Uma de entre outras possíveis…

O ministro Santos Silva abriu a boca para insultar a memória de um povo!
O ministro Santos Silva verbalizou insultos porque lhe faltam argumentos!
Fica aqui uma resposta escrita pela mão de António Vilarigues!
Outras são possíveis!
Fica, por ora, apenas esta.
Aníbal Pires



Carta Aberta ao Senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares
Exmº Senhor Ministro Augusto Santos Silva,
Venho por este meio informá-lo que me sinto insultado pelas suas afirmações proferidas ontem à noite, em Chaves e dadas hoje à estampa na comunicação social escrita.
Foi o comunista do meu pai, Sérgio Vilarigues, que esteve preso 7 anos (dos 19 aos 26) no Aljube, em Peniche, em Angra e no campo de concentração do Tarrafal para onde foi enviado já com a pena terminada. Que foi libertado por «amnistia» em 1940, quatro anos depois de ter terminado a pena. Que passou 32 anos na clandestinidade no interior do país, o que constitui um recorde europeu. Não foi ao seu pai, e ainda bem, que tal sucedeu.
Foi a comunista da minha mãe, Maria Alda Nogueira, que, estando literalmente de malas feitas para ir trabalhar em França com a equipa de Irène Joliot-Curie, pegou nas mesmas malas e passou à clandestinidade em 1949. Que presa em 1958 passou 9 anos e 2 meses nos calabouços fascistas. Que durante todo esse período o único contacto físico próximo que teve com o filho (dos 5 aos 15 anos) foi de 3 horas por ano (!!!). Que, sublinhe-se, foi condecorada pelo Presidente da República Mário Soares com a Ordem da Liberdade em 1988. Não foi à sua mãe, e ainda bem, que tal sucedeu.
Foi a mãe das minhas filhas, Lígia Calapez Gomes, quem, em 1965, com 18 anos, foi a primeira jovem legal, menor (na altura a maioridade era aos 21 anos), a ser condenada a prisão maior por motivos políticos – 3 anos em Caxias. Não foi à sua esposa, e ainda bem, que tal sucedeu.
Foi a minha filha mais velha, Sofia Gomes Vilarigues, quem até aos 2 anos e meio não soube nem o nome, nem a profissão dos pais, na clandestinidade de 1971 a 1974. Não foi à sua filha, e ainda bem, que tal sucedeu.
Fui eu, António Vilarigues, quem aos 17 anos, em Junho de 1971, passou à clandestinidade. Não foi a si, e ainda bem, que tal sucedeu.
Foi o caso do primeiro Comité Central do Partido Comunista Português eleito depois do 25 de Abril de 1974. Dos 36 membros efectivos e suplentes eleitos no VII Congresso (Extraordinário) do PCP em 20 de Outubro de 1974, apenas 4 não tinham estado presos nas masmorras fascistas. Dois tinham mais de 21 anos de prisão. Com mais de 10 anos de prisão eram 15, entre eles Álvaro Cunhal (13 anos).
São casos entre milhares de outros (Haja Memória) presos, torturados e até assassinados pelo fascismo. Para que houvesse paz, democracia e liberdade no nosso país.
Para que o senhor ministro pudesse insultar em liberdade. Falta-lhe a verticalidade destes homens e mulheres. Por isso sei que não se retratará, nem muito menos pedirá desculpas. As atitudes ficam com quem as praticam.
Penalva do Castelo, 8 de Março de 2008
António Nogueira de Matos Vilarigues

quarta-feira, 12 de março de 2008

A surpresa e a não surpresa


Sem constituir uma surpresa, o Secretário Regional da Educação e Ciência ficou surpreendido com os protestos dos educadores e professores nos Açores e, bem ao seu estilo, disse no dia 7 de Março que só compreendia os protestos de indignação dos docentes açorianos como um acto de solidariedade para com os seus colegas do continente.
Mas, para que não houvesse dúvidas, visto que Álamo Menezes não tinha percebido, no passado sábado, duas centenas e meia de educadores e professores voltaram a descer às ruas do centro histórico de Ponta Delgada e, desta vez, não se ficaram pelo silêncio e o agitar de lenços brancos. Pelo contrário, foram bem explícitos: “Está na hora, está na hora do Secretário ir embora”! Bem audível e sem margem para dúvidas. “Respeito! Respeito! Foi com esta exigência que os educadores e professores terminaram a concentração que veio a demonstrar, inequivocamente, que os protestos eram dirigidos ao Secretário Regional da Educação e Ciência, às políticas educativas regionais e à forma como este membro do governo regional exerce o poder.
Se Álamo Menezes ficou surpreendido é porque anda mal informado sobre o pulsar da Escolas. Será que o Conselho Coordenador do Ensino Público não lhe leva ao conhecimento que os educadores e professores estão descontentes!? Será que Álamo Menezes julga que compra a dignidade pessoal e profissional dos docentes com o “rebuçado” da carreira única!?
O Secretário, sendo um cidadão a quem se reconhecem qualidades, desta vez não soube ler os sinais. O Estatuto da Carreira Docente, na Região, não é o Estatuto dos professores, nem dos dirigentes sindicais, nem dos sindicatos. O documento que a maioria acrítica que suporta o governo aprovou na ALRAA é o Estatuto da Secretaria, é o Estatuto do governo regional, não é o Estatuto da Carreira Docente que os professores e os seus sindicatos desejam e propõem! Ser diferente não é sinónimo de ser adequado ou de satisfazer as necessidades e os anseios dos educadores e professores e, sobretudo, que essas diferenças contribuam para a melhoria da qualidade do ensino público e do desempenho da actividade docente.
Francamente, senhor Secretário! Não seja redutor nem demagógico, na sua análise aos protestos dos educadores e professores açorianos. A questão não é só o Estatuto mas tudo aquilo que tem vindo a ser feito e a forma como tem sido feito pela administração educativa na Região. Os docentes estão a dizer-lhe: - Basta! Já chega! Já não engana ninguém! Retire-se e respeite os profissionais da educação!
Surpreendentemente, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues não se surpreendeu com a manifestação de 100 mil professores que se concentraram e manifestaram em Lisboa exigindo a alteração das políticas educativas do governo de José Sócrates. Quando se fizeram manifestações de 25 mil professores, a Senhora Dona Maria de Lurdes Rodrigues nem sequer deu conta! Agora, era difícil esconder tanto professor e calar tantas vozes.
Mas mesmo assim, a senhora não se surpreendeu. O que será necessário para surpreender esta tétrica figura que na vida nada mais fez do que produzir algumas publicações, de entre outros estudos, sobre a temática da função social dos engenheiros? Isto é pelo menos o que consta do seu currículo de professora e investigadora no ISCTE. Quando este pesadelo “socrático” tiver o seu fim e a ministra voltar à sua actividade académica estará, por certo, munida de um grande potencial de informação para aprofundar o seu estudo sobre um certo tipo de engenheiro. O tema é aliciante e talvez fosse mais produtivo a senhora regressar à sua vida académica, pois a sociedade portuguesa tem uma necessidade urgente de compreender qual a função social deste engenheiro proveta que, por um infortúnio do destino ou investimento do poder económico, o que não deixa de ser um infortúnio, assume as funções de primeiro-ministro.

Ponta Delgada, 09 de Março de 2008

domingo, 9 de março de 2008

Surpreendido!? Os professores surpreendem o SREC


Surpreendente era Álamo Menezes não se ter surpreendido com as concentrações e manifestações de professores nos Açores.
Senhor Secretário, francamente! Não foi por solidariedade para com os colegas do continente que os educadores e professores se manifestaram nos Açores. Foi mesmo contra as políticas educativas que têm vindo a ser implementadas na Região.
Temos um Estatuto diferente!? É verdade, mas isso não é sinónimo de que seja um bom Estatuto e muito menos que os docentes estejam satisfeitos com as condições de trabalho a que são obrigados.
Aquilo não foi solidariedade coisa nenhuma!

Foi mesmo contra as políticas educativas regionais e contra os expedientes do Secretário.

Surpreendente


Surpreendentemente, a Ministra da Educação não ficou surpreendida com os 100 mil professores que ontem se manifestaram em Lisboa contra as políticas educativas do seu Ministério e do governo do eng. Pinto de Sousa.
O que será necessário para que a “dama” se surpreenda!?
O que será necessário para que o aprendiz de ditador que dá pelo nome de Pinto de Sousa, também conhecido por José Sócrates, o Engenheiro, reconheça que o país de quem ele fala é virtual e o país para quem ele governa é apenas uma parte de Portugal?

Às mulheres, hoje como em qualquer outro dia


Em jeito de homenagem fica um poema de uma para outra mulher
As duas, cada uma à sua maneira, deram importantes contributos na luta das mulheres pelos direitos cívicos, pela dignidade da condição feminina e pela justiça social.

Ponta Delgada, 08 de Março de 2008

CATARINA EUFÉMIA
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente~
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua

(Sophia de Mello Breyner Anderson)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Educadores e Professores manifestam o seu descontentamento

Ontem, pelas 21h, em Ponta Delgada mais de um milhar de educadores e professores concentraram-se na zona histórica da cidade para demonstrarem a sua indignação.
Em silêncio os docentes disseram NÃO!
Não às políticas educativas de Álamo Menezes e Maria de Lurdes Rodrigues!
Não à desvalorização da carreira docente!
Não a um modelo anacrónico de avaliação!
Basta!

No próximo sábado, dia 08/03/08, pelas 13 horas, no mesmo local, vamos voltar a demonstrar que estamos fartos de tanta ignomínia!
Eu vou porque sou professor!
E
Levo um(a) amigo(a) também!

quinta-feira, 6 de março de 2008

No 87.º Aniversário do PCP


Bem que tentaram mas o PCP está aí com uma vitalidade invejável na passagem dos 87 anos da sua fundação.

Fica aqui uma pequena homenagem ao meu Partido nas palavras de um poeta e militante comunista que, como muitos outros, dedicou a sua vida e obra à luta por um Mundo melhor. Mais justo!

Ao meu Partido

Deste-me a fraternidade para com o que não conheço
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo
Deste-me a liberdade que o solitário não tem
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos
Fizeste-me edificar sobre a realidade como sobre uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria
Tornaste-me indestrutível, porque, graças a ti, não termino em mim mesmo

Pablo Neruda

segunda-feira, 3 de março de 2008

Resignação! Não obrigado


Cada vez é mais difícil encontrar um cidadão que tenha a coragem de afirmar publicamente que é directamente responsável por Portugal ter à frente do seu governo aquela figura cinzenta, tecnocrática, mal formada (pessoal e socialmente), arrogante, autoritária e que se faz acompanhar por ministros e secretários de estado que cultivam e copiam o seu estilo (refiro-me, como é óbvio, ao eng. Pinto de Sousa, vulgo José Sócrates). Quando olhamos para eles, parece que comeram e/ou beberam alguma coisa que os perturbou tal é a verborreia produzida, ou ainda como a Ministra da Educação que parece estar permanentemente a cheirar alguma coisa de que não gosta (será o perfume do Mário Nogueira?). Por outro lado, segundo estas figuras e os seus acólitos, as manifestações que um pouco por todo o país contestam as políticas são protagonizadas pelos comunistas, como se ser comunista fosse pecado ou os comunistas fossem portadores de algum vírus maligno, argumento que, tal como na ditadura que durante meio século entorpeceu o país e os portugueses, está a ser recuperado para a democracia portuguesa. Quanto à “democracia” que o eng. Pinto de Sousa cultiva, serve-se dos mesmos “papões” e fantasmas para justificar a crescente onda de descontentamento perante a sua governação. As semelhanças com o passado começam a ser preocupantes.
Depois… Bem! Depois, vêm as sondagens precioso instrumento de governação e de agenda política imprescindível ao engenheiro, ao ausente presidente de câmara, ao… ao… ao… (não é gaguez, é mesmo dificuldade), pois nem sei como categorizar essa figura da direita portuguesa conhecida como o Paulinho dos mercados e feiras e que costuma fazer comunicados de imprensa à hora dos telejornais das TV’s. Mas as sondagens, como dizia, ao contrário de reflectirem a contestação social e política, o descrédito no governo e no vazio da oposição mediática, não, paradoxalmente não! Pelos vistos, os portugueses têm uma “costela” masoquista, gostam de sofrer e de quem os fustigue com a chibata do poder autoritário. Confesso que não acredito nesta, embora haja quem desenvolva a teoria de que é uma das características do “ser português”!
Os estudos de opinião continuam a “retratar” uma imagem que não corresponde, por inteiro, à realidade que pulsa nas manifestações populares, nos e-mails mais sérios e mais jocosos que circulam no ciberespaço, nas conversas de café, enfim, um pouco por todo o lado e nos mais diversos suportes de comunicação.
Nas sondagens nada se altera a não ser o que convém! Ou seja, o PS continua a recolher o apoio da maioria, ainda que relativa, dos portugueses, o PSD, passado o período da “voz grossa” do novo líder, vai caindo pois o seu espaço político está ocupado pelo engenheiro, o BE cresce como cabe a qualquer consciência da maioria quando esta desce, o PCP mantém posições como convém ao poder, pois isto de dar protagonismo a quem faz oposição e propõe alternativas pode ser perigoso, e o CDS/PP perde, naturalmente, popularidade pois de popular, só mesmo o nome.
Não ponho em causa a honorabilidade dos técnicos nem os princípios científicos que enquadram estes estudos mas… deixem-me uma margem para duvidar dos resultados. É que, tal como o primeiro-ministro e os seus acólitos falam de um país que não existe, ou melhor falam apenas de uma parcela do país, também me quer parecer que as sondagens apenas “retratam” uma parte da opinião pública. Mas, mais do que especular sobre a confiabilidade das sondagens e estudos de opinião, importa olhar para os efeitos que os seus resultados provocam ou pretendem provocar na opinião pública nacional e a resignação será um dos resultados que se pretende atingir.
Mas há quem não vá em “balelas” e não se resigne! As populações em luta na defesa dos serviços de saúde públicos e os professores em defesa da Escola pública e da sua dignidade são disso um bom exemplo.
No caso da educação, tal como se verificou há pouco tempo na saúde e na cultura, os protagonistas estão à beira do fim mas, não nos deixemos iludir com a substituição dos protagonistas porque, necessário mesmo é mudar as políticas.
Resignar-me… Não, muito obrigado!

Aníbal C. Pires, Lisboa, 01 de Março de 2008

A interrupção lectiva da Páscoa segundo a DRE


Interessante! Muito curiosa esta movimentação de alunos, pais e professores sobre a duração da interrupção das actividades lectivas por altura da Páscoa (Nos Açores 1 semana, na Madeira e no continente 2 semanas).
Ridículo! Direi mesmo grotesco e lamentável o argumento da Directora Regional de Educação (DRE) na defesa da diferenciação do calendário açoriano com a Madeira e com o continente.
Interessante porque este pode ser apenas o início de outras contestações, de alunos, pais e professores à diferenciação que o Secretário Regional da Educação e Ciência (SREC) tem vindo a introduzir no sistema educativo. É que algumas diferenças, tal como esta, só se darão por elas quando produzirem os seus efeitos perversos. Mas o que torna este facto mais interessante ainda é a aliança dos pais e encarregados de educação aos alunos e docentes. Não só dá mais consistência à reivindicação (não se pode afirmar que é corporativa) mas, sobretudo constitui uma dor de cabeça para quem, como a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, acha que conquistou a população e que isso compensa uma eventual perda dos professores, embora na Região Álamo Menezes considere, pelo menos até ao momento, que tem a população, os educadores e professores “na palma da mão”. Nada mais errado! E, como referi, a esta contestação outras se seguirão. A DRE e o SREC podem-se ir preparando melhor para defenderem as suas posições pois os fundamentos agora utilizados foram deploráveis.
A professora Isabel Rodrigues, Directora Regional da Educação, ao invés de apresentar uma justificação técnica e pedagógica para nos Açores o calendário escolar ser diferente do restante território nacional argumenta com o óbvio – a Região tem competências legislativas sobre a matéria, os professores até têm um Estatuto melhor e não se trata de um período de férias mas de uma interrupção da actividade lectiva.
Tudo grandes novidades. “Valha-nos Deus”!
E depois remata com esta coisa extraordinária: “ (…) é um período muito interessante para retemperar forças mas, uma semana dá para isso.”
É de facto notável, direi mesmo espantosa a capacidade retórica e argumentativa de quem administra a educação nesta Região. Nem um motivo de ordem pedagógica, nem um motivo de ordem específica para justificar esta diferença. Espero para ver como irão justificar outras!?


Lisboa, 28 de Fevereiro de 2008

domingo, 2 de março de 2008

Referências ou estereótipos

Por estes dias, num qualquer espaço comercial, numa qualquer cidade, quando junto com a minha companheira usufruía do sossego do fim de tarde, sentaram-se comigo três “teen-agers”: um rapaz e duas raparigas. O João, meu filho mais novo, mediou a apresentação. Estavam por ali a matar o tempo que faltava para o início de uma actividade desportiva que ia decorrer ao princípio da noite. Passados os primeiros instantes, não resisti à inevitável pergunta:
- Então, meninas, o que querem ser quando forem grandes?
- Boa…! - Respondeu prontamente uma delas enquanto a outra soltava uma saudável gargalhada.
- Como!? - Retorqui, atónito com a resposta
- Boa pergunta. - Disse a jovem, esclarecendo.
- Ah! Percebo. Ainda não tomastes decisões para o futuro.
- Sim! É isso. - Confirmou a Ana, já com a face levemente rosada.
- Eu quero fazer medicina. - Disse a bem disposta Maria, rindo ainda da pronta mas inusitada resposta da colega.
Depois deste breve diálogo sobre o qual ainda se produziram algumas gargalhadas, face à insólita e espontânea mas incompleta “Boa…!”, fiquei a reflectir sobre as expectativas e dificuldades desta geração.
Geração nada e criada num tempo de exacerbada competitividade e com referências algo desvirtuadas por estereótipos de sucesso construído em imagens dum Mundo, em que o êxito está associado à capacidade de consumo, aos corpos esbeltos, ao parecer, ao ter… Mais do que ser, é importante possuir e, sobretudo, induzir sugestões de pertença ao Mundo dos individualmente bem sucedidos.
A competição pelo sucesso individual, suposto caminho para o bem-estar e qualidade de vida, deixa muitas vítimas pelo caminho e põe em causa o conforto e qualidade de vida que deve ser de todos, não apenas de alguns. Em última instância, o que está em causa é a própria sobrevivência da espécie.
A tendência imediata é a de responsabilizarmos directamente os jovens. Mas será que não foi sempre assim!? Quando jovem, ouvia os mais velhos dizerem: “ (…) no meu tempo não era nada disto (…) ”. É bem possível que também os meus pais ouvissem aos seus serem-lhes atribuídos comportamentos menos correctos e se especulasse sobre a capacidade de se tornarem adultos realizados e responsáveis. Não tenho dúvidas que sempre assim foi. Mas esse é o caminho simplista de quem não entende que os comportamentos (dos jovens e dos adultos) são condicionados por factores que vão muito para além da imaturidade e despreocupação que caracteriza os jovens humanos.
A raiz, não a quadrada mas a génese do problema, é extrínseca à condição de se ser ou não jovem.
A raiz é de ordem cultural e de domínio.
A promoção do individualismo e a atomização, ao invés de nos tornar diferentes e mais fortes, deixa-nos fragilizados no igualitarismo dos comportamentos. Ou seja, facilmente domináveis.
A libertação só tem um caminho: a aquisição de informação, de saberes e a elevação cultural.

Ponta Delgada, 05 de Janeiro de 2008