sábado, 19 de dezembro de 2009

Assim, não vamos longe

A época é propícia à formulação de votos. Festas Felizes! É assim que enunciamos esse anseio a cada Natal e a cada ano que se inicia num ciclo de renovada esperança.
Bem que gostaria, nesta quadra de solidariedades, de deixar aos leitores um texto transbordante de palavras de boas novas para o tempo que se avizinha, palavras de confiança e tranquilidade mas, olhando ao redor e mesmo tendo uma confiança inabalável no futuro, temo que não seja ainda o tempo de o fazer pois, se o fizesse não ficaria bem com a minha consciência e deixo aqui algumas notas soltas que justificam esse adiamento.
Horácio Roque, presidente do Banif, recomendou aos portugueses a emigração como solução face ao crescimento do desemprego em Portugal. Este banqueiro numa entrevista ao jornal Público afirmou: “É claro que nós temos sempre uma ajuda ao nosso desemprego que é a capacidade que os portugueses têm de emigrarem e se fixarem lá fora”. Pois muito bem! Com capitalistas destes pode o país estar descansado que há sempre solução para a pior das crises. Claro que em relação à instituição financeira que gere os tempos foram de expansão adquiriu o Banco Mais, investiu na banca espanhola e vai adquirir a seguradora Global. Não há crise que lhes chegue!
As grandes superfícies comerciais e as centrais de distribuição – merceeiros de novo tipo – anunciaram o alargamento do horário de trabalho dos seus trabalhadores das 40 para as 60 horas semanais, ou seja, das 8 horas diárias para as 12. Os trabalhadores naturalmente, até porque têm família e também necessitam de tempo para ir às compras, não aceitam e reagiram com um pré-aviso de greve para o dia 24 de Dezembro e, vai daí aquele grupo de “benfeitores” encabeçado por Belmiro de Azevedo veio a terreiro dizer que não acreditava que os sindicalistas levassem a ameaça até ao fim e que se tratava de um pequeno ataque de baixa qualidade. Claro que Belmiro de Azevedo e outros que tais sabem que sobre os seus precários trabalhadores pendem fortes ameaças e que estes beneméritos empresários descansam sobre a existência de um batalhão de mais de meio milhão de desempregados que espreitam um emprego sob quaisquer condições.
Quantos de nós não dispõem de médico da família? Quem não tem a percepção de que os serviços públicos de saúde necessitam de mais médicos? E também sabemos que a origem deste défice se situa numa política de formação de médicos, à qual não é estranha a Ordem, que limita a entrada para os cursos de medicina de muitas centenas de jovens. Limitação imposta pelos numerus clausus do qual decorrem as elevadas médias de entrada para as Universidades.
Ao anúncio da criação de um novo curso de medicina na Universidade de Aveiro, eis que o Bastonário da Ordem de imediato contestou esta medida, não por ser em Aveiro mas porque do alto da sua imensa sabedoria diz que não há necessidade de mais profissionais médicos. Pois!
Enquanto registo estas notas soltas aproxima-se do fim a Cimeira de Copenhaga e as expectativas criadas estão em risco de ficarem muito aquém do que era esperado. Os grandes poluidores não querem aceitar a diminuição da emissão de gases com efeito de estufa. A opinião pública mundial mobiliza-se para pressionar os “donos do Mundo”. Julgo que no final deverá acontecer um acordo do tipo: do mal, o menos. Foi a isto que nos habituaram ao longo dos tempos, primeiro um cenário positivo, depois a catástrofe, por fim uma solução minimalista e todos ficamos muito satisfeitos. Será!?
Ficam os votos de Boas Festas e de um Novo Ano de renovada esperança e luta por um Mundo Melhor!
Aníbal C. Pires, IN A UNIÃO, 18 de Dezembro de 2009, Angra do Heroísmo

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