quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Crónica revisitada

Num exercício retrospectivo e a alguns dias da entrada num novo ano fui reler os textos que desde 2003 publico com regularidade na imprensa regional. Foi interessante verificar que grande parte deles não perdeu actualidade política e que outros, por serem mais intimistas, são intemporais. É um desses textos sem tempo que vos deixo como uma mensagem de renovada esperança e luta num futuro melhor.
A momentos exaspero!
Desespero com o país e o Mundo, com a decadência dos valores, com o imediatismo dos instantes que hipotecam o futuro.
Mas há … Outros momentos!
Momentos de reencontro! Momentos de amor, momentos de paixão!
Momentos em que o sorriso de mulher, um olhar de criança valem por toda uma vida.
Apenas a momentos, breves instantes me invade o desalento! Pois, a todo o tempo confio.
Confio no tempo!
E… a seu tempo cessará o retrocesso de um século.
E… a seu tempo voltaremos ao caminho da humanidade.
Acredito num tempo diferente em que a dignidade pessoal possa ser, apenas, Humana. Confio que o equilíbrio com o meio ambiente possa retomar-se e que o futuro seja possível.
Acredito que a cultura possa readquirir o seu valor intrínseco e abandone o mercantilismo do supérfluo.
Confio, mesmo, que a Escola retome o protagonismo da mudança e do desenvolvimento e, sobretudo, seja um espaço de cultura e justiça na diversidade dos seus actores.
Acredito que será possível escolher, livremente, sem as encenações que confundem uma sala de aula com um cenário de novela ou o improviso do discurso com halogramas. Discurso que se alimenta nas esquinas das dependências, nos becos da decadência, nas praças da injustiça, nas avenidas de imagens construídas, na alienação que subjuga e escraviza, na uniformidade do pensamento, na padronização do comportamento.
E confio! Confio que dos atropelos à dignidade, mais tarde ou mais cedo, vai emergir a vaga de descontentamento que, qual tsunami, irá repor o futuro.
Quiseram matá-la. Amordaçam-na. Mas ainda há quem não deixe. Há quem resista. Há quem não cale. Há quem não vergue. Há quem a alimente! E a utopia está aí! Presente nas canções, nos poemas, nas manifestações do povo, na coerência de quem sabe o quão é mais fácil ir ao sabor de um vulgar “sempre assim foi”, mas continua a alimentar o sonho, mesmo quando a esperança nos parece querer dizer que não vale a pena.
Vale a pena por ti, vale a pena por ele, vale a pena por nós!
Vale a pena alimentar a utopia! Vale a pena a memória dos poetas, pois “quando um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
Vale a pena lutar e ser solidário com a humanidade.
Vale a pena pelo sorriso de uma mulher, mãe, amante!
Vale a pena pela esperança no futuro espelhada no olhar de uma criança!
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 30 de Dezembro de 2009, Angra do Heroísmo

2 comentários:

Maria Margarida Silva disse...

O futuro advém da força das práticas humanas pessoais e comunitárias que criam redes, ganham ânimo e conseguem atribuir um novo arrumo que garantirá uma nova história.
O primeiro dia de cada novo ano é muito mais que um “réveillon”…
A cada ano, é necessário seguir, sonhando com a utopia de um mundo humano, sonho esse que não dispensa o continuar de uma luta permanente contra a desigualdade, a injustiça, a discriminação e tantas outras formas de opressão.
Não podemos deixar que tantos mártires, pelo mundo fora, tenham morrido em vão. Se o fizermos, estaremos a praticar um ultraje à sua memória.

“Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fracção de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.”
Reverência ao Destino
Carlos Drummond de Andrade

Um abraço.
margarida

Aníbal C. Pires disse...

Olá Margarida,

Bem regressada sejas!
O "momentos" carece de ti.
Verdade, muitos amigo(a)s me têm perguntado por ti.

Tem mais posts para comentar.
Beijinhos

Aníbal Pires