segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Para onde caminhamos…

Aníbal C. Pires by Catarina Pires
Incomoda-me o corre que corre que nesta época do ano se apodera das pessoas.
Os rostos continuam a reflectir a azáfama e a competitividade que marcam todos os outros dias do ano mas, nos semblantes acresce agora mais uma ruga que reproduz a preocupação de corresponder, a todo o custo, à necessidade de satisfazer os artificiais impulsos de consumo que nesta altura atingem níveis indesejáveis.
Este estado de euforia consumista, alimentado por uma fortíssima pressão publicitária, até pode disfarçar as enormes dificuldades que individualmente enfrentamos mas não ilude a ausência de valores e princípios que deveriam presidir ao nosso quotidiano, nem mascara a profunda crise económica cujos efeitos mais brutais, desemprego e desigualdade, se instalaram sem que, no horizonte próximo, se vislumbrem sinais de ruptura com a brutalidade de um modelo de desenvolvimento falido e em reconfiguração – a eleição de Barack Obama terá sido, de todos, o mais emblemático sinal de um novo fôlego do capitalismo.

Afinal nada mudou!
A solidariedade há muito deixou de ser um acto pessoal para ser transferida para organismos com ou sem fins lucrativos. As campanhas de apoio aos mais desfavorecidos decorrem no âmbito das marcas e organizações comerciais. E nós agradecemos.
É cómodo e, quiçá, “fashion” pagar mais 1 euro contra a indiferença do que ser indiferente. Indiferente ao que nos rodeia ou exigir do poder político que ponha cobro à injustiça reinante.
Ficamos bem com a nossa consciência ao subscrever, numa qualquer rede social, o apoio a uma causa social ou ambiental, mas somos incapazes de levantar o rabinho do sofá para estender a mão num gesto de solidariedade ou adoptar comportamentos críticos e de ruptura com a raiz dos problemas que afectam a nossa contemporaneidade e colocam em causa o futuro colectivo.
A vacuidade induzida nos comportamentos humanos não é inócua e serve a perpetuação de modos de vida assentes sobre princípios velhos como o tempo em que o domínio de um ser sobre outros teve a sua génese.
Não tem de ser assim! E quem teima em manter tudo na mesma renega séculos de evolução social e remete-nos para a pré-história da humanidade.
Não sei porquê mas nesta quadra de Festas, quando olho ao meu redor, vem-me sempre à memória a atitude de ruptura que Jesus Cristo adoptou aos expulsar os vendilhões do Templo.
Será que não aprendemos nada ou será que estamos a entrar num processo de regressão civilizacional!?
Anibal C. Pires, In RTP AÇORES, 28 de Dezembro de 2009, Ponta Delgada

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