As efemérides, de uma forma geral, constituem-se como bons temas de escrita para quem ganhou o hábito e o espaço para partilhar opinião. A Restauração da Independência Nacional que se comemorou por estes dias poderia ser um bom mote para este texto.
O actual contexto de acentuada perda de soberania nacional e dependência externa e as discussões sobre a “União Ibérica”, seguramente, confeririam ao assunto actualidade e posicionamentos apaixonados.
Na agenda internacional a Cimeira Ibero Americana, em Cascais, e a Cimeira do Clima, em Copenhaga, poderiam, com toda a oportunidade, fazer o título deste escrito. A primeira, pela importância que tem para a “Península”, assim dizem os espanhóis que vivem no exterior quando se referem ao seu país, mas também pela situação que se vive nas Honduras e, a segunda, pelas (in)decisões que venham a concretizar-se.
Sobre estas questões não faltarão artigos de opinião, mas eu como tenho este mau feitio: não gosto de unanimismos, nem do politicamente correcto e muito menos de andar em “rebanho” e a favor da corrente, dedico este espaço, neste tempo, ao trivial, num momento em que coisas tão importantes estão a acontecer. Sei que corro o risco de ouvir, como oiço desde a minha juventude: “Oh Aníbal, assim não vais longe e é uma pena porque tu és um bom rapaz."
Sendo o tema trivial, porquanto está vulgarizado, não deixa de ser pertinente e ter uma importância bem real. Ao longo das últimas três décadas os trabalhadores, do sector público e privado, de diferentes ramos da actividade assistem, uns mais passivamente que outros, à perda de rendimentos e direitos. E, se no sector público foi com a sacralização de Sócrates e da sua “esquerda moderna” que os ataques se acentuaram, no sector privado há muito que se desenvolviam estratégias que redundaram num retrocesso civilizacional, hoje a configuração das relações laborais assemelham-se mais ao que se vivia no século XIX.
O conceito estereotipado de trabalhador induz imagens de fábricas, construção civil, agricultura, pescas, minas, etc., aliás representações alimentadas pelos neoliberais como sinal de atraso pois, segundo estes, as sociedades modernas e evoluídas têm de corresponder a uma alta taxa de terciarização da economia.
Como definir então os indivíduos que trabalham nos serviços, os quadros médios e superiores. Serão ou não trabalhadores? Talvez colaboradores. Esta nova designação terá sido o vocábulo que melhor se ajustou às necessidades de desvalorizar o trabalho e os trabalhadores que caracteriza este ciclo neoliberal que, após a sua falência, se reconfigura.
Um dos ramos de actividade do sector privado onde, em termos relativos, se verificam as maiores alterações terá sido no sector financeiro e segurador. Há 30 anos atrás, e mesmo antes, os trabalhadores da banca e dos seguros detinham um conjunto de direitos e um rendimento que colocavam esta carreira profissional como uma das mais apetecíveis, e isto sem que o sector bancário e segurador fosse deficitário, bem pelo contrário.
Hoje os lucros aumentaram desmesuradamente para níveis pecaminosos e os “colaboradores” trabalham sem horários, sem direito ao pagamento de horas extraordinárias, sem direitos laborais e com rendimentos a depender de metas subjectivas impostas por administradores sem escrúpulos, poderia acrescentar-lhes mais alguns epítetos mas... fico-me por aqui.
Este é o paradigma da modernidade que Sócrates e outros quejandos nos vendem.
O actual contexto de acentuada perda de soberania nacional e dependência externa e as discussões sobre a “União Ibérica”, seguramente, confeririam ao assunto actualidade e posicionamentos apaixonados.
Na agenda internacional a Cimeira Ibero Americana, em Cascais, e a Cimeira do Clima, em Copenhaga, poderiam, com toda a oportunidade, fazer o título deste escrito. A primeira, pela importância que tem para a “Península”, assim dizem os espanhóis que vivem no exterior quando se referem ao seu país, mas também pela situação que se vive nas Honduras e, a segunda, pelas (in)decisões que venham a concretizar-se.
Sobre estas questões não faltarão artigos de opinião, mas eu como tenho este mau feitio: não gosto de unanimismos, nem do politicamente correcto e muito menos de andar em “rebanho” e a favor da corrente, dedico este espaço, neste tempo, ao trivial, num momento em que coisas tão importantes estão a acontecer. Sei que corro o risco de ouvir, como oiço desde a minha juventude: “Oh Aníbal, assim não vais longe e é uma pena porque tu és um bom rapaz."
Sendo o tema trivial, porquanto está vulgarizado, não deixa de ser pertinente e ter uma importância bem real. Ao longo das últimas três décadas os trabalhadores, do sector público e privado, de diferentes ramos da actividade assistem, uns mais passivamente que outros, à perda de rendimentos e direitos. E, se no sector público foi com a sacralização de Sócrates e da sua “esquerda moderna” que os ataques se acentuaram, no sector privado há muito que se desenvolviam estratégias que redundaram num retrocesso civilizacional, hoje a configuração das relações laborais assemelham-se mais ao que se vivia no século XIX.
O conceito estereotipado de trabalhador induz imagens de fábricas, construção civil, agricultura, pescas, minas, etc., aliás representações alimentadas pelos neoliberais como sinal de atraso pois, segundo estes, as sociedades modernas e evoluídas têm de corresponder a uma alta taxa de terciarização da economia.
Como definir então os indivíduos que trabalham nos serviços, os quadros médios e superiores. Serão ou não trabalhadores? Talvez colaboradores. Esta nova designação terá sido o vocábulo que melhor se ajustou às necessidades de desvalorizar o trabalho e os trabalhadores que caracteriza este ciclo neoliberal que, após a sua falência, se reconfigura.
Um dos ramos de actividade do sector privado onde, em termos relativos, se verificam as maiores alterações terá sido no sector financeiro e segurador. Há 30 anos atrás, e mesmo antes, os trabalhadores da banca e dos seguros detinham um conjunto de direitos e um rendimento que colocavam esta carreira profissional como uma das mais apetecíveis, e isto sem que o sector bancário e segurador fosse deficitário, bem pelo contrário.
Hoje os lucros aumentaram desmesuradamente para níveis pecaminosos e os “colaboradores” trabalham sem horários, sem direito ao pagamento de horas extraordinárias, sem direitos laborais e com rendimentos a depender de metas subjectivas impostas por administradores sem escrúpulos, poderia acrescentar-lhes mais alguns epítetos mas... fico-me por aqui.
Este é o paradigma da modernidade que Sócrates e outros quejandos nos vendem.
Aníbal C. Pires, IN Diário Insular, 03 de Dezembro de 2009, Angra do Heroísmo
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