quarta-feira, 5 de maio de 2010

Acreditar! Ou não.

Um número assustadoramente crescente de portugueses, quer vivam nas Regiões Autónomas quer no território continental, deixaram de acreditar no seu país e expressam esse sentimento através de diferentes atitudes.
Há os que se acomodam, os que se abstêm, os que emigram, os que esquecem ou procuram esquecer, os que preferiam ser mais uma província de Espanha e há os que impunemente despojam o país saqueando os recursos que são de todos.
Há quem não esteja satisfeito e mantém a esperança que outro “25 de Abril” possa vir a acontecer e reponha Portugal no trilho da justiça social e económica, no rumo do desenvolvimento sustentável mas mais não fazem do que verbalizar a necessidade, o que já não é mau de todo pois estes têm consciência de que há outros caminhos para percorrer.
Há também quem continue persistentemente a acreditar que tudo pode ser diferente e que as transformações não passam por tirar coelhos da cartola ou esperar por um qualquer D. Sebastião a emergir do nevoeiro. Para estes, os que acreditam que os cidadãos são o motor das transformações e que fazem da sua existência uma vida ao serviço do seu povo e do seu país, para estes que têm de se confrontar com ideias feitas de inevitabilidades os tempos são, como sempre foram, de grandes dificuldades em afirmar alternativas que para se constituírem como tal trazem associadas rupturas e, as rupturas, como sabemos, incomodam.
Há quem teime em lutar ao lado de quem já não acredita, ao lado de quem tem esperança ao lado dos mais desfavorecidos e dos excluídos, ao dos empregados e dos desempregados, dos jovens com o futuro adiado, ao lado de quem é discriminado. Há quem teime em lutar ao lado do povo, ao lado da humanidade.
Tudo isto me inquieta como me incomoda a intolerância, a história e o pensamento único, a injustiça, a desigualdade, a pobreza e a exclusão.
Incomoda-me a fome que mata uma criança a cada três segundos.
Incomodam-me a guerra, a unilateralidade e a inércia de quem não se incomoda.
Incomodam-me os incómodos de quem se inquieta com a liberdade, a democracia, com o que é diferente, com a pluralidade e a diversidade.
Incomodo-me com quem se aquieta perante as inquietudes do Mundo.
Inquieto-me com este presente que parece não ter futuro
Incomodo-me!
Não me adapto… insurjo-me e acredito.

Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 05 de Maio de 2010, Angra do Heroísmo

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