Lá de vez em quando somos (os cidadãos) brindados com alguns escritos na imprensa regional que partem do pressuposto de que quem os lê é ignorante e não domina quer os conceitos, quer a língua (com ou sem acordo ortográfico), quer a técnica de estupidificação que lhes está associada.
A mensagem que se pretende transmitir é clara, os argumentos nebulosos, diria mesmo opacos, como convém a quem pretende confundir e manipular. A matriz é conhecida: identifica-se o alvo, confundem-se as noções, critica-se com base em presumíveis insucessos e argumenta-se com o simplista a roçar ridículo; ou seja, a metodologia é em tudo semelhante à produção de uma canção “pimba” para ser interpretada por uma “… band”, não importa o género desde que sirva a ocasião e se possa descartar depois de servir o objectivo para que foi criada.
Esta estratégia tem-se mostrado de grande sucesso, veja-se a proliferação de música e outras artes “pimba” que se produz e se consome, assim é natural que a tentação, para adoptar este tipo de estratagema, seja grande.
E não são só os profissionais da indústria “pimba” que utilizam esta técnica com maior ou menor incorporação de tecnologia. Os jornalistas, os colunistas, os comentadores, os politólogos e mesmo alguns agentes políticos não lhe ficam alheios, havendo mesmo quem a abrace como forma privilegiada de comunicar, contando com o seu sucesso imediato e mediático mas, contando sobretudo que os efeitos da estupidificação que ao longo da história tem sido “imposto” aos povos permita a sua interiorização mais ou menos generalizada.
Sou levado a reconhecer, até pelo sucesso do artifício, que a permeabilidade da generalidade da população a este tipo de mensagem é maior do que seria desejável e conveniente, o que equivale a reconhecer que estamos ainda a anos-luz de pertencermos uma sociedade informada e culta.
Somos, cada vez mais, permeáveis ao medíocre desde que a embalagem seja apelativa e, enquanto assim for seremos uma sociedade oprimida e agrilhoada pois, tenho cá para mim que a liberdade individual e colectiva só se alcança através do saber e da cultura.
Aprender é um acto de rebeldia libertária!
Abaixo a estupidificação!
Sei que parecem frases feitas, lugares-comuns… e são, frases feitas, por mim.
São clichés meus.
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 12 de Maio de 2010, Angra do Heroísmo
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