sexta-feira, 7 de maio de 2010

Cicatrizes

A ilha de S. Miguel e os seus principais núcleos urbanos têm já algumas cicatrizes disformes provocados pela acção do homem na pressa de fazer e chegar não se sabe bem onde mas… o que é que isso interessa se o que importa é deixar marca, deixar obra.
Há quem se importe e não goste daquilo em que se está a transformar a “Ilha Verde”, ilha onde vivem os cidadãos que têm o maior e o menor poder de compra da Região, concelhos de Ponta Delgada (112,95, tendo 100 como base nacional) e o Nordeste (49,62) respectivamente o que demonstra, sem margem para dúvidas, que as políticas de coesão social, territorial e económica dos governos de Carlos César são um tremendo falhanço, nem sequer precisamos de sair da maior e mais populosa ilha dos Açores para o constatar pois, é em S. Miguel que se encontram os dois concelhos com menor poder de compra da Região, o já aludido concelho do Nordeste e o concelho da Povoação (54,08).
Estes números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2009 e que se referem a 2007, sobre o Índice de poder de compra “per capita” dizem bem das profundas assimetrias que se verificam na Região.
Estas são cicatrizes sociais que dizem bem das profundas desigualdades no acesso ao rendimento mas, quando iniciei este texto referia-me em particular a outras cesuras que transformam e delapidam o património ambiental e paisagístico da ilha de S. Miguel e o património construído que confere identidade aos núcleos urbanos e a quem os habita e desfruta.
Os exemplos são, infelizmente, muitos: a frente marítima de Ponta Delgada, o acesso à Fajã do Calhau, a monstruosidade edificada à entrada da Ribeira Grande e o imenso atentado que constitui a SCUT de S. Miguel, isto para não falar do edifício sede da Lota Açor construído recentemente no “estradinho”, ou do “centro comercial” implantado nos terrenos da Calheta de Pêro de Teive.
Dir-me-ão que são os sinais do tempo e o preço a pagar pela modernidade e que no caso da SCUT até poderá contribuir para que as assimetrias a que há pouco me referi possam ser ultrapassadas. Talvez! É um ponto de vista. E os outros pontos de vista! Será que forma devidamente equacionados!? Sim porque há outros pontos de vista que também consideram os tempos e a modernidade mas sem que, no entanto, vendam a alma dos lugares.
A construção da SCUT de S. Miguel, passado que está algum tempo sobre o início das obras, tem sido objecto da queixa de vários cidadãos que se confrontam com danos nas suas propriedades urbanas e rurais, parte dos quais já desencadearam os procedimentos judiciais para serem ressarcidos dos prejuízos causados pela empresa concessionária. Digamos que é uma inevitabilidade decorrente da construção de uma obra daquela dimensão. Surgem, no entanto, em número crescente outro tipo de constatações que vão para lá do mero prejuízo individual e que podem colocar em perigo a vida e os bens das comunidades.
No concelho de Vila Franca verificam-se um conjunto de situações anómalas que têm a sua origem no desvio de linhas de água sem que os serviços da Secretaria do Ambiente tenha, tido, até agora em devida consideração os inúmeros relatos e queixas que têm sido referidas. Os departamentos do governo regional dos Açores continuam a fazer orelhas moucas. Até quando?
Aníbal C. Pires, IN EXPRESSO DAS NOVE, 07 de Maio de 2010, Ponta Delgada

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