quarta-feira, 7 de julho de 2010

35 anos a repetir dia-a-dia a criação do mundo

Foto by Aníbal C. Pires (Santa Maria, Sal, Cabo Verde)
Comemoram-se hoje, 5 de Julho, os 35 anos da independência de Cabo Verde. O registo da efeméride é, em si mesmo, um facto que como outros acontecimentos pode, ou não merecer algumas palavras de circunstância dependendo da importância que cada um de nós dá à sucessão de datas que assinalam nascimentos, mortes, vitórias, derrotas, avanços, retrocessos, solstícios, equinócios, inaugurações, lançamentos da 1.ª pedra, enfim qualquer data que mereça, por razões diversas, a atenção individual e coletiva. 
Hoje comemora-se, também, o 2.º aniversário das “Portas do Mar”, que como se sabe foi construída com o objectivo de se assumir como uma inesgotável fonte de oportunidades de negócio que emergem das profundezas marinhas ali para as bandas da zona nascente de Ponta Delgada. Sobre esta efeméride nem sequer com palavras de circunstância perderei o meu tempo para não maçar os leitores.
Os 35 anos da independência de Cabo Verde merecem-me um pouco mais do que palavras de conjuntura, desde logo porque nutro por aquele país e povo insular uma profunda admiração, embora, talvez por isso, também já tenha tecido, lá de quando em vez, algumas críticas às opções políticas que o Governo cabo-verdiano tem tomado quer ao nível da política interna, quer ao nível do seu posicionamento na cena internacional.
Sobre aquele pequeno país insular e arquipelágico onde a natureza não foi muito pródiga disse José Saramago: “Cabo Verde fabrica o seu próprio chão, inventa a sua própria água, repete dia a dia a criação do mundo”. Lindo não é!? E quem conhece Cabo Verde e os cabo-verdianos não pode deixar de subscrever estas palavras de Saramago.

Foto by Aníbal C. Pires (pintura de Kiki Lima, Aeroporto Amílcar Cabral)
O Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires, pronunciou-as hoje, durante as cerimónias oficiais do dia da independência, perante o Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva. As cerimónias do 35.º aniversário de Cabo Verde foram marcadas por uma homenagem a José Saramago e à língua portuguesa, não faço ideia do que sentiu aquele ser “pequenino” que está em Cabo Verde a representar Portugal nesta efeméride, não sei sequer se, Cavaco Silva, terá compreendido o profundo significado da frase com que Saramago caracterizou Cabo Verde e os cabo-verdianos pois são, sobejamente, conhecidas as suas limitações na leitura dos textos do Nobel da Literatura que faleceu recentemente e a cujas exéquias fúnebres o Presidente, de alguns portugueses, achou por bem não comparecer uma vez que não conhecia o falecido, de entre outros motivos analogamente prosaicos.
Mas voltemos a Cabo Verde e à sua diáspora para referir que no âmbito das comemorações do 35.º aniversário da independência o Governo cabo-verdiano vai abrir, no âmbito do projecto a Casa do Cidadão, balcões de atendimento no Porto, Coimbra, Setúbal e Açores, sendo que na Região este balcão da Casa do Cidadão vai funcionar nas instalações da Associação de Imigrantes nos Açores (AIPA), em Angra do Heroísmo.
O projecto Casa do Cidadão funciona desde 2008 em Odivelas e tem por objectivo aproximar os cidadãos da diáspora da governação com recurso às novas tecnologias de informação e comunicação.
Para terminar não resisto a citar António Monteiro, líder parlamentar do partido da oposição cabo-verdiana, que não deixou de homenagear e citar Saramago durante as cerimónias evocativas da independência de Cabo Verde utilizando a seguinte frase do Nobel da Literatura: "os fortes deviam ser mais justos e os justos deviam ser mais fortes".
A ida de Cavaco Silva terá valido pela lição que os dirigentes cabo-verdianos lhe proporcionaram sobre a universalidade da lusofonia. Assim o espero, embora tenha muitas dúvidas e me engane bastas vezes!
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 07 de Julho de 2010, Angra do Heroísmo

1 comentário:

AGRY disse...

O Presidente de alguns portugueses!
Não é a cor das lentes que altera a realidade objectica.Bonita síntese vocabular