quarta-feira, 28 de julho de 2010

A língua, os hidrocarbonetos e as economias emergentes

A Indonésia, a Austrália, o Luxemburgo, a Suazilândia e a Ucrânia manifestaram o seu interesse em aderir à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o Senegal, as Ilhas Maurícias e a Guiné Equatorial são membros observadores, tendo este último país formalizado o pedido de adesão como membro de pleno direito. O pedido de adesão da Guiné Equatorial dominou a agenda política e mediática durante o período que antecedeu a realização da cimeira da CPLP que se efectuou recentemente em Luanda e conta com o apoio declarado de alguns dos países desta organização que tem a língua portuguesa como traço comum.
Sendo este um tema pelo qual mantenho, por razões diversas, algum interesse não pude deixar de acompanhar as diferentes opiniões à volta do súbito interesse que a CPLP causou na comunidade internacional, designadamente, com as manifestações de vontade de alguns países em aderir a esta organização.
Sabia do interesse de Casamansa em integrar a CPLP. Casamansa foi a primeira colónia portuguesa em África e ainda ali subsiste um crioulo de base lexical portuguesa, cedido aos franceses em 1886, actualmente faz parte integrante do território do Senegal. Conhecia o interesse de alguns movimentos de cidadãos galegos que pretendem ver a Galiza, por razões óbvias, integrar a CPLP mas, como óbvias são as razões que estão na base do interesse de Casamansa e da Galiza, óbvios são os motivos porque dificilmente a pretensão destas duas regiões se poderá concretizar.
A proximidade linguística justifica a pretensão, de alguns cidadãos e organizações de Casamansa e da Galiza, de adesão destas duas regiões à CPLP e até compreendo o estatuto de observador do Senegal – em virtude de Casamansa -, com algum esforço poderei até compreender o estatuto de observador das Ilhas Maurícias e da Guiné Equatorial mas qual o súbito interesse de países como a Indonésia, a Austrália, o Luxemburgo e a Ucrânia, uma vez que a proximidade da Suazilândia com Moçambique até poderá justificar a sua aspiração!?
Considerando que este súbito interesse que a CPLP suscitou não está, claramente, relacionado com as afinidades linguísticas ou com a história dos descobrimentos e da colonização só me é possível especular que a vantagem se situa, na sua essência, nas economias emergentes do Brasil e de Angola e dos interesses inconfessáveis que giram à volta do controle da extracção de hidrocarbonetos, designadamente os que são produzidos na Guiné Equatorial.
Bem sei que é especulação mas não consigo descortinar outros motivos que não estes e fiz um esforço para os encontrar, como se percebe ao longo do texto. Por muito que considere a história, a importância e a eventual expansão da língua portuguesa, a CPLP não pode, a meu ver, transformar-se num conglomerado de interesses económicos e perder a sua matriz genética.
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 28 de Julho de 2010, Angra do Heroísmo

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