segunda-feira, 12 de julho de 2010

Uma questão patriótica

Depois de um longo e agreste Inverno – ele foi o Orçamento Geral do Estado, ele foi o Plano de Estabilidade e Crescimento, ele foi o Plano de Austeridade e, se nos resignar-mos, tudo o mais que o Outono nos possa trazer -; o Verão perspectiva-se quente na resposta que os trabalhadores e as populações se preparam para fazer recuar esta brutal ofensiva contra os direitos e os rendimentos dos trabalhadores que visa a revalorização e a reconfiguração do capital e a continuada desvalorização do trabalho.
A contestação social e política dos portugueses assume-se como uma causa patriótica pois a imposição destas medidas ultrapassa as fronteiras do nosso país. Não é, nem foi em nome do interesse nacional que as opções por políticas de austeridade foram adoptadas pelo PS e pelo PSD num “incestuoso casamento” – os cônjuges têm afinidades políticas indisfarçáveis; as opções por medidas de austeridade, que só terão como efeito a retracção da economia nacional, o aumento das insolvências, o aumento do desemprego e das desigualdades sociais. Estas medidas foram e são impostas do exterior e, esta coacção a que me refiro não é, sequer uma obrigação política é, assim como… mais uma taxa que os povos têm de pagar ao capital financeiro que, como todos temos consciência, é em primeira e última instância o principal responsável pela crise. Sendo assim a luta e a contestação social e política assume, como já expus, um carácter patriótico. Se alguém tem dúvidas analise, à luz do interesse nacional, a decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia que considera ilegal o veto do Estado Português sobre o negócio da Telefónica com a PT usando, para isso, os poderes especiais concedidos pela “golden share” que o Estado detém na PT. O fundamento do acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia fundamenta-se que o veto Português compromete a eficácia da proibição de restrição da livre circulação de capitais. Pois claro! E os povos que se …, como direi, que se… que se lixem.
Que outros exemplos serão necessários para perceber que a soberania e a independência de Portugal estão, de há muito em causa e que as opções políticas são determinadas e impostas por entidades externas ao país e, direi mesmo, aos órgãos políticos eleitos pelos povos. É este poder “oculto” mas com rostos nos parlamentos europeu, nacional e regional, que corrói e corrompe a democracia e o poder político que lhes é subserviente. É este poder “oculto” que nos priva da capacidade de decidir sobre o nosso próprio futuro. É este poder “oculto” que não quer a participação dos povos nos processos decisórios.
As lutas sindicais, lideradas pela CGTP-IN, assumem assim um papel patriótico e para as quais nos devemos mobilizar contrariando uma ofensiva cujos contornos ainda não são de todo visíveis.
Para que o Outono não nos traga mais tempestades o Verão não pode ser de tréguas mas de luta e mobilização continuada ou, como ouvi da boca de um dirigente sindical durante a jornada de luta do dia 8 de Julho: “mesmo em tempo de férias o estado é de mobilização e de alerta geral”.
Aníbal C. Pires, In A União, 9 de Julho de 2010, Angra do Heroísmo

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