quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Coisas da moderna gestão


A companhia aérea nacional (TAP) assim como outras empresas de capital público constam de uma lista de intenções de privatização do governo de José Sócrates, apoiado por Passos Coelho, seu par no tango das medidas de austeridade que, ao contrário de tudo o que seria aconselhável estes dois “iluminados” impuseram aos portugueses e a Portugal em nome de uma União Europeia cada vez mais longe dos cidadãos e dos povos e cada vez mais dependente da vontade da chancelaria alemã.
Segundo os especialistas a TAP necessita urgentemente de se recapitalizar embora tenha tido um desempenho positivo na actual conjuntura de crise. Como as regras de Bruxelas não permitem a intervenção do Estado – único accionista – na sua recapitalização, então a alternativa é a sua urgente privatização.
Bem! Não sou especialista mas, argumentos destes não me convencem, desde logo não percebo porque é que a Comissão Europeia não autoriza que um accionista não possa refinanciar a sua própria empresa e depois não me parece que um privado esteja disposto a adquirir uma empresa apenas para a recapitalizar, aliás os investidores estão mais interessados em comprar títulos da dívida pública de alguns países como Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha, altamente rentáveis, do que propriamente “esbanjarem” o seu capital em empresas públicas supostamente em dificuldades financeiras.
A privatização da TAP consta, como já referi, das medidas constantes do PEC, e, visa contribuir para o equilíbrio das contas públicas, ora aqui está um outro argumento fora da minha compreensão uma vez que, segundo a União Europeia, a empresa não pode ser recapitalizada pelo seu único accionista, o Estado Português, Adiante que se faz tarde e ainda não cheguei ao âmago da questão, coisa de somenos importância, é certo, mas não deixa de ser estranho pelo menos para mim pobre ignorante, daí talvez não o seja tanto assim, e se não é o cerne é, certamente, um alburno de entre outros que por aí há muitos que se assemelham a marginalidades mas, vá-se lá ver e, no fim, afinal é o cerne da estratégia.
Dei conta que, agora sim vamos à essência, alguns voos da TAP que ligam estas ínsulas ao continente não têm servido refeições a bordo, se é que refeição se pode intitular o conteúdo da caixa descartável colocada sobre a mesa de apoio ao viajante. Indaguei e tentei perceber, à luz dos novos conceitos de gestão, o que ficaria mais em conta à companhia aérea nacional, se um voucher para um snack no bar do aeroporto, se o conteúdo da tal caixinha descartável, É bom de ver que a segunda é mais barata do que a primeira, a esta conclusão cheguei sem grande esforço fazer, mas logo me chamaram a atenção, isso é aritmética não é gestão. E então? Perguntei eu assarapantado, bem sei que não sou um especialista mas contas são contas e até os especialistas têm de as fazer. Falta uma variável, Uma variável!? Que variável!? O trabalho, Sim o trabalho, sabes as tripulações de cabine por vezes são reduzidas ao mínimo e não há condições para realizar o serviço de refeições ligeiras.
A TAP mas também a SATA não têm admitido tripulantes de cabine, ao que julgo esta medida está directamente relacionada com diminuição dos custos do trabalho, o efeito mais visível desta política empresarial é: por vezes não há refeições ligeiras a bordo; para já só na TAP até que a moda se generalize. Outros efeitos, quiçá, menos visíveis se podem manifestar, a qualidade e a segurança do serviço prestado a bordo está em causa, a qualidade do serviço tem vindo a diminuir, já estamos habituados, onde vai o tempo das refeições quentes e dos jornais, isto sem que o custo final das viagens tenha acompanhado este adelgaçar da marca a que, quer a TAP, quer a SATA, faziam gala, agora a segurança não, nos transportes aéreos não se pode descurar a segurança, os passageiros da TAP e da SATA não quererão, por certo, a perder a confiança que até ao presente tem estado garantida pelo cumprimento, para além dos mínimos exigidos, das regras de segurança.
Outro dos efeitos da redução dos postos de trabalho, por via da não substituição dos trabalhadores e pelo aumento da operação, é o cancelamento de voos. Se isto é gestão então prefiro a aritmética.
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de Agosto de 2010, Angra do Heroísmo

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