terça-feira, 28 de setembro de 2010

O essencial e o acessório

Neste início de um novo ano parlamentar importa situar aqueles que são os problemas mais prementes sentidos pelos açorianos, as grandes questões para as quais o Parlamento Regional tem de encontrar respostas.
E, sem margem para dúvidas, essas questões reconduzem-nos sempre e necessariamente ao problema da riqueza regional e da sua repartição e ao modelo económico que não tem resolvido os seculares problemas da economia regional.
A crise, a tão falada crise, a tal que foi negada num momento para ser decretada noutro, a tal que é uma fatalidade de quem ninguém tem culpa nem responsabilidade, a crise que as tonitruantes declarações do governo Regional não conseguem, por mais que insistam, exorcizar, essa mesma crise, continua a agravar-se e alastrar pelo nosso arquipélago e, ao contrário de algum do mundo da política, a crise não foi de férias. Os sinais do abrandamento da actividade económica regional estão por aí, com as consequências sociais que lhe são inerentes e inevitáveis se continuarmos a insistir nas mesmas políticas e, apenas e só no reforço das medidas conjunturais de combate à crise que se têm demonstrado claramente insuficientes e de reduzida eficácia
O presente abrandamento da economia regional e aquele que se prevê venha a ser ainda mais pernicioso decorre directamente das medidas do PEC e das subsequentes medidas de austeridade que o complementam, e, e ainda de outras que se avizinham anunciadas em discursos fossilizados enfeitados com neologismos cujo significado é tão antigo como a ideia de domínio de um grupo humano sobre outros grupos humanos, assim se construiu a ideia de racismo, assim se construiu a ideia das inevitabilidades do neoliberalismo, assim se constroem representações para perpetuar modelos anacrónicos de desenvolvimento que gerando cada vez mais riqueza geram na mesma proporção mais pobreza, mais exclusão mais injustiça social e torna insustentável o equilíbrio natural entre o homem e o ambiente.
As medidas conjunturais que o Governo Regional tem vindo aplicar no último ano têm sido apenas isso: conjunturais e, como tal, não resolvem nem podem resolver os desequilíbrios estruturais que estão na génese da dramática situação em que vivemos.
Uma situação que é agora agravada, como já referi, pelas medidas de austeridade do PEC que ainda irão paralisar mais o investimento, consumo, a actividade económica e nos afundarão inexoravelmente numa recessão de que demoraremos muito tempo a recuperar.
Por mais fogo-de-artifício político que o PSD tente fazer com uma proposta de revisão constitucional perfeitamente disparatada e extemporânea e com o fantasma da aprovação ou não do Orçamento Geral do Estado, a verdade é que o PSD continua a ser o melhor amigo do Governo. E não apenas na República. Também na Região a líder do PSD Açores prefere passar ao lado do essencial, que partilha com o líder do PS Açores, e atirar-se raivosamente ao acessório, ao fátuo, ao superficial tornando a luta política num mero e triste espectáculo mediático.
Horta, 24 de Setembro de 2010

Aníbal C. Pires, In A União, 26 de Setembro de 2010, Angra do Heroísmo 

1 comentário:

el comunista disse...

"o parlamento regional tem que encontrar respostas"?
Não lutem os trabalhadores, pela satisfação das suas necessidades, que bem podem esperar sentados pelo parlamento.
"achispavermelha.blogspot.com"
A CHISPA!