A ascensão de Cláudia Cardoso (CC) ao Governo Regional era uma questão de tempo, embora o tempo e a companhia não lhe sejam favoráveis. A remodelação que se adivinhava no elenco presidido por Carlos César não terá sido a que estaria a ser desenhada, não que essa remodelação não incluísse a pasta da Educação mas, porque Lina Mendes acabou por precipitar os acontecimentos com um pedido de demissão, ancorando os fundamentos na sua suposta inabilidade para a actividade política, como ela própria reconheceu em declarações públicas.
As pastas da Saúde, Trabalho e Solidariedade Social e Educação seriam, pelo contexto de crise que vivemos, pela contestação social, pela inabilidade e, pela necessidade interna do PS se dotar, a menos de 2 anos das regionais de 2012, de quadros eminentemente políticos para travar o combate eleitoral, seriam, como dizia, as pastas em que era expectável que acontecesse uma substituição dos titulares. Tal não ocorreu e, a minha reflexão especulativa caiu como um mal amanhado castelo de cartas. Talvez, Ou não!
CC, pela sua projecção política no seio da estrutura do PS, pelas suas qualidades e experiência política e governativa, pela sua notável experiência aliada à juventude e pelo seu desempenho parlamentar, designadamente como Presidente da Comissão dos Assuntos Sociais foi, naturalmente, empossada como sucessora da demissionária Lina Mendes. Naturalmente, pelas razões que enunciei e também pela expectativa e prestígio que goza(va) junto dos docentes e dos sindicatos. Mas todo este capital de CC se esfumou, num abrir e fechar de olhos, ao nomear Graça Teixeira (GT) como Directora Regional de Educação (DRE) e, ao confirmar, com a publicação do Aviso de Abertura dos Concursos Interno e Externo, que afinal a emenda é quase tão má como o soneto (ou pior).
Mantém-se, por ora, a anualidade dos concursos, interno e externo, garantidas ficam assim, este ano, as prioridades regionais na contratação pois, como é sabido dependem de candidatura ao concurso externo, mas perderam-se 63 lugares do quadro, ou seja, a precariedade laboral na docência vai aumentar.
Sendo que CC a qualquer momento poderia ser chamada ao Governo Regional, como afirmei na primeira frase, bem vistas as coisas, também como disse, este não é o melhor dos tempos nem a companhia que lhe arranjaram para DRE lhe é favorável. Ao invés de CC, GT é politicamente inexperiente, ganhou protagonismo como Presidente do Conselho Executivo da Secundária da Lagoa não tanto pelo seu valor intrínseco como profissional mas, porque o Governo Regional quis projectar para o espaço público regional um certo modelo de Escola e de Gestão Escolar e para isso investiu avultados recursos e marketing naquela Unidade Orgânica, GT não tem peso político na estrutura regional do PS Açores e os educadores e professores não lhe reconhecem qualidades para o desempenho do cargo que assumiu.
Que a saída da esfíngica Lina Mendes era inevitável sabia-se desde que o enigma da sua nomeação se desfez - foi um erro de “casting”; que a solução para a sua substituição tivesse sido CC na companhia de GT foi dar razão às vozes que se referiam a GT como a sombra de Lina Mendes e a CC como a Secretária sombra ou, vice-versa conforme o contexto, o que configura uma solução de recurso que não vai bem com o estilo e praxis do Presidente do Governo Regional, algo correu mal lá para os lados do Palácio de Santana.
Certo é que, tal como afirmou CC logo após a sua posse, as políticas são para se manterem, quanto a abordagens com uma sensibilidade diferente a que CC aludiu nas mesmas declarações… Bem! O aviso de abertura dos concursos diz-nos com toda a transparência qual a natureza da sensibilidade de CC para abordar o problema com que de imediato se deparou - uma no cravo, outra na ferradura.
Para quem tinha ilusões CC conseguiu desvanecê-las apenas numa semana e esgotou em duas decisões o estado de graça que normalmente se concede tacitamente, durante um período de tempo, aos novos titulares de pastas governativas.
Lamento! Lamento pelos docentes e lamento, sobretudo, por uma geração de alunos que a política educativa do PS Açores está a sacrificar perpetuando conhecidos problemas estruturais que se constituem como barreiras ao desenvolvimento.
Ponta Delgada, 10 de Fevereiro de 2011
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 16 de Fevereiro de 2011, Angra do Heroísmo
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