domingo, 16 de março de 2014

Desordem ordenada


Não te esqueças. Dizes enquanto te afastas. Ainda esboço uma tentativa para que, mesmo lá de longe, me digas do que não me devo esquecer. Já não me ouves, já não me vês, e eu fico sem saber do que não me devo esquecer. Quero lembrar-me. Tenho tanto para não esquecer, e lembro-me. Mas como será que me posso lembrar, do que queres que não me esqueça, se te esqueceste de me dizer do que me devia lembrar.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 15 de Março de 2014

foto => Madalena Pires

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

"O esquecimento, freqüentemente, é uma graça. Muito mais difícil que lembrar é esquecer! Fala-se de “boa memória”. Não se fala de “bom esquecimento”, como se esquecimento fosse apenas memória fraca. Não é não.
Esquecimento é perdão, o alisamento do passado, igual ao que as ondas do mar fazem com a areia da praia durante a noite."
Rubem Alves