segunda-feira, 2 de outubro de 2017

O tempo é bom conselheiro

Foto by Aníbal C. Pires
Os resultados eleitorais são conhecidos e estão, total ou parcialmente digeridos pelos candidatos e pelas forças políticas que representavam. A diversidade dos resultados e os localismos permitem legitimamente leituras de vitória e derrota. Tudo pode ser relativizado, mas sobre resultados eleitorais escreverá quem sabe, Eu não. Pode o leitor continuar a ler que não o vou maçar com qualquer comentário, reflexão ou opinião sobre tão apaixonante assunto. Apaixonante sim, sem qualquer espécie de ironia. Escuso-me de momento a tecer qualquer consideração sobre o assunto que hoje estará nas primeiras páginas. E é exatamente por isso, por estar a ser dissecado por uma profusão de especialistas que o não faço, vamos ouvi-los e lê-los, vamos deixar assentar a poeira e depois, até pode ser que sim, mas o mais provável é que não chegue a vir a terreiro para tecer qualquer consideração sobre o assunto, ou talvez não. A seu tempo virei, sobre isso não tenho grandes dúvidas, a comentar e dar a minha opinião sobre os efeitos dos resultados das autárquicas de 2017 na política nacional.
Alguns leitores estão, com toda a legitimidade, a pensar que esta minha recusa, ou escusa como vos aprouver, tem a ver com os resultados nacionais da força política onde milito que, como sabem, perdeu importantes posições. Também não, mas pensarão os leitores o que muito bem entenderem é um direito que vos assiste, e a mim também e, pensar faz bem. Faz bem e não dói.

Foto by Madalena Pires
Há uns anos atrás, talvez em 2006 ou 2007, o mês era Janeiro e o ano contava já com 6 dias, numa conversa informal com um antigo Secretario Regional dos Governos do PS foi-me perguntada opinião sobre um assunto que ele estava a pensar propor, ao que respondi que ainda não tinha uma opinião acabada sobre o assunto e que precisava de mais algum tempo para a discutir com os meus pares. Necessitava de aprofundar a reflexão, mas que depois teria todo o prazer em lhe transmitir o resultado dessa construção coletiva. O comentário à minha resposta foi imediato, O vosso mal, o mal dos comunistas é que pensam muito, assim nunca irão longe. Face a esta opinião que nem sequer procurei rebater pois, nada do que eu viesse a aduzir em defesa da importância do tempo para refletir, discutir e partilhar opiniões para chegar, desde logo, a uma posição consensual, mas também a um compromisso que melhor pudesse servir, no caso, os interesses de um segmento da população açoriana, iria adiantar a uma ideia preconcebida sobre os comunistas e a uma forma de estar e fazer política que sendo imediatista, tem sucesso. Sucesso eleitoral tem-no e os sucessivos resultados eleitorais assim o demonstram, o sucesso das soluções adotadas é que nem sempre corresponde às expetativas criadas e às que melhor servem os cidadãos a quem se dirigem. Sobre o sucesso de algumas soluções decididas pela pressão do imediatismo tenho algumas dúvidas e muitas certezas, aliás se os leitores atentarem ao tempo que medeia entre este episódio e o presente, passou mais de uma década, posso garantir que o tempo se encarregou de demonstrar que questão que me foi colocada e foi posta em prática foi há muito alterada, mas enquanto esteve em vigor prejudicou centenas, muitas centenas de cidadãos.
Evito, sempre que me é possível, o imediatismo. O tempo, dizem, é bom conselheiro. Acredito que sim.
Ponta Delgada, 01 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 02 de Outubro de 2017

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