quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A poesia e a condição de ilhéu

Ponta Delgada vai ser esta semana a “Cidade dos Poetas”, sendo ela, a cidade, berço de nomes como Antero de Quental e Natália Correia. Não, não me esqueci de outros poetas que aqui nasceram, aqui viveram ou aqui vivem, mas Antero e Natália são nomes que vão para lá desta cidade, destas ilhas, deste país e, como não quero, sobre este assunto, dar o mote para promover polémicas estéreis apenas referenciei dois nomes maiores da poesia, do pensamento e da cultura portuguesa. Nasceram em Ponta Delgada (concelho), mas a sua dimensão vai muita para lá da cidade e da ilha onde nasceram.
O I Encontro Internacional de Poesia – A condição de Ilhéu vai reunir de 12 a 14 de Outubro, em Ponta Delgada, poetas ilhéus. Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde e Itália vão estar representados neste encontro de celebração da poesia que podendo não ser de temática insular, tem em comum a condição de ilhéu dos seus autores.
O encontro é precedido, e bem, pela inauguração da Exposição de Pintura da Macaronésia, no dia 11, na Academia de Artes de Ponta Delgada. O programa do encontro é conhecido, mas não posso deixar de referenciar o lançamento, logo no primeiro dia, do livro “nove”, das Edições Letras Lavadas, que reúne uma coletânea de poemas de autores das nove ilhas dos Açores dando assim a justa dimensão regional ao I Encontro Internacional de Poesia – a condição de ilhéu. Daniel Gonçalves (Santa Maria), Emanuel Jorge Botelho (São Miguel), Álamo Oliveira (Terceira), Victor Rui Dores (Graciosa), Norberto Ávila (São Jorge), Urbano Bettencourt (Pico), Ângela Almeida (Faial), Gabriela Silva (Flores) e Palmira Jorge (Corvo), são os poetas representados nesta coletânea de poesia.
Painéis de debate, encontro dos poetas com alunos do ensino secundário, recitais de poesia e alguns apontamentos musicais fazem antever um final de semana a não perder por quem gosta de poesia. Desde logo para quem a escreve, mas sobretudo para quem a lê no sossego da sua intimidade e viaja e sonha com ela ou, para quem a promove em tertúlias, encontros e recitais. Será o público que dará a necessária dimensão ao I Encontro Internacional de Poesia e com a sua presença uma contribuição imprescindível para o seu sucesso pois, um dos objetivos desta iniciativa é possibilitar ao público o encontro com os autores e a promoção da leitura de textos poéticos. Não é fácil, mas se o fosse dispensavam-se estas iniciativas.

Foto By Aníbal C. Pires
Se atendermos apenas à temática proposta e ao encontro de poetas que têm em comum a condição de ilhéus, por nascimento ou por opção, diria que, só por esse facto a iniciativa, anunciada aquando da “Festa do Livro”, a meados de Julho de 2017, já merece ser aplaudida.
A realização desta iniciativa cultural vai, certamente, provocar algumas reações negativas, afinal com tantas outras coisas importantes para fazer para que raio vai uma cidade promover a poesia. A cultura não gera riqueza, não há quem a leia e as editoras não estão disponíveis para promover nem a poesia, nem os poetas. Por isso mesmo este encontro deve merecer o nosso aplauso e sobretudo uma grande adesão dos amantes da poesia.
José Marti, também ele um ilhéu, dizia: “Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro”.
Ponta Delgada, 09 de Outubro de 2017

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 11 de Outubro de 2017

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