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Foto by Aníbal C. Pires |
Não só, outros profissionais também, mas os docentes nos Açores opõem uma grande resistência a tudo o que seja luta. Aquela luta que dói, aquela luta que exige sacrifício, aquela que obriga a mobilização para lá do sofá. Luta mesmo, luta a sério nem por isso, mas disponibilidade para subscrevem petições e abaixo assinados têm para dar e vender, mas não se ficam por aí são, também, grandes ativistas nas redes sociais onde podemos observar a sua dinâmica reivindicativa, nem sempre bem formulada, mas quase sempre, na procura da solução para o seu problema e, quase nunca sem conseguirem olhar para lá do seu umbigo. Qual visão holística, qual quê.
A greve nacional dos professores teve uma adesão que rondou os 90%, e logo pela manhã, desse dia de luta, quando o poder percebeu a dimensão da greve dos educadores e professores veio a terreiro, pela voz de uma Secretária de Estado, abrir uma nesga de possibilidade para entendimentos com os sindicatos dos educadores e professores. Ao fim do dia já com a contabilidade dos números de adesão à greve e com a manifestação dos docentes às portas da Assembleia da República(AR), abriu-se um postigo, O Governo da República agendou reuniões com os sindicatos. A reunião realizou-se e, ao fim de 10 horas de negociações, abriu-se uma porta, foi anunciado um compromisso, Não um acordo, entenda-se. Um compromisso que lança as bases para entendimentos negociados para que as reivindicações dos educadores e professores sejam satisfeitas.
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Foto by Aníbal C. Pires |
Tudo isto aconteceu no espaço de dias e ficou a dever-se, parece-me que sobre isso ninguém tem dúvidas, à greve nacional de professores, à manifestação às portas da AR, e a outras lutas anunciadas e, entretanto, desconvocadas face ao compromisso assumido pelo Governo da República.
E nos Açores, Bem nos Açores a grande maioria dos docentes, cerca de 90%, optou por não fazer greve, nem aderir às concentrações convocadas, para as 16 horas do dia da greve. Julgo que o Governo Regional pode, assim, concluir que a maioria dos educadores e professores dos Açores estão satisfeitos e, nem sequer terá necessidade de aplicar na Região nada do que os docentes continentais irão beneficiar. Pode o senhor Vice-presidente do Governo Regional ficar descansado que não vai ter de fazer alterações orçamentais em 2018 para reposicionar os docentes porque a maioria dos educadores e professores dos Açores considera justas as medidas de congelamento das carreiras e do tempo de serviço, os horários, a idade da reforma, enfim e outras questões de somenos importância. Eu e mais 10% dos educadores e professores, os que aderimos à greve, Não. Não e continuaremos a lutar por aquilo que é nosso e que nos foi subtraído para financiar do setor financeiro nacional que faliu por atividades especulativas, corrupção ativa, tráfico de influência e outros tráficos. No presente a banca está a apresentar resultados positivos, talvez seja este o tempo de devolverem o dinheiro que nos foi roubado.
É claro que a fraca adesão à greve dos educadores e professores dos Açores não se relaciona com a sua satisfação face à desvalorização profissional a que foram e estão sujeitos. As razões porque não aderiram são de diversa ordem, mas não posso deixar de enumerar algumas que se destacam do conjunto de justificações para terem “furado” a nossa luta.
A primeira justificação e, quiçá a única atendível, Não fiz greve porque sou contra essa forma de luta. Tudo bem colegas, então talvez seja melhor abdicarem de tudo quanto foi conquistado através da greve. E lá se iria o horário de trabalho, os dias de descanso, o vínculo, os subsídios de férias e de Natal, o período de férias pago, etc., etc.
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Foto by Aníbal C. Pires |
A segunda justificação, estamos a falar dos professores dos Açores, poderá ter sido o argumento que o assunto deve ser resolvido a nível regional. E que sim, estarei disponível para greves regionais. Pois bem na Região imperam os normativos do Orçamento Geral do Estado ou, pelo menos essa é a justificação para que se continuem a manter o congelamento do tempo e das carreiras, logo o melhor é derrotar esse argumento contribuindo para que na República a situação se altere, como parece que vai acontecer face à greve do passado dia 15 de Novembro, ainda que os educadores e professores da Região pouco tenham contribuído para isso. Se existem questões que penalizam apenas um grupo de professores nos Açores, É verdade assim é. E esta questão, ao contrário do que tem sido feito crer, tem sido e foi de novo equacionada na luta e nas concentrações que se realizaram na Região. A posição sindical, pelo menos de um dos sindicatos, é clara, ninguém perderá um dia de serviço para a progressão na carreira, seja esse dia resultante do congelamento ou, de uma qualquer espúria norma transitória. Tudo a seu tempo.
Por fim o ininteligível posicionamento do sindicato reformista que dá pelo acrónimo de SDPA. O Presidente desta organização veio a terreiro desmobilizar os educadores e professores açorianos de uma luta que é comum a todos os docentes portugueses, independentemente da região onde lecionam. Ainda estou para perceber qual será o posicionamento dos educadores e professores que estão associados nesta organização, face a esta decisão do Presidente do SDPA. Se isto não é uma traição à luta dos educadores e professores dos Açores, então não sei o que lhe chame.
A influência do Presidente do SDPA, não dos seus dirigentes e associados note-se, no seio dos docentes açorianos será tanta como a influência que eu tenho junto da Câmara do Comércio e Indústria dos Açores, Nenhuma. Não terá sido pelo que o Presidente do SDPA afirmou, contrariando a sua federação, que a adesão à greve nos Açores foi vergonhosa, mas que serviu para alimentar as esfarrapadas desculpas que os meus colegas costumam utilizar para não fazer greve, Lá isso serviu. E o Presidente do SDPA sabe disso, Oh se sabe.
Ponta Delgada, 19 de Novembro de 2017
Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 20 de Novembro de 2017