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Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM
Hoje fica o texto da crónica emitida a 24 de Fevereiro de 2018 que pode ser ouvida aqui
Causa-efeito
Os cidadãos estão fartos da política e dos políticos. Não acreditam na política, mas eu diria que não é uma questão de fé, talvez seja melhor participar para transformar e exigir.
Dos políticos diz-se profusamente serem todos iguais, o que não corresponde, de todo, à realidade. E quando faço o reparo dizem-me, Ok tá bem, não são todos iguais, mas tu percebes. Perceber até posso perceber, mas importaria que fosse igualmente entendido que esta generalização tem um objetivo. Produzir um efeito massivo que serve quem domina e subjuga os tais políticos todos iguais, porque há quem seja diferente, para impor uma certa forma de estar e de pensar. Não vale a pena, sempre assim foi e sempre assim será. Nada mais errado, mas sobretudo perigoso.
Ideologia, Mas o que é isso. Lá foste desenterrar mais um fóssil. Sabes bem que a história e as ideologias têm o certificado de óbito passado e assinado já lá vão umas dezenas de anos.
E assim se vai construindo um Mundo à margem da participação dos cidadãos, sem que a maioria de nós chegue a perceber que com esta promoção do descrédito e do afastamento dos cidadãos na construção de soluções politicas se está a cumprir uma ideologia, nem mais. Na verdade, são os ideólogos desta crença que prolifera perigosamente que nos estão a impor uma certa forma de vida, uma mesma maneira de pensar e de consumir de forma padronizada.
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Quanto à política, mesmo que nos digam que está despojada de ideologia, é ela que conforma a nossa vida e as nossas opções que não sendo ideológicas, nos são impostas por uma ideologia cujo principal princípio é a negação das ideologias.
Exemplos não faltam da relação direta entre causa-efeito.
Quanto mais alastra a pobreza maior é a concentração da riqueza. Paradoxal, mas na verdade como a pobreza está diretamente ligada à distribuição do rendimento é a pobreza que produz a riqueza. Não elevar o rendimento de quem trabalha, única forma de combater a pobreza, é uma opção política e ideológica por mais que nos digam que não. E na verdade há políticos e partidos políticos que advogam esta ideologia, e para combater a pobreza optam por delinear planos e pelo assistencialismo. São opções… opções ideológicas.
O direito à habitação, assim como o direito à saúde, à educação e à segurança social são direitos constitucionais. E a generalidade de nós está de acordo com eles, não os questiona. Mas aceita, também sem questionar, por exemplo, que para garantir o direito constitucional à habitação as opções tenham sido desenhadas mais para satisfazer os interesses da banca do que a necessidade dos cidadãos. Os resultados são conhecidos e tiveram foros de grande dramatismo com a crise. Foi uma opção… uma opção ideológica.
Como opção ideológica foi, e é, a transferência de competências dos Estados para a chamada sociedade civil com os resultados conhecidos, sejam eles de sonho, de risco, ou raríssimos.
Não é demitindo-nos que combatemos estas opções que nos escravizam. Procurem-se as causas para perceber os efeitos e, sobretudo, o objetivo ideológico que lhe está subjacente.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 2018
1 comentário:
O povo está cansado. Isso é um facto e compreende-se, por diversas razões, entre elas a constatação de que tudo continua na mesma ou quase. Todavia, a inércia é um perigo e seguir esse caminho leva a que não se contribua para a mudança e se entre no conformismo. Já dizia Honoré de Balzac "A inércia é um suicídio cotidiano".
Um abraço.
Margarida
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