quinta-feira, 15 de abril de 2021

apenas a solidão os acompanha

imagem retirada da internet



fragmento de texto escrito a 

21 de dezembro de 2009 e hoje revisitado






(..) Às aldeias falta o riso das crianças, as antigas escolas primárias transformaram-se em centros de convívio para idosos, os antigos hospitais das misericórdias em lares para a terceira idade e os jovens adultos retomaram os caminhos da emigração.

foto by Aníbal C. Pires
Os lugares envelheceram e não há como escondê-lo por detrás da maquilhagem proporcionada pelos programas da União Europeia. As pessoas, pelo contrário, não escondem o tempo que por elas passou, nem escondem o seu desagrado pela forma como os lugares se foram exaurindo e transformando em espaços vazios de oportunidades onde apenas medram as atividades geriátricas.

Para as mulheres e homens em idade ativa não há lugar no espaço rural do interior continental que se transforma inexoravelmente num gigantesco lar de idosos. 

Nos anos sessenta e meados de setenta, para além dos idosos ficaram as crianças e as mulheres, os homens estavam na guerra colonial ou emigrados. Hoje os tempos são outros e os homens já não partem sozinhos, nem as mulheres se quedam por serem mulheres. Os idosos ficam, como sempre, desta vez sem crianças nem mulheres, apenas a solidão os acompanha no último pedaço de tempo que lhes falta ainda cumprir. (..)



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