quinta-feira, 24 de março de 2022

efeitos das sanções

imagem retirada da internet

A "comunidade internacional", tal como é referida pelos protagonistas políticos e pelos jornalistas da nossa praça, representa menos de metade da população mundial. E ao analisar, ainda de que forma grosseira, o mapa-múndi verificamos, com facilidade, como alguns conceitos nos iludem e distorcem a realidade. Dir-me-ão que nós fazemos parte. Sim, no mapa estamos lá. Como povo não será bem assim. Nem somos tão brancos como alguns de nós gostam de pensar, mas somos periféricos e pobres. 
Não temos dimensão territorial, populacional, política e económica que nos valha para alguma coisa. Para não dizer, apenas, que neste contexto pouca valia temos, refiro a Base das Lajes, na Terceira e a sua importância geoestratégica da qual, como sabemos, Portugal não sabe, nem nunca soube retirar daí algum proveito, por outro lado sendo Portugal membro da NATO aquela importante infraestrutura no corredor atlântico está, por força dessa condição, ao dispor dos Estados Unidos.

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A "comunidade internacional" sancionou a Rússia pela invasão da Ucrânia. Julgo que as sanções contra um país, seja qual for, não atingem os objetivos que os anúncios políticos procuram justificar. Os povos sim! Os que são alvo das sanções e os povos cujos governos aderem às sanções. Os bloqueios económicos e financeiros atingem duramente os povos, aliás em Portugal que, também, sanciona a Rússia estamos já assistir a uma escalada dos preços, ainda que, considere que estes aumentos, ainda, não se relacionam diretamente com a invasão da Rússia à Ucrânia, nem tampouco, com a sanções que foram decretadas pela “comunidade internacional” à Federação Russa. 

Não aceito sanções económicas a nenhum povo, considero isso criminoso. Por outro lado, como medida política, as sanções, como a história comprova, são de eficácia reduzida, para não dizer nula. Vejam-se os inúmeros países que são alvo de sanções e os efeitos que têm produzido. Falta de bens de primeira necessidade, medicamentos, carestia de vida, etc., etc.. Ou seja, as sanções penalizam os povos e unem-nos contra os “inimigos externos”. No caso das sanções à Rússia e pelo que me é dado saber, aliás é do domínio público, pode muito bem acontecer que as economias dos países que subscreveram as sanções venham a ser mais prejudicados que a economia e o sistema financeiro do país alvo.

A invasão da Ucrânia vai penalizar fortemente a economia russa, não tenho dúvidas, não tanto pelas sanções da “comunidade internacional, mas sobretudo pelos custos associados ao esforço de guerra, já despendidos, e pelo que virá a ser aduzido enquanto não for assinado um cessar fogo, ou um tratado de paz. 

Pelo que já é do domínio público começa a configurar-se que as economias europeias, os Estados Unidos também, mas por via de alterações, já anunciadas, ao sistema monetário internacional, vão ser fortemente penalizadas. 

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As economias europeias por insistirem em afetar recursos públicos no apoio em material de guerra para a Ucrânia, que em grande parte é de imediato destruído ou apreendido pelos russos e entregue à defesa das Repúblicas de Donestk e Lugansk, pela dependência energética da Rússia, mas também pela desdolarização da economia mundial que já teve o seu início há algum tempo e que agora tende a acentuar-se, com a Rússia a exigir que o pagamento do fornecimento energético à Europa seja feito em rublos russos, a Índia a comprar petróleo à Rússia e fazer o pagamento em rupias, a Arábia Saudita a mostrar disponibilidade para vender petróleo à China, em yuans.

A União Europeia continua a assobiar para o lado e parece que ainda não percebeu que, tal como a Ucrânia, não passa de um peão de brega nesta guerra que, não é difícil de perceber, vai muito para além do conflito armado. Ao manter este posicionamento, a União Europeia poderá estar a trilhar o caminho da autodestruição enquanto comunidade de estados.


Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de março de 2022


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