quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

sobre a imprescindibilidade do "bom" trabalhador

Li, há pouco, numa publicação no Facebook, um trabalhador que exprimia assim o seu posicionamento face às propostas de alteração ao Código de Trabalho, vulgo Pacote Laboral. Dizia então o trabalhador: “Um bom trabalhador não tem medo da reforma laboral!!!”

Pode também ser entendida como a autojustificação para não ter feito greve, mas é mais do que isso.

Esta afirmação denota uma ideia de imprescindibilidade, ou seja, isto nunca se vai aplicar a mim, pois o empregador e a empresa necessitam do meu trabalho e eu tenho um desempenho laboral reconhecido.

Esta ideia de imprescindibilidade alimenta-se, paradoxalmente, da própria lógica patronal que, enquanto valoriza essa dedicação, usa-a para quebrar a solidariedade coletiva, ou seja, a única força real que os trabalhadores têm quando enfrentam alterações profundas nas regras do jogo, como as constantes neste Pacote Laboral.

É importante que tenhamos consciência de que ser imprescindível não é uma qualidade individual, mas uma ilusão construída sobre a atomização do trabalho. Quando um trabalhador se julga acima da luta comum, esquece que os direitos que hoje considera adquiridos como sejam férias, horário de trabalho, proteção social ou a contratação coletiva, entre outros direitos; não nasceram do mérito individual, mas da união e da luta de muitos que, ousaram fazer greve, manifestar-se, exigir respeito, exigir dignidade. 

A greve revela, com a nitidez de um espelho, que ninguém é essencial sozinho, mas todos se tornam essenciais quando agem em conjunto.

Os trabalhadores, os que têm consciência de classe, estão de greve.

Os que se julgam imprescindíveis e interiorizaram que são colaboradores ao invés de trabalhadores e, por esse motivo, não fizeram greve. Serão vítimas da voragem neoliberal e, sobretudo, dispensáveis se o Pacote Laboral não for derrotado, tal como todos os outros. 

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 11 de dezembro de 2025


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