Pode também ser entendida como a autojustificação para não ter feito greve, mas é mais do que isso.
Esta afirmação denota uma ideia de imprescindibilidade, ou seja, isto nunca se vai aplicar a mim, pois o empregador e a empresa necessitam do meu trabalho e eu tenho um desempenho laboral reconhecido.
Esta ideia de imprescindibilidade alimenta-se, paradoxalmente, da própria lógica patronal que, enquanto valoriza essa dedicação, usa-a para quebrar a solidariedade coletiva, ou seja, a única força real que os trabalhadores têm quando enfrentam alterações profundas nas regras do jogo, como as constantes neste Pacote Laboral.
É importante que tenhamos consciência de que ser imprescindível não é uma qualidade individual, mas uma ilusão construída sobre a atomização do trabalho. Quando um trabalhador se julga acima da luta comum, esquece que os direitos que hoje considera adquiridos como sejam férias, horário de trabalho, proteção social ou a contratação coletiva, entre outros direitos; não nasceram do mérito individual, mas da união e da luta de muitos que, ousaram fazer greve, manifestar-se, exigir respeito, exigir dignidade.
A greve revela, com a nitidez de um espelho, que ninguém é essencial sozinho, mas todos se tornam essenciais quando agem em conjunto.
Os trabalhadores, os que têm consciência de classe, estão de greve.
Os que se julgam imprescindíveis e interiorizaram que são colaboradores ao invés de trabalhadores e, por esse motivo, não fizeram greve. Serão vítimas da voragem neoliberal e, sobretudo, dispensáveis se o Pacote Laboral não for derrotado, tal como todos os outros.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 11 de dezembro de 2025

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