segunda-feira, 30 de abril de 2018

... da coesão e da continuidade territorial

Foto by Aníbal C. Pires











Excerto de texto a publicar na imprensa regional e, também, no blogue momentos.








(...) Somos uma Região Autónoma portuguesa e face à União Europeia uma Região Ultraperiférica, assim, e desde logo, a política de transporte de passageiros, mas também de mercadorias, deve ser integrada no princípio da coesão e continuidade territorial, de onde decorre que os custos associados à mobilidade não podem ser ditados pelo mercado. Não beneficiamos de investimentos nacionais e comunitários que garantem a mobilidade e a circulação no espaço continental da União Europeia. A compensação é-nos devida e deve ter reflexos nos custos de transporte aéreo na e para a Região.
Qualquer modelo de transporte aéreo na e para a Região deve ser desenhado tendo como prioridade a mobilidade dos residentes e a satisfação das necessidades da economia regional, seja no plano do mercado interno, seja no plano das exportações e importações, onde incluo, necessariamente, o turismo. Ou seja, o modelo tem de ser compaginável com estes interesses, sob pena, se assim não for, de se constituir como fator de estrangulamento a um direito elementar que é o direito ao não isolamento e à mobilidade, mas também ao desenvolvimento regional. (...)

sábado, 28 de abril de 2018

Da inutilidade dos rankings - crónicas radiofónicas

Foto by Aníbal C. Pires







Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Fevereiro de 2018 que pode ser ouvida aqui






Da inutilidade dos rankings

Por vezes não, outras vezes sim, outras vezes assim, assim. É o que anualmente resulta da leitura dos rankings das escolas. Vai tudo ao sabor da vaga que ora sobe, ora desce e, claro o discurso político do poder e de alguma oposição acompanha a maré. Umas vezes valoriza-se, outras desvaloriza-se.
Para si, não sei, quanto a mim não tenho a menor das dúvidas: os rankings das escolas são uma completa inutilidade para o sistema educativo. E, bem vistas as coisas, apenas servem como argumento para dirimir politicamente o suposto sucesso ou insucesso das políticas educativas, mas sobretudo e até agora a sua serventia tem apenas dado sustentação a uma campanha ideológica que visa denegrir o ensino público e enaltecer o ensino privado. Tudo, é claro, em nome do mercantilismo da educação. Como se a educação fosse um bem transacionável e não um direito constitucional.
Pergunta-me se considero que os sistemas, seja o educativo ou outro, não devem ser avaliados. Claro que devem, aliás só é possível introduzir alterações em resultado de processos de avaliação. Esse é o grande, diria único, objetivo da avaliação. Corrigir para melhorar. Seja a avaliação das aprendizagens, seja a avaliação de desempenhos profissionais, seja a avaliação organizacional e empresarial, seja a avaliação do sistema educativo.

Foto by Aníbal C. Pires
De um processo de avaliação resulta, ou devia resultar, informação relevante e objetiva que sustente mudanças, que corrija procedimentos, que altere percursos de aprendizagem, que identifique e reforme as variáveis que provocam disfunções nos sistemas, seja ele o sistema educativo, ou outro. Mas da suposta avaliação externa com que os rankings das escolas são apresentados à opinião pública, nada resulta. Nada resulta, nem poderia resultar pois não se trata de uma avaliação, mas tão só de mensurar um determinado momento e apenas uma variável.
A pertinência desta temática está relacionada com a recente divulgação dos rankings das escolas de 2017. Os resultados são os habituais, nada de novo, ou pelo menos nada de significativo para que a posição do Governo Regional não fosse a habitual, ou seja, a desvalorização deste indicador. Mas talvez porque os resultados das escolas açorianas observaram uma ligeira subida na tabela o Governo regional, embora de forma tímida, mas não inocente, lá publicou uma nota de satisfação pelo facto.
O assunto não mereceria sequer a minha atenção, nem o traria para esta conversa consigo, não fora o caso de as festividades estarem agendadas para a próxima semana durante o Plenário de Fevereiro da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
E quem agendou a festa foi o PS utilizando a figura regimental de interpelação ao Governo. Festa que se prevê de autoelogio e adulação a si próprios e, às políticas educativas do seu governo, certamente, com particular ênfase ao afamado, mas mal-amado, programa ProSucesso.
Diria que vai ser lindo de ver e ouvir os deputados do PS branquearem tudo, o que em anos anteriores, afirmaram sobre os rankings para agora enaltecerem as políticas educativas regionais sustentando as suas afirmações na ligeira subida que se verificou, em 2017, nas escolas da Região. E assim se percebe a moderada posição do Governo aquando da divulgação dos rankings de 2107, bem assim como se entende que esse comedimento não era, de todo, inocente. A coisa merecia destaque parlamentar com o consequente show mediático.
A gargalhada parlamentar da oposição vai ser geral, embora alguma oposição esteja amarrada à defesa da importância dos rankings como elemento determinante da avaliação do sistema educativo, pelo que também se antevê interessante como será a abordagem para desconstruir o discurso de sucesso que o PS, certamente, irá fazer para sancionar as inovadoras políticas educativas do Governo regional cuja síntese é o tal ProSucesso.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Fevereiro de 2018

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Opiniões asséticas, O que é isso.

Imagem retirada da Internet
As crónicas de opinião são, isso mesmo, a opinião de quem a escreve e partilha. Podem até estar, e estão geralmente, associadas à informação que o autor tem disponível sobre o tema sobre o qual opina e com a qual pretende, não só exprimir o que pensa, mas também influenciar a opinião de outros. Sendo legítimo não é, porém, um processo inócuo e muito menos imparcial, ainda que não se possa generalizar pois, alguns autores evitam a abordagem de temas da atualidade, ou mesmo de factos históricos sobre os quais existe um distanciamento que permite emitir opinião com maior rigor e objetividade. Mas, ainda assim, os leitores não devem, digo eu que também publico opinião, deixar-se embalar pela prosa elaborada que, muitas das vezes, vem embrulhada como se tratasse de um assunto anódino, mas que bem analisado pretende atingir um determinado objetivo. Cronistas independentes, Não conheço.
Isto tudo a propósito de uma, entre outras, crónica radiofónica que versava sobre o atual presidente francês e uma sua recente ida ao Parlamento Europeu. Emmanuel Macron discursou perante um plenário onde era visível a contestação de alguns deputados à sua presença. Não por ser presidente de França, mas por ter em conjunto com a Inglaterra e os Estados Unidos ordenado o bombardeamento de um país soberano, infringindo a Carta das Nações Unidas e o Direito Internacional. Mas voltemos à crónica radiofónica a que me referi. O seu conteúdo fazia um resumo do pensamento político de Macron, designadamente o seu afastamento de qualquer ideologia política, do percurso que o levou à presidência de França e o futuro que, segundo o cronista, lhe estará predestinado no porvir próximo da União Europeia. Para Sena Santos, o cronista que ouço nas manhãs da Antena 1, Macron é uma promessa, assim como o timoneiro que irá dar um novo rumo à União Europeia. Enfim, uma opinião respeitável como qualquer outra, mas discutível como o são todas as opiniões.
 
Imagem retirada da Internet
Sena Santos não dedicou uma só palavra ao envolvimento francês, a mando de Macron, na agressão à Síria, nem à forte contestação popular de que o presidente é alvo no seu país, nem ao repúdio que alguns deputados do Parlamento Europeu expressaram contra a sua presença. Assim, só posso concluir que Sena Santos mais não pretendeu, com esta crónica, do que limpar a imagem de Macron e projetá-lo como protagonista de uma nova geração de políticos europeus ideologicamente assépticos. Como se isso fosse possível, como se as decisões políticas e o pensamento que lhe subjaz e, suporta as decisões políticas não fosse intrinsecamente ideológico e servisse, neste caso, os interesses de uma escassa minoria de cidadãos que detêm o poder financeiro que Macron serve e, do qual Sena Santos, ao que parece, é mais um acrítico prosélito.
Sena Santos ainda vai dando uma no cravo e outra na ferradura, mas há por aí muitos outros cronistas de opinião que nem se dão ao trabalho de o fazer, e, sob a capa da opinião independente papagueiam velhas significações com os vocábulos dos tempos modernos. Novas palavras a mesma semântica.
Mais grave ainda são os conteúdos informativos que, não raras vezes, trazem uma opinião ou juízo associado. Prática que descredibiliza a profissão e coloca em causa a importância da comunicação social. Não faltam por aí exemplos, maus exemplos de jornalistas a quem o erário público paga chorudamente, mas que não se coíbem de na descrição da notícia, que se devia resumir aos factos, emitirem opinião e juízos.
Se os meus textos de opinião são imparciais, Claro que não, mas não são do lado dominante, são do lado esquerdo. Por isso, talvez por isso não falte por aí quem os abomine e até gostasse de me manter calado, como num destes dias verifiquei ao ler um comentário online, num dos meus textos de opinião, que dizia apenas, Cala-te. Ou seja, dizia tudo.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 24 de Abril de 2018

terça-feira, 24 de abril de 2018

... sem ideologia, mas ao seu serviço

Foto by Madalena Pires (2018)








Excerto de texto a ser publicado amanhã na comunicação social regional e neste blogue













(...) Mas voltemos à crónica radiofónica a que me referi. O seu conteúdo fazia um resumo do pensamento político de Macron, designadamente o seu afastamento de qualquer ideologia política, do percurso que o levou à presidência de França e o futuro que, segundo o cronista, lhe estará predestinado no porvir próximo da União Europeia. Para Sena Santos, o cronista que ouço nas manhãs da Antena 1, Macron é uma promessa, assim como o timoneiro que irá dar um novo rumo à União Europeia. Enfim, uma opinião respeitável como qualquer outra, mas discutível como o são todas as opiniões. (...)   

segunda-feira, 23 de abril de 2018

... do gosto pelos livros

Foto by Aníbal C. Pires (2018)
Hoje comemora-se o Dia Mundial do Livro, mas não vou fazer a apologia do livro, nem sequer sugerir este, ou aquele título como leitura. Essa escolha, assim como a opção entre ler ou não ler, é sua, como em tudo na vida.
Não tenho um livro nem um autor que prefira, aliás tenho sempre muita dificuldade quando me perguntam, De qual gostas mais. Seja a pergunta sobre música, literatura, gastronomia, países, cidades, cinema, ou o que quer que seja. O meu gosto não é dado a exclusividades, o que não significa que goste de tudo, Não, também não é assim. Sei do que gosto e porque gosto, mas não rejeito novas experiências, só conhecendo posso dizer se é, ou não do meu agrado.

Foto by Aníbal C. Pires (2018)
Neste dia dedicado ao Livro confesso publicamente, Ler é para mim um prazer, e como em tudo o que faço procuro prazer, Leio sempre que tenho um momento para me encantar na busca do prazer que as palavras reunidas num livro me podem proporcionar. É um prazer solitário, Dirá. E talvez assim seja. Mas nem por isso deixa de me saciar a vontade de conhecer, de viajar, de fazer parte de uma estória escrita num qualquer rincão deste planeta. E isso é bom, muito bom.
Ó meus deuses como é bom.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 23 de Abril de 2018

Transportes aéreos III – Turismo e transporte aéreo

Foto by Aníbal C. Pires
(continuação)

Com este terceiro texto dou continuidade a esta reflexão sobre transportes aéreos nos e para os Açores, mas não se esgota aqui esta temática, nem estes textos pretendem mais do que dar conta de alguns aspetos que, na atualidade, dizem diretamente respeito ao transporte aéreo de passageiros nos Açores e de alguma forma podem influenciar ajustamentos ao atual modelo.
Hoje abordo algumas questões relacionadas com modelos de transporte aéreo, bem assim como a sua relação com os operadores turísticos regionais, nacionais e internacionais.
Nos últimos anos o destino turístico Açores cresceu visivelmente. Este crescimento fica a dever-se a um conjunto de fatores e não apenas à liberalização das rotas de S. Miguel e da Terceira, como em análises superficiais e de conveniência nos querem fazem crer.
O investimento regional na promoção do destino, a adequação da oferta à singularidade do destino, a instabilidade e a insegurança dos destinos da margem Sul da bacia do Mediterrâneo e do Médio Oriente, ao qual se junta, por fim, a liberalização das rotas já referidas, são os fatores que mais terão influenciado o crescimento do turismo nos Açores.

Foto by aníbal C. Pires
Ainda antes de 2015, ou seja, antes da liberalização das rotas de S. Miguel e da Terceira, o turismo nos Açores apresentava, em particular na ilha do Pico, indicadores de crescimento. Mesmo nos anos em que a crise foi mais sentida, o turismo nos Açores por razões diversas, as quais já referi e irei aprofundar mais adiante, conseguiu manter níveis aceitáveis de rentabilidade, ou mesmo de crescimento. Uma das principais razões que contribuíram para esta estabilidade no setor decorre de um artificialismo, alocação indireta de fundos públicos para garantir fluxos turísticos, desta opção decorre, em parte, o problema financeiro da SATA Internacional/Azores Airlines, pois a Região usou como instrumento desta estratégia o Grupo SATA. Os atuais problemas financeiros do Grupo SATA não se confinam a esta opção política, mas não deixa de ter alguma importância. Mas os fundos públicos foram igualmente alocados ao patrocínio de voos charters para a ilha de S. Miguel, com oferta de voo para outra ilha açoriana na SATA Air Açores. Tudo isto é do domínio público e todos nos habituámos a ver no aeroporto de Ponta Delgada, uma vez por semana, aeronaves de transportadoras aéreas europeias vindas de algumas cidades do Norte da Europa, em regime de voos charters. Existe, contudo, uma outra razão para que, mesmo nos anos negros da crise, os fluxos turísticos para os Açores, em particular para algumas ilhas, tivesse até aumentado. E essa não decorre de nenhum artificialismo, mas de uma estratégia promocional e da adequação da oferta às singulares caraterísticas do destino açoriano. Alojamento diferenciado e oferta de programas ligados à terra e ao mar, potenciando as condições naturais e ambientais. A ilha do Pico será o paradigma quer no que concerne à adequação da oferta de alojamento, quer ainda no que concerne à valorização do seu património natural e paisagem humanizada, mas o mergulho em Santa Maria e o “bird watching” na ilha do Corvo, são também dois bons exemplos e não são únicos.

Foto by Aníbal C. Pires
Mas tudo isto para evidenciar que os operadores turísticos e as transportadoras aéreas complementam-se. Os fluxos turísticos, apesar do paradigma se estar a alterar, dependem muito da dinâmica que os operadores turísticos regionais imprimirem à sua atividade e às parcerias que consigam estabelecer com as suas congéneres nacionais e internacionais. As transportadoras aéreas de baixo custo, as ligações regulares das companhias de bandeira e os voos charters são, digamos, instrumentais destes empreendimentos.
Um bom exemplo do que falo é a entrada da DELTA no mercado aéreo da Região que, como se sabe, causou alguma perplexidade e serviu, como é habitual, para acicatar bairrismos e como arma de arremesso político, embora ancorados em falsas premissas. A vinda da DELTA até pode ter constituído uma surpresa, e para mim foi, mas procurei saber porquê este súbito interesse da DELTA na rota Nova York/Ponta Delgada, por certo não seria pela procura dos açorianos, e claro que não é. A operação terá sido desenhada por operadores turísticos dos Estados Unidos, designadamente um operador ligado à DELTA, que pretende oferecer os Açores como um destino turístico que, por enquanto, está em alta e que tem tido procura por um segmento de cidadãos estado-unidenses. Se existe algum acordo financeiro entre a Associação de Turismo dos Açores (ATA) e os operadores turísticos dos Estados Unidos, desconheço, mas não estranho se ele existir.

Foto by aníbal C. Pires
Falta, ainda, a referência a dois fatores que contribuem para que o setor do turismo apresente taxas de crescimento que enchem de satisfação a generalidade dos cidadãos que veem no turismo a salvação da economia regional e a cura para todas as suas maleitas. A instabilidade e a insegurança de alguns dos tradicionais destinos turísticos e a liberalização das rotas para S. Miguel e Terceira. Quanto ao primeiro, parece-me uma evidência que, na escolha do destino de férias, a segurança seja decisiva, os Açores estão a beneficiar desse facto, não tenhamos dúvidas. Quanto à liberalização das rotas e à entrada de transportadoras aéreas de baixo custo no mercado, sem dúvida que, também, contribuíram para o aumento dos fluxos turísticos, embora seja importante verificar qual a taxa de ocupação/procura por cidadãos residentes e comparar com a taxa de ocupação/procura pelos forasteiros.
Todas estas questões, tal como outras que referi nos textos anteriores, devem ser devidamente tidas em conta, em particular para as “gateways” que não estão liberalizadas. Os voos charter ou soluções como o voo Terceira/Madrid talvez se adequem melhor às necessidades do setor turístico de algumas ilhas do que a liberalização de rotas, como já está a ser preparado para uma das “gateways” do triângulo. E que fique claro que estou a penas a referir-me à canalização de turistas para a Região, a mobilidade dos residentes será abordada no próximo texto.
(continua)
Ponta Delgada, 22 de Abril de 2018

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 23 de Abril de 2018

domingo, 22 de abril de 2018

... não é por acaso

Foto by Aníbal C. Pires








Fragmento de texto a publicar na imprensa regional e também aqui neste blogue.








(...) Um bom exemplo do que falo é a entrada da DELTA no mercado aéreo da Região que, como se sabe, causou alguma perplexidade e serviu, como é habitual, para acicatar bairrismos e como arma de arremesso político, embora ancorados em falsas premissas. A vinda da DELTA até pode ter constituído uma surpresa, e para mim foi, mas procurei saber porquê este súbito interesse da DELTA na rota Nova York/Ponta Delgada, por certo não seria pela procura dos açorianos, e claro que não é. A operação terá sido desenhada por operadores turísticos dos Estados Unidos, designadamente um operador ligado à DELTA, que pretende oferecer os Açores como um destino turístico que, por enquanto, está em alta e que tem tido procura por um segmento de cidadãos estado-unidenses. Se existe algum acordo financeiro entre a Associação de Turismo dos Açores (ATA) e os operadores turísticos dos Estados Unidos, desconheço, mas não estranho se ele existir. (...)

sábado, 21 de abril de 2018

Outros carnavais - crónicas radiofónicas

Foto by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 10 de Fevereiro de 2018 que pode ser ouvida aqui







Outros carnavais

Mais um Carnaval e eu por aqui com Veneza à minha espera, Sim Carnaval só se for em Veneza. Não, não.  O Brasil tem outros encantos para lá do Carnaval e eu prefiro a sedução de outros encantamentos. O Carnaval brasileiro não me atrai, talvez seja pela exiguidade dos trajes dos foliões, prefiro as insondáveis máscaras venezianas e a elaboração das indumentárias, ou seja, gosto de dar asas à imaginação. É muito, mas muito mais excitante.
Por cá Carnaval é na Terceira. Ok, ok, na Graciosa também e, para quem gosta de dançar num espaço confinado pela excessiva lotação, os bailes do Coliseu Micaelense podem constituir-se como uma boa alternativa.
Como não vou a Veneza nem sequer à Terceira ou à Graciosa, é a crise que se instalou e não há maneira de me deixar, e, como preciso de espaço para as minhas evoluções coreográficas, também não vou ao Coliseu Micaelense, vou ficar mesmo por casa onde com alguma imaginação e criatividade encontrarei forma de celebrar mais este Carnaval, ou se preferir, para assinalar mais este adeus à carne. Sim, o adeus à carne, esse é o significado de Carnaval.
Sem exageros, mas convém celebrar, pois, já a partir de 4.ª feira segue-se um longo período de abstinência.  Já não é bem o que era, mas ainda assim e para os devidos efeitos, os quarenta dias que se seguem ao Carnaval são, na tradição da igreja católica, de abstinência. Não, neste caso não é só para alguns, é mesmo para todos os que ainda seguem com rigor esta tradição católica. Tradição que respeito, mas não cumpro por razões diversas, mas que não vou partilhar consigo. E até nem é por si, mas por quem nos ouve e hoje, ainda que seja Carnaval e tudo, ou quase tudo seja desculpado, mas não quero ferir as almas mais sensíveis, nem entrar em conflito com os guardiões dos bons costumes.
Outros Carnavais se seguirão e, quiçá, haja oportunidade para, sem filtros, lhe revelar o que hoje fica por dizer-lhe.
Não insista. Sobre o período que medeia o Carnaval e a Páscoa não direi, nem mais uma palavra que seja.
E sobre o Carnaval pouco mais tenho para partilhar consigo.
É um tempo de libertação de alguns fantasmas que nos habitam e, cá por mim esse exercício de libertação é cultivado ao longo de todo o ano, ainda que a minha vida pessoal não seja um Carnaval, mas procuro que seja uma festa permanente, ainda que de forma recatada procuro celebrar a vida todos os dias e não apenas nos dias que o calendário assinala, ou que as tradições assim o ordenam.
Gosto de construir a minha própria agenda e de diluir a festa ao invés de a concentrar. Não é mau feitio, nem mania de ser diferente. Para mim trata-se apenas de uma questão de bom senso.
E como nada tenho para lhe ensinar sobre a forma como se deve divertir e ter prazer, só lhe posso desejar um excelente Carnaval e deixar o compromisso de que para a semana cá estarei, de novo consigo, com um assunto uma vez que a nossa conversa de hoje aborda um não assunto.
Bom Carnaval e haja saúde.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 10 de Fevereiro de 2018

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Na Síria, Quem é quem

Imagem retirada da Internet
Sobre a agressão à Síria, que não é de agora, dura abertamente desde 2011, a informação que circula na comunicação social portuguesa de referência, seja lá o que isso for, tem sido tendenciosa e, em alguns momentos, manipuladora da opinião pública. Nada que eu estranhe, mas que não fica bem a quem tem por missão informar, mesmo considerando que os conflitos políticos e militares são sempre alvo de tentativas de contrainformação e de propaganda.
Deixo aqui o mais recente exemplo, ou melhor dois exemplos de factos que tendo sido difundidos e confirmados não foram alvo de notícias na tal, de referência, comunicação social nacional.
Segundo a agência espanhola de informação a EFE, nos dias que se seguiram às notícias do suposto ataque com armas químicas, em Douma, “A Síria enviou um convite à Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) para que uma equipa dos seus investigadores visite a cidade de Douma, nos arredores de Damasco, onde houve denúncias do seu suposto ataque químico no sábado.” O convite foi feito e confirmado e os investigadores da OPAQ que se encontram na Síria desde o dia 14, ou seja, poucas horas depois dos bombardeamentos que, supostamente, terão destruído os locais de armazenamento e fabrico de armas químicas. Difícil será agora comprovar o que quer que seja. Os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, vá-se lá saber porquê, parece não quererem apurar a verdade. As certezas desta aliança são cada vez mais semelhantes com o logro que Colin Powell apresentou no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a 5 de Fevereiro de 2003, e que justificou perante a opinião pública mundial a invasão do Iraque.
O outro exemplo não estando diretamente relacionado com a Síria, mas está com a Rússia, é a confirmação, por um prestigiado e independente laboratório suíço, de que o aposentado espião russo e a sua filha, não foram submetidos ao agente tóxico “novichok”. A filha de Skipral já teve alta do hospital e o antigo espião russo já não se encontra em estado crítico, a terem sido alvo de um ataque com aquele agente tóxico e a sua morte já teria acontecido.
E assim se foram por água abaixo as teses que estiveram na base do azedar das relações diplomáticas entre os Estados Unidos, a Inglaterra, os seus aliados, e a Rússia. Esta questão só parece que não, mas tem tudo a ver com a questão Síria.

Imagem retirada da Internet
Uma outra informação, esta sim, difundida, prende-se com um facto, julgo eu estranho. Vejamos, A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou durante uma entrevista a televisões do seu país que as tropas norte-americanas “não sairão da Síria sem que os objetivos da sua presença sejam alcançados”. Para além desta afirmação contradizer o presidente dos Estados Unidos (entendam-se) que, alguns dias antes, tinha afirmado que iria retirar os soldados americanos da Síria, fica demonstrado inequivocamente a presença de soldados estrangeiros em território sírio sem autorização da República Árabe da Síria. O que conforma, face ao direito internacional, uma invasão. Mas nem é bem isso que me causa alguma estranheza. Estranho mesmo é saber onde é que estão, ou têm estado, pois já não há muito território sírio que não esteja limpo de terroristas, os militares dos Estados Unidos, pois bem só podem estar, ou ter estado, nos territórios sob controle do terrorismo islâmico, neste caso nos territórios sírios sob domínio da Al-Nusra/Al-Qaeda, isto se quisermos, ainda assim, diferenciar estas organizações do DAESH. Afinal quem é quem na Síria.
Que os Estados Unidos têm, ou tiveram, soldados em território sírio não é especulação. Foi o presidente Donald Trump e a sua embaixadora nas Nações Unidas que o confirmaram.
Mas esta constatação leva-me a outras notícias que vêm do tempo em que Alepo foi libertada e que agora, com a libertação de Ghouta, se verificaram de novo. Aquando da libertação de Alepo foi divulgada, pelo governo sírio, a captura pelo seu exército de mais de uma dezena de oficiais da NATO de várias nacionalidades. Agora com libertação de Ghouta, muito antes do que se pensava, corre por aí que alguns militares britânicos terão sido capturados pelas forças armadas sírias que libertaram a região de Ghouta Oriental. Dir-me-ão que esta última notícia tem origem numa agência de informação iraniana, É verdade. Mas também é verdade que não dei conta de nenhum desmentido.
Afinal, quem é quem na Síria.
Ponta Delgada, 16 de Abril de 2018

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 18 de Abril de 2018

terça-feira, 17 de abril de 2018

... que estranho, ou talvez não


Foto by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Excerto de texto a publicar na imprensa regional e também aqui, neste blogue






(...) A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou durante uma entrevista a televisões do seu país que as tropas norte-americanas “não sairão da Síria sem que os objetivos da sua presença sejam alcançados”. Para além desta afirmação contradizer o presidente dos Estados Unidos (entendam-se) que, alguns dias antes, tinha afirmado que iria retirar os soldados americanos da Síria, fica demonstrado inequivocamente a presença de soldados estrangeiros em território sírio sem autorização da República Árabe da Síria. O que conforma, face ao direito internacional, uma invasão. Mas nem é bem isso que me causa alguma estranheza. Estranho mesmo é saber onde é que estão, ou têm estado, pois já não há muito território sírio que não esteja limpo de terroristas, os militares dos Estados Unidos, pois bem só podem estar, ou ter estado, nos territórios sob controle do terrorismo islâmico, neste caso nos territórios sírios sob domínio da Al-Nusra/Al-Qaeda, isto se quisermos, ainda assim, diferenciar estas organizações do DAESH. (...)