Foto by Aníbal C. Pires |
Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM
Hoje fica o texto da crónica emitida a 17 de Fevereiro de 2018 que pode ser ouvida aqui
Da inutilidade dos rankings
Por vezes não, outras vezes sim, outras vezes assim, assim. É o que anualmente resulta da leitura dos rankings das escolas. Vai tudo ao sabor da vaga que ora sobe, ora desce e, claro o discurso político do poder e de alguma oposição acompanha a maré. Umas vezes valoriza-se, outras desvaloriza-se.
Para si, não sei, quanto a mim não tenho a menor das dúvidas: os rankings das escolas são uma completa inutilidade para o sistema educativo. E, bem vistas as coisas, apenas servem como argumento para dirimir politicamente o suposto sucesso ou insucesso das políticas educativas, mas sobretudo e até agora a sua serventia tem apenas dado sustentação a uma campanha ideológica que visa denegrir o ensino público e enaltecer o ensino privado. Tudo, é claro, em nome do mercantilismo da educação. Como se a educação fosse um bem transacionável e não um direito constitucional.
Pergunta-me se considero que os sistemas, seja o educativo ou outro, não devem ser avaliados. Claro que devem, aliás só é possível introduzir alterações em resultado de processos de avaliação. Esse é o grande, diria único, objetivo da avaliação. Corrigir para melhorar. Seja a avaliação das aprendizagens, seja a avaliação de desempenhos profissionais, seja a avaliação organizacional e empresarial, seja a avaliação do sistema educativo.
Foto by Aníbal C. Pires |
A pertinência desta temática está relacionada com a recente divulgação dos rankings das escolas de 2017. Os resultados são os habituais, nada de novo, ou pelo menos nada de significativo para que a posição do Governo Regional não fosse a habitual, ou seja, a desvalorização deste indicador. Mas talvez porque os resultados das escolas açorianas observaram uma ligeira subida na tabela o Governo regional, embora de forma tímida, mas não inocente, lá publicou uma nota de satisfação pelo facto.
O assunto não mereceria sequer a minha atenção, nem o traria para esta conversa consigo, não fora o caso de as festividades estarem agendadas para a próxima semana durante o Plenário de Fevereiro da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
E quem agendou a festa foi o PS utilizando a figura regimental de interpelação ao Governo. Festa que se prevê de autoelogio e adulação a si próprios e, às políticas educativas do seu governo, certamente, com particular ênfase ao afamado, mas mal-amado, programa ProSucesso.
Diria que vai ser lindo de ver e ouvir os deputados do PS branquearem tudo, o que em anos anteriores, afirmaram sobre os rankings para agora enaltecerem as políticas educativas regionais sustentando as suas afirmações na ligeira subida que se verificou, em 2017, nas escolas da Região. E assim se percebe a moderada posição do Governo aquando da divulgação dos rankings de 2107, bem assim como se entende que esse comedimento não era, de todo, inocente. A coisa merecia destaque parlamentar com o consequente show mediático.
A gargalhada parlamentar da oposição vai ser geral, embora alguma oposição esteja amarrada à defesa da importância dos rankings como elemento determinante da avaliação do sistema educativo, pelo que também se antevê interessante como será a abordagem para desconstruir o discurso de sucesso que o PS, certamente, irá fazer para sancionar as inovadoras políticas educativas do Governo regional cuja síntese é o tal ProSucesso.
Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 17 de Fevereiro de 2018
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