sábado, 21 de abril de 2018

Outros carnavais - crónicas radiofónicas

Foto by Madalena Pires (S. Miguel, 2017)




Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105FM

Hoje fica o texto da crónica emitida a 10 de Fevereiro de 2018 que pode ser ouvida aqui







Outros carnavais

Mais um Carnaval e eu por aqui com Veneza à minha espera, Sim Carnaval só se for em Veneza. Não, não.  O Brasil tem outros encantos para lá do Carnaval e eu prefiro a sedução de outros encantamentos. O Carnaval brasileiro não me atrai, talvez seja pela exiguidade dos trajes dos foliões, prefiro as insondáveis máscaras venezianas e a elaboração das indumentárias, ou seja, gosto de dar asas à imaginação. É muito, mas muito mais excitante.
Por cá Carnaval é na Terceira. Ok, ok, na Graciosa também e, para quem gosta de dançar num espaço confinado pela excessiva lotação, os bailes do Coliseu Micaelense podem constituir-se como uma boa alternativa.
Como não vou a Veneza nem sequer à Terceira ou à Graciosa, é a crise que se instalou e não há maneira de me deixar, e, como preciso de espaço para as minhas evoluções coreográficas, também não vou ao Coliseu Micaelense, vou ficar mesmo por casa onde com alguma imaginação e criatividade encontrarei forma de celebrar mais este Carnaval, ou se preferir, para assinalar mais este adeus à carne. Sim, o adeus à carne, esse é o significado de Carnaval.
Sem exageros, mas convém celebrar, pois, já a partir de 4.ª feira segue-se um longo período de abstinência.  Já não é bem o que era, mas ainda assim e para os devidos efeitos, os quarenta dias que se seguem ao Carnaval são, na tradição da igreja católica, de abstinência. Não, neste caso não é só para alguns, é mesmo para todos os que ainda seguem com rigor esta tradição católica. Tradição que respeito, mas não cumpro por razões diversas, mas que não vou partilhar consigo. E até nem é por si, mas por quem nos ouve e hoje, ainda que seja Carnaval e tudo, ou quase tudo seja desculpado, mas não quero ferir as almas mais sensíveis, nem entrar em conflito com os guardiões dos bons costumes.
Outros Carnavais se seguirão e, quiçá, haja oportunidade para, sem filtros, lhe revelar o que hoje fica por dizer-lhe.
Não insista. Sobre o período que medeia o Carnaval e a Páscoa não direi, nem mais uma palavra que seja.
E sobre o Carnaval pouco mais tenho para partilhar consigo.
É um tempo de libertação de alguns fantasmas que nos habitam e, cá por mim esse exercício de libertação é cultivado ao longo de todo o ano, ainda que a minha vida pessoal não seja um Carnaval, mas procuro que seja uma festa permanente, ainda que de forma recatada procuro celebrar a vida todos os dias e não apenas nos dias que o calendário assinala, ou que as tradições assim o ordenam.
Gosto de construir a minha própria agenda e de diluir a festa ao invés de a concentrar. Não é mau feitio, nem mania de ser diferente. Para mim trata-se apenas de uma questão de bom senso.
E como nada tenho para lhe ensinar sobre a forma como se deve divertir e ter prazer, só lhe posso desejar um excelente Carnaval e deixar o compromisso de que para a semana cá estarei, de novo consigo, com um assunto uma vez que a nossa conversa de hoje aborda um não assunto.
Bom Carnaval e haja saúde.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 10 de Fevereiro de 2018

Sem comentários: