domingo, 30 de março de 2008

Periferias

Ver o “estado da obra”, anunciar “nova obra”, cerimónias de colocação de “primeiras pedras” e, naturalmente, inaugurar “obra feita”. A agenda do governo regional mais parece o diário de um gabinete projectos ou, de uma empresa de obras públicas. Não me espanta, aliás ficaria surpreendido era se não houvesse obra que se visse na fase final de uma legislatura marcada pelo desafogo financeiro das contas regionais.
É necessário mostrar obra feita para que os eleitores não duvidem da capacidade empreendedora deste governo. Mas, não sei se será necessário tanto circo. As obras do governo regional, naturalmente, pela necessidade de serem executadas e corresponderem ao interesse regional mas, também pelo sobredimensionamento, pela sua anedótica originalidade, outras até pela sua inutilidade, são bem visíveis aos olhos dos potenciais eleitores. E digamos, em abono da verdade, que governar com betão e asfalto num contexto de desafogo financeiro não é obra, até porque alguma da obra feita e anunciada nem sempre corresponde às necessidades estruturais que afectam o viver insular e arquipelágico, nem sempre são potenciadores da economia regional, nem sempre atendem às necessidades das populações ou, ainda, nem sempre têm em devida conta o desígnio autonómico de desenvolver a Região harmoniosamente.
A ilha da Graciosa é um exemplo paradigmático do que deixei dito. A esta como outras ilhas da periferia açoriana falta a principal obra. A obra que evite o declínio populacional, que adeqúe os transportes marítimos e aéreos de passageiros e mercadorias às necessidades da população e da economia local, a obra que coloque a Graciosa e as restantes “ilhas da coesão” no caminho do desenvolvimento harmonioso e com futuro. Essa é a obra está por fazer! Não está feita, nem se vislumbra qualquer sinal que haja intenção de a vir a concretizar. Mas se isto é verdade para as ilhas da periferia açoriana é igualmente verdade para alguns dos concelhos da Ilha de S. Miguel.
A Graciosa, onde estive recentemente, motivou este texto e, é com a Graciosa e com o seu futuro que vou terminar. Se muitos dos problemas que afectam esta ilha são comuns a outras há um que particularmente a afecta – a escassez de água potável. Sobre este grave problema o governo regional diz nada mas, entretanto anunciou, de entre outras, uma obra que configura mais um atentado ambiental e ao património natural e que em nada contribuirá para que se inverta o actual ciclo de declínio que actualmente a caracteriza.
Angra do Heroísmo, 20 de Março de 2008

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

“Nunca se mente tanto como em véspera de eleições, durante a guerra e depois da caça.”
Bismark

Beijinhos
margarida