segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Contrastes

Quem visita a zona poente de Ponta Delgada quer seja ao longo da orla costeira, quer mergulhando no seu interior depara-se com uma dimensão incompreensível de ordenamento urbano e de gestão da cidade nas suas diferentes vertentes. A freguesia de Santa Clara não se enquadra no “postal ilustrado” da transformada Ponta Delgada. Tenho muitas reservas às supostas vantagens da modernidade transformista a que um ritmo alucinante tem sido sujeita a cidade do Arcanjo, mas não tenho dúvidas que o seu crescimento anárquico, por via de opções e estratégias do poder local e regional a que preside uma competição bacoca, está a criar novos e graves problemas sociais.
Uma visita à Freguesia de Santa Clara pode ser bem elucidativa do que acabo de afirmar e, particularmente, esclarecedora do abandono a que tem sido votada pelos poderes públicos.
Os investimentos públicos dos últimos anos resumem-se à requalificação da Avenida Príncipe do Mónaco (Governo Regional) e o Salão Paroquial (Câmara Municipal).
A lista dos problemas que afectam esta freguesia e a sua população vai desde a necessidade de reforçar, com mais uma viatura, a Linha A do “mini bus”, até ao anacrónico problema da posse dos terrenos do antigo Matadouro Industrial disputada judicialmente pela Câmara e pelo Governo Regional, e ao incompreensível e prolongado adiamento da conclusão das obras de saneamento da Rua João de Rego de Baixo questão, tão bem ela, decorrente da falta de cooperação dos poderes públicos, passando por promessas não cumpridas, como sejam a requalificação paisagístico e ambiental da antiga “Mata da Doca”, da responsabilidade da Secretaria Regional do Ambiente, e conclusão da “Avenida” que liga a Relva a Santa Clara ao longo da orla costeira, da responsabilidade da Câmara Municipal, e que tem vindo sucessivamente a ser adiada.
As obras avulsas e de satisfação de clientelismos e agendas político eleitorais são bem visíveis nas descontinuidades que a cidade apresenta.
Os contrastes no crescimento de Ponta Delgada são evidentes e os seus efeitos contrariam o equilíbrio harmonioso que devem estar subjacentes a um conceito de cidade que se quer moderna e desenvolvida sem, todavia, perder as suas singularidades e a garantia de bem-estar social dos seus habitantes.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 12 de Janeiro de 2009, Ponta Delgada

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