quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Agendas

imagem retirada da internet
A agenda política e mediática nacional está ao rubro e, ao que me parece, não é pelo Benfica ser o líder do Campeonato, digo Liga.
São as escutas, é a tentativa de domínio da comunicação social, é a candidatura de Fernando Nobre à Presidência, é o estado da Justiça e o estado a que o Estado chegou, ele é o Procurador-geral da República, é o PSD à procura de um D. Sebastião, é o Inverno como há um século não se via, as manchetes não têm faltado e até edições extra como há muito não acontecia.
Sem pretender retirar valor aos factos que têm feito a notícia volto de novo ao emprego ou à falta dele. Portugal entra no ano de 2010 com mais de 700 mil trabalhadores desempregados – 567 mil se não forem contados os inactivos disponíveis e o desemprego visível – sendo que cerca de metade destes não têm direito a subsídio de desemprego. Nos Açores, mesmo considerando que a taxa de desemprego é inferior à nacional, os contornos deste drama social e económico em tudo se assemelha ao que se passa no país.
O desemprego constitui um dos mais graves problemas do nosso tempo. É um factor de chantagem permanente sobre os salários e de pressão sobre os direitos dos trabalhadores. Representa uma perda de produção e de poder de compra, com forte impacto negativo na economia, nomeadamente no mercado interno, um factor de pressão sobre o sistema de segurança social, um travão ao desenvolvimento. O desemprego contribui para a perda de saberes, de competências e de qualificações e representa um risco de instabilidade pessoal e familiar e de exclusão social.
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E as soluções? Sim porque constatar é fácil – dir-me-ão os leitores. As soluções passam pela ruptura com as políticas e com o modelo de desenvolvimento, aliás como insistentemente tenho afirmado. As soluções passam por valorizar o trabalho e os trabalhadores, ou se preferirem valorizar os sectores produtivos e da transformação, sem os quais não há sustentabilidade para o sector dos serviços. As soluções passam por acabar com a obscenidade que representam os chorudos vencimentos e prémios dos gestores públicos e privados. As soluções passam por acabar de vez com os paraísos fiscais. As soluções passam pela recuperação dos valores e princípios da solidariedade e da justiça social e económica. As soluções passam pela equidade na distribuição da riqueza gerada.
É claro que a candidatura à Presidência da República do fundador da AMI e amigo pessoal de Mário Soares se revela como um dos factos políticos mais interessantes dos últimos anos e sobre o qual muito se há-de escrever e dizer, eu próprio estou a contar fazê-lo, mas digamos que no momento aquilo que me preocupa é mesmo a situação vivida por quem diariamente procura trabalho e sustento para si e para a sua família.
Enquanto caminhamos rapidamente para a eventualidade de um colapso social o primeiro-ministro entretém-se a fazer declarações ocas continuando a sua campanha de vitimização e chantagem como se todos não tivéssemos já percebido o atoleiro em que se move. Todos todos, talvez não, porque ainda há por aí muitos candidatos a boys e girls do regime da alternância ao centro… da mesma coisa.

Anibal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 24 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo

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