A gravidade e extensão do problema do desemprego na nossa Região são bem conhecidas. Os casos são múltiplos, as notícias são diárias e os números aí estão, inegáveis, cruéis e dramáticos.
Além de bem conhecido o fenómeno não é novo ou sequer surpreendente. Não é novo porque a cavalgada dos números do desemprego há muito tempo se vinham agravando, a novidade é o reconhecimento público e institucional, ainda assim com tentativas de os colorir em tons e rosa. O desemprego nos Açores tem razões que não são conjunturais. São de estrutura e advêm das políticas seguidas pelos governos Regional e da República, com a conivência ou participação activa dos dois maiores partidos. E por isso, esta situação não é surpreendente. É o resultado esperado e inevitável de uma política de continuada desvalorização dos sectores produtivos da nossa economia.
O desmantelamento dos sectores primário e secundário, no qual o Governo Regional, aliás investe somas avultadas, como no resgate leiteiro e nos processos de concentração da propriedade agrícola, com a resultante redução do número de população ligada ao sector, associada ao crescimento desenfreado de um macrocéfalo sector de serviços ou à expansão insustentável da actividade da construção, só poderiam ter este resultado.
A manutenção e incentivo de um modelo económico e de emprego assente em baixos salários, pouca especialização e escassa incorporação tecnológica; a falta de fiscalização de actuações abusivas de alguns empresários, designadamente em matéria de despedimentos colectivos e lay-off; estes são apenas alguns aspectos que responsabilizam os nossos Governos e a sua política pela situação de crescimento do desemprego que a Região e o País vivem actualmente.
Também a atribuição de apoios e incentivos a empresas, sem qualquer garantia da sua responsabilidade social em termos de criação, qualidade e manutenção do emprego, fazem com que não só a Região não tenha conseguido atingir os seus objectivos de desenvolvimento, como esteja, hoje, a apoiar activamente empresários que exercem um deliberada gestão danosa nas suas empresas e sem qualquer escrúpulo cilindram os direitos dos trabalhadores e os seus postos de trabalho, certos como estão de que a mão generosa do Governo Regional os virá, prontamente, libertar de dívidas e encargos.
O que a Região precisa é de um modelo equilibrado de desenvolvimento assente nos nossos sectores produtivos, primário e transformador, virados para os produtos que nos são característicos e nos individualizam, que possam, então sim, suportar um sector de serviços complementar, moderno e sustentável.
O que necessitamos é de um mercado dinâmico que garanta a sustentabilidade das nossas empresas, alimentado por uma procura interna saudável, que só pode estar ancorada no aumento dos rendimentos das famílias e na segurança no emprego.
O que carecemos é de mecanismos de solidariedade que contribuam para a nossa coesão social, que reponham a dignidade e apoiem a carência, em vez de apenas multiplicarem exclusão e alimentarem a dependência sem perspectivas.
Só um novo paradigma nos pode permitir superar a crise social e económica em que estamos mergulhados. Sem isto, todas as soluções são meros paliativos, todas as respostas são parcelares e insuficientes.
Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 18 de Fevereiro de 2010, Angra do Heroísmo
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