quinta-feira, 29 de abril de 2010

A base produtiva regional

A economia regional sendo aberta e, portanto, fortemente condicionada por factores externos, possui, no entanto, ao nível produtivo suportes de dimensão, conhecimento adquirido e estabilidade significantes no sector primário, em primeiro lugar na agro-pecuária – fileira do leite e da carne -, mas também nas pescas, e a jusante, já no secundário, na agro-indústria de lacticínios, no processamento de carnes, na indústria conserveira e na exportação de peixe.
Ainda no sector agrícola e tendo em devida consideração, por um lado a manutenção de actividades tradicionais como sejam a cultura do ananás, do chá, da vinha e do vinho e, por outro o apoio à produção de frutos (banana, meloa, e outros), à floricultura, hortícolas e à beterraba sacarina contribuindo, assim, para a diversificação da actividade agrícola, para o desenvolvimento do espaço rural e para o seu necessário equilíbrio enquanto factor de coesão social e territorial.
No sector secundário, e para além das agro-indústrias a que já me referi, assumem alguma dimensão a indústria da construção civil, cimento, tabaco, açúcar, transformação primária da madeira, e a indústria de rações e concentrados.
No sector dos serviços a Administração Pública (regional, local e central) e o sector público empresarial dominam claramente, devendo referir-se ainda (apesar da fraca contribuição para o produto) a indústria do turismo, o transporte marítimo de mercadorias, e também, com alguma dimensão económica, o comércio por grosso e a retalho.
O sector público administrativo e empresarial com uma participação de cerca de 40% do PIB, e a agro-pecuária e pescas, com cerca de 13%, directamente, constituem-se assim como os pilares estratégicos a partir dos quais se pode e deve desenvolver de forma sustentável e socialmente útil a economia regional.
É, no entanto, na agropecuária que o sector privado e o sector cooperativo atingem maior dimensão regional. Partindo de explorações de tipo familiar com gado de pastoreio, cuja natureza representa uma mais-valia qualitativa, esta actividade produtiva está na origem da fileira do leite e da carne, e sustenta, a jusante, indústria e comércio de dimensão económica nacional, com níveis de produtividade elevados e com elevado potencial de inovação tecnológica e de diversificação de produtos de valor acrescentado. Torna-se essencial garantir e consolidar esta componente estratégica da economia regional ao nível global, prevendo ainda medidas específicas para as ilhas onde ela está geograficamente condicionada pela pequena dimensão da superfície agrícola disponível.
Quer se goste ou não este é o sector que dá sustentabilidade à economia regional e todos os esforços que sejam feitos em sua salvaguarda são bem-vindos, assim, neste esforço conjunto devem ter continuidade, todas as iniciativas que visem junto da UE a defesa do regime de quotas leiteiras, e, em caso de extinção desse regime, a sua substituição por um regime específico para os Açores, ao nível do estatuto da ultra-periferia, com carácter permanente como permanentes são os constrangimentos.

Aníbal C. Pires, IN DIÁRIO INSULAR, 28 de Abril de 2010, Angra do Heroísmo

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