O ano de 2011 anuncia-se como um dos mais duros e difíceis para os portugueses, quer estes vivam no território continental, quer vivam nas Regiões Autónomas.
Sente-se já, e agravadamente sentir-se-á ainda mais nos meses que temos pela frente, a inteira amplitude do impacto das medidas tomadas pelo Governo de José Sócrates e subscritas pelo PSD de Passos Coelho.
O catálogo das barbaridades cometidas sobre os portugueses e os seus rendimentos é já impressionante, começando pelo verdadeiro roubo nos salários dos trabalhadores da administração pública, passando pelo rasgar do compromisso assinado sobre o aumento do salário mínimo, depois o congelamento de pensões e da redução e limitação de acesso a prestações sociais, afectando gravemente reformados, estudantes, desempregados, doentes crónicos, portadores de deficiências, famílias em situação de exclusão social – em suma os mais desprotegidos dos portugueses.
Mas não ficamos por aqui pois temos ainda o brutal, cego e injusto aumento dos impostos e o decorrente aumento do custo de vida, os preços do pão, dos transportes, da electricidade e combustíveis, das taxas do Estado, entre outros, a par de outras medidas recessivas.
Medidas que para além de constituirem uma dramática degradação das condições de vida dos portugueses, de aumento das desigualdades e da pobreza, tiveram, tinham mesmo de ter, mais um resultado inquietante: o monstruoso aumento do desemprego para níveis históricos, aproximando-se já do número assustador de 800 mil os portugueses que são privados do direito básico e elementar ao trabalho, à realização pessoal, à remuneração, garante da dignidade e da sobrevivência.
Mas este sinistro cortejo de medidas parece que ainda vai no adro e outras se preparam.
Somos diariamente bombardeados por uma permanente e intensa campanha destinada a fazer que os portugueses aceitem a falsa inevitabilidade da entrada em cena do FMI, com o seu conhecido ónus de exploração e inaceitáveis imposições.
Em antecipação à intervenção dos abutres do FMI surge a designada “Iniciativa para a Competitividade e para o Emprego” que, a coberto do nome pomposo e sonante pretende, nada mais, nada menos, do que tornar mais fáceis baratos os despedimentos, através da criação de um fundo. Claro que as empresas já anunciaram que irão fazer reflectir nos salários dos trabalhadores o custo das contribuições para este fundo. E, assim, acabamos por ter a situação paradoxal de ter os trabalhadores a financiarem o seu próprio despedimento!
Depois do “emprega-te a ti mesmo”, chegamos agora ao: “indemniza-te a ti mesmo”!
José Sócrates avança assim, calmamente, para a ruptura completa das bases do contrato social em que assenta o nosso regime democrático, aplicando uma política que é monstruosa no plano dos valores humanos, atrabiliária no campo jurídico e absolutamente suicidária do ponto de vista do crescimento económico que o país precisa.
Esta política avança agora de forma ainda mais tranquila, pois assistimos, no passado dia 23 de Janeiro, à reeleição daquele que tem sido o mais firme defensor da política de direita e do ataque aos trabalhadores neste país.
Até quando vamos permitir que Portugal se afunde neste pântano em que o centrão nos mergulhou!?
Horta, 27 de Janeiro de 2011
Aníbal C. Pires, In A União, 30 de Janeiro de 2011, Angra do Heroísmo
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