Seria expectável que na semana seguinte às eleições presidenciais partilhasse algumas reflexões e opiniões sobre os resultados eleitorais mas… não para fugir a qualquer debate, até porque já os fiz, mas… porque há muito mais futuro do que passado, prefiro trazer-vos o mar.
O mar que nos une mais que separa… o mar português, mar perdido, mar de lutas presentes e futuras.
O mar a propósito do debate que esta semana se realizou na Assembleia Legislativa da Região Autónomas dos Açores (ALRAA).
O mar será um dos temas, talvez o único, sobre o qual o espectro partidário e as organizações e instituições se reúnem num amplo consenso.
Todos nós: agentes políticos, académicos, pescadores, promotores turísticos, empresas de navegação, cidadãos organizados ou individualmente considerados; queremos proteger o nosso mar, estudá-lo, potenciá-lo, torná-lo um factor de atracção e desenvolvimento económico. Para os portugueses, muito natural e justamente, o mar está paulatinamente a retomar o carácter e desígnio nacional. Naturalmente porque detemos a maior linha de costa da União Europeia e uma das maiores zonas económicas exclusivas do Mundo, justamente porque foi pelo mar que Portugal procurou o que a Europa não lhe deu, nem quer dar, ou seja espaço de afirmação enquanto povo livre e soberano.
Da epopeia e expansão marítima portuguesa, feita à custa de atropelos à liberdade de outros povos não o esqueço, resultou um património que não é apenas histórico é, também científico, linguístico e potencialmente dinamizador de parcerias políticas e económicas de cooperação. Parcerias de cooperação que se não tivessem sido desbaratadas pela cegueira dos eurocentristas, poderiam ter-se constituído como um forte argumento nas negociações da adesão de Portugal à, então, CEE. Parcerias de cooperação que na actualidade continuam a ser desbaratadas, embora os cidadãos e as organizações as venham a promover. Quer por via da emigração, quer por via de parcerias de investimento, quer ainda por via de pontes de intercâmbio cultural promovidas quantas e quantas vezes à margem dos apoios oficiais.
Mas, voltemos ao presente sempre com os olhos postos no futuro. O mar e a economia do mar, apesar de o processo de integração europeia ter forçado Portugal à destruição da indústria da construção naval, das frotas de pesca e, mais tarde, nos ter retirado a soberania sobre a Zona Económica Exclusiva, o mar, como dizia, e toda as actividades potencialmente geradoras de riqueza pode constituir-se, de novo, num desígnio nacional, não com os contornos de outrora mas devidamente adequado aos nossos tempos e no respeito pelo direito internacional.
A pergunta que, no entanto, se coloca é: Como fazê-lo? Como transformar o mar e a economia do mar num desígnio nacional num cenário de perda de soberania, sem meios e, sobretudo, sem vontade política para renegociar o Tratado da UE que, desde logo, se afigura como a principal barreira a transpor!? Como?
Estas perplexidades não significam qualquer abandono da ideia que Portugal e, em particular a Região Autónoma dos Açores não se voltem para o mar, na procura do que a Europa nos nega e nos cobra.
Horta, 24 de Janeiro de 2011
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 26 de Janeiro de 2011, Angra do Heroísmo
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