Ao passar os olhos pelos jornais de hoje e colocando de lado os títulos que falam de um país virtual centrei a atenção em dois ou três artigos que constatam evidências, e confirmam previsões à muito anunciadas por quem tem da política um visão de rigor e alertou, em devido tempo, para os efeitos das opções tomadas, pelo sempre presente, bloco central que tem governado Portugal.
A destruição do sector produtivo desde a elementar agricultura, elementar no sentido da sua importância para garantir a soberania alimentar, aos sectores extractivos e transformadores. E, com base nisto dizem-nos com desfaçatez: o país modernizou-se! E para sustentar a afirmação desta modernidade que, segundo alguns, caracteriza Portugal dão como indicadores intocáveis a diminuição da população activa nos sectores primário e secundário e a terciarização da economia nacional, os infindáveis quilómetros de auto-estradas, o número de grandes superfícies comerciais e telemóveis por habitante.
Pontos de vista e, cada um tem o seu. Eu também considero que sim, que Portugal se modernizou e, segundo o meu ponto de vista, após estes quase 37 anos que são passados sobre a Revolução de Abril reconheço, sem qualquer esforço que Portugal é hoje um país diferente e melhor embora, para sustentar esta afirmação utilize outros indicadores como por exemplo: o acesso universal à saúde e à educação que teve como consequência a diminuição da taxa de mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida, a redução do analfabetismo para valores residuais e o aumento generalizado das qualificações profissionais e académicas da população activa, a garantia de acesso por toda a população portuguesa a água potável e a energia eléctrica, o fim das discriminações de género, pelo menos no Código Civil, a descolonização mesmo considerando todos os erros que se podem associar ao processo, a consagração das autonomias regionais, etc.
Mas Portugal, fruto da governação bipolar aqui e além aberta ao triângulo amoroso cujos vértices dão pelo nome simplificado de: PS, PSD e CDS/PP; está muito distante dos objectivos definidos pelo Movimento que deu corpo à Revolução de Abril, os chamados 3 Ds – Democratizar, Descolonizar e Desenvolver. Destes objectivos apenas a descolonização foi integralmente cumprida pois, quanto à democracia todos sabemos quais são as suas actuais características e quanto ao desenvolvimento tenho, igualmente, muitas dúvidas apesar de reconhecer, como já reconheci, os importantes avanços sociais que se verificaram depois de Abril de 74.
Em bom rigor não posso considerar que um país em que 20% da população vive abaixo do limiar da pobreza e que conta com 700 mil desempregados, indicadores que face às decisões tomadas a três tempos durante o ano de 2010 só podem vir a agravar-se durante 2011 e por aí adiante, seja um país moderno, a não ser que, como alguns analistas afirmam, este seja o preço que temos e pagar pela modernidade o que, do meu ponto de vista, não é aceitável.
Bem mas voltando às notícias a que me referi no primeiro parágrafo. Um dos matutinos diz que a situação das famílias portuguesas é ainda mais difícil devido ao aumento de preços dos alimentos, um outro divulga números do EUROSTAT sobre uma acentuada quebra, em Portugal, no comércio a retalho que se verificou no mês de Novembro último.
Estavam à espera de quê!?
Ponta Delgada, 06 de Janeiro de 2011
Aníbal C. Pires, In A União, 07 de Janeiro de 2011, Angra do Heroísmo
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