Um dos acontecimentos que marcaram os últimos meses e agitaram o Mundo foi, sem dúvida, a disponibilização na Internet, pela Wikileaks, de documentos “classificados”.
O conteúdo da maioria dos documentos divulgados, sem qualquer edição, não me surpreenderam particularmente, apenas vieram confirmar aquilo que já sabia ou suspeitava mas que as instituições e corporações mediáticas teimavam em branquear, aliás o esforço dos órgãos de informação ditos de referência foi sempre o de contrariar qualquer tentativa de esclarecer suposições - não há fumo sem fogo –, e mesmo factos comprovados. Sobre esta atitude só há uma palavra para classificar o papel de quem tem por missão informar: lamentável.
Em nome do interesse público – pode ler-se: das corporações estado-unidenses - a arte da manipulação da informação atingiu um nível de perfeição e eficácia assustadores. A generalidade dos cidadãos deste planeta tem, sobre os acontecimentos que marcaram os últimos anos da nossa vida colectiva, uma visão unilateral e, mais grave ainda uma visão muito distante da realidade para o qual todos os dados e factos apontam.
É claro que o coro de vozes contra o procedimento dos insurgentes da Wikileaks recebeu, naturalmente, por parte das corporações mediáticas a respectiva ampliação. Pudera, o incómodo atingiu uma dimensão insuportável. Como é que foi possível!? Um grupo de rebeldes activistas desmascarou, não só os meandros do poder e do modus operandi da diplomacia estado-unidense, mas também a subserviência da generalidade das empresas da comunicação social aos interesses do império estado-unidense.
A globalização da informação através da Internet já permitia aceder a informação alternativa e ao cruzamento de informação oriunda de várias fontes possibilitando, assim, a formação de opinião livre, ou seja, liberta da ditadura dos telejornais e das primeiras páginas dos jornais e, digamos que era cada vez mais difícil ao poder e aos seus suportes de divulgação impor a visão unilateral e construída - manipuladora.
A Wikileaks vem, se não dar a machadada final, pelo menos dar um forte abanão às corporações mediáticas, ou seja, para continuarem a vender o produto terão de lhe acrescentar um fundo de verdade e, mormente a visão multilateral da história e das estórias que fazem a notícia, prática a que não estão habituados mas que terão de adoptar.
Ponta Delgada, 30 de Dezembro de 2010
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 05 de Janeiro de 2011, Angra do Heroísmo
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