terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Investimento ou desperdício

O golfe tem sido apresentado como uma das principais âncoras do modelo de desenvolvimento para o sector do turismo na Região o que, no plano teórico até poderá faz algum sentido. A natureza idílica com que estas ilhas foram bafejadas, os avultados montantes que a publicidade empresarial e institucional afecta à organização de eventos ligados aos tours nacionais e internacionais, potenciada pela atenção dos média a este desporto/lazer, a disponibilidade financeira dos seus praticantes e adeptos, constituem factores que certamente estiveram na raiz da opção pelo golfe como uma actividade estruturante para atrair um determinado segmento de turistas à Região e, assim rentabilizar investimentos hoteleiros e infraestruturas já existentes ou projectadas para a prática do golfe.
A realidade tem mostrado que talvez não seja bem assim. A situação vivida pela Verdegolf em S. Miguel deve constituir-se como um elemento de reflexão pois, como é do domínio público apesar de todos os apoios financeiros públicos e investimentos, também eles por conta da Região, para captar eventos e praticantes vindos do exterior não foi bem sucedido. A empresa entrou em colapso e incumprimento com os trabalhadores o que levou à intervenção do Governo Regional para salvaguardar os postos de trabalho de algumas dezenas de trabalhadores. Intervenção com a qual não posso deixar de concordar mas que considero ter ficado aquém do desejável pois visa “segurar” a actividade enquanto for deficitária para, logo que passe a ser lucrativa voltar às mãos do grupo empresarial que detém a concessão. Também aqui uma prática conhecida, salvo a respectiva dimensão, quando comparada, por exemplo, com o BPN: nacionalizar” o prejuízo e privatizar o lucro.
Pela situação vivida na Verdegolf mas também pelas aprendizagens que deveriam ser feitas com a génese e os contornos da crise e pela própria volatilidade da actividade turística tal como ela foi desenhada para os Açores julgo ser tempo de arrepiar caminho e não insistir no erro.
No plano dos investimentos públicos regionais, por via da Sociedade “Ilhas de Valor” ou por qualquer outra via, é conhecida a intenção de construir de raiz um campo de golfe em Santa Maria e um outro no Faial. Que estas duas ilhas necessitam de um forte investimento público regional não tenho dúvidas, que seja este o investimento necessário e prioritário para transformar o declínio a que têm estado sujeitas, não me parece. Assim como não me parece que insistir nestes avultados investimentos públicos quando está verificada a falência do modelo é desperdiçar recursos públicos que, como sabemos, são escassos.
Ponta Delgada, 18 de Fevereiro de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 22 de Fevereiro de 2011, Angra do Heroísmo

1 comentário:

Ana Loura disse...

Um artigo que deveria ser lido por todos os marienses, principalmente por aqueles que dizem que apesar do campo de golfe não vir trazer nada de valha a pena a Santa Maria sempre é melhor do que o "investimento" ser aplicado noutra ilha...bairrismos inconsequentes...