quarta-feira, 20 de julho de 2011

Capitulação

A situação política regional tem sido fortemente condicionada pelas políticas nacionais de submissão aos interesses externos que tiveram a sua máxima expressão na assinatura do “memorando de entendimento” com o FMI, o BCE e a UE a que o PS, PSD e CDS deram aval e que o governo de Passos Coelho e Paulo Portas estão vinculados e com qual o PS, mesmo na bancada da oposição, está profundamente comprometido.
A necessidade de renegociação da dívida pública e a propositura no quadro da União Europeia e nas relações bilaterais se encontrem soluções que libertem Portugal e outros países da Zona Euro da ditadura dos mercados e da espiral especulativa promovida pelas agências de notação, que não passam da face visível dos grandes grupos financeiros sem pátria e sem rosto. A renegociação da dívida como tenho vindo a afirmar é uma proposta que em devido tempo o PCP apresentou como alternativa. Não deixa de ser interessante constatar que, embora sobre a designação de reestruturação da dívida pública muitos dos detractores desta ideia, por altura da discussão do PEC IV e da vinda da troika, sejam agora seus adeptos confessos e coloquem em causa as agências de notação e os mercados. A falta de coluna vertebral de alguns humanos chega a ser preocupante.
Na Região o PS, PSD e CDS assumiram, cada um com o seu mote próprio, esta farsa política, em que por entre o anúncio de supostas inevitabilidades o que pretendem é aprofundar as políticas que conduziram a Região e o País a esta situação de submissão aos interesses dos oligopólios financeiros sacrificando os mesmos de sempre e beneficiando os grandes grupos económicos e o sector financeiro.
Mas, Carlos César, Berta Cabral e Artur Lima para além das responsabilidades que têm ao avalizar estas políticas estão, passiva mas conscientemente, a permitir que o maior ataque à autonomia e ao acervo autonómico, consagrado no “memorando de entendimento”, seja bem sucedido, ou seja, as estruturas regionais do PS, do PSD e do CDS vergaram-se às imposições externas e à agenda partidária e abandonaram qualquer perspectiva de defesa da autonomia regional e do seu adquirido.
O PCP Açores continuará a desafiar e a propor no quadro político e institucional que a Região, através dos seus órgãos de governo próprio, tome uma posição firme e de ruptura com este ataque ao adquirido autonómico. O PCP Açores apoiará e vai continuar a propor medidas conjunturais que minimizem os efeitos das medidas de austeridade adoptadas na República e que nos Açores terão efeitos duplamente penalizadores sem, todavia perder de vista que essas medidas não passam de paliativos e não subscreverá qualquer tentativa de desresponsabilização do Governo Regional e do PS Açores na situação dramática que estamos a viver pois, como sabemos e reafirmamos, o PS Açores capitulou como capitularam o PSD e o CDS Açores perante este pacto de agressão e ingerência externa que consagra, como já afirmei, o maior ataque que há memória, à arquitectura do Estado português e à autonomia açoriana.
Ponta Delgada, 17 de Julho de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 19 de Julho de 2011, Angra do Heroísmo

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