segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A recompensa

O Benfica ganhou, Paulo Portas foi reeleito líder do CDS/PP, o BE tem uma liderança bicéfala, nos Açores, o Álvaro vai para a OCDE, o Gaspar para FMI, os seguros da Caixa Geral de Depósito foram adquiridos pela empresa chinesa FOSUN, o debate público sobre a trasladação dos restos mortais de Eusébio para o Panteão nacional, já decidido na Assembleia da República, está ao rubro.
Nada disto me espanta ou é verdadeiramente surpreendente a não ser, vamos lá, a vitória do Benfica sobre os portistas, não pelo triunfo em si mesmo mas porque, segundo os entendidos, o Benfica até jogou bem e mereceu a vitória, coisa que nem sempre acontece. Por vezes ao que é de inteiro merecimento não corresponde um resultado favorável. Lembro o jogo das meias-finais do Mundial de 1966, Portugal merecia melhor, muito melhor, merecia ganhar mas perdeu, perdeu e Eusébio chorou e, Portugal chorou com Eusébio.
A evolução da situação social e política traduzida num feroz ataque aos direitos sociais e ao rendimento dos trabalhadores com os conhecidos e devastadores efeitos na economia nacional, designadamente, nas micro, pequenas e médias empresas provoca, legitimamente, um efeito de contestação generalizado aos detentores de cargos políticos, sejam eles parlamentares ou governantes. Esta contestação, por ser generalizada, é injusta pois, nem todos os agentes políticos têm responsabilidade pela situação de empobrecimento e ruína dos portugueses e de Portugal, por outro lado não é despiciente lembrar que os primeiros responsáveis são os eleitores. Não há eleitos sem eleitores. As opções eleitorais determinam a correlação de forças nos parlamentos e daí, no caso português, a composição dos governos. 
Isto tudo a propósito dos ex-ministros da Economia e das Finanças que agora, ao que se diz por aí, vão assumir cargos na OCDE e FMI. Refiro estes dois por estarem a ser tema da atualidade mas, muitos outros exemplos se encontram de ex-parlamentares ou ex-governantes que após terem disponibilizado os seus préstimos ao amo são depois devidamente compensados pelos seus “bons serviços”. Julgo ser hoje claro, para a maioria dos cidadãos, que Álvaro Santos Pereira e Vítor Gaspar não estiveram ao serviço de Portugal e dos portugueses mas de interesses externos. Interesses que sendo políticos resultam em proveitos para os grandes grupos económicos e financeiros, e esses como sabemos não têm pátria. 
O Álvaro e o Gaspar, cumprida que foi a missão que lhes foi conferida, regressam à sua “pátria” de origem reassumindo o seu papel de acólitos dos oligopólios financeiros.
O glorioso SLB ganhou, e bem, ao seu rival do Norte e, isso sim é verdadeiramente importante. Tudo o resto é folclore, sem nenhum desprimor para a cultura popular de que tanto gosto e, tanto admiro.
Horta, 13 de Janeiro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 13 de Janeiro de 2014

Foto => Catarina Pires

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