quarta-feira, 2 de março de 2022

Equívocos

Não tenho nada contra, bem pelo contrário estou disponível para participar em todas as manifestações pela paz, no Mundo, não apenas pela paz na Palestina, na Ucrânia, no Iémen, na Síria, na Somália ou em qualquer outro rincão do planeta. Por mais distante que possa parecer a guerra afeta-nos, a mim perturba-me muito. Sou, por natureza um pacifista. Mas não sou ingénuo.

As manifestações pela paz devem ser dirigidas contra os poderes (político, económico e financeiro que dominam o Mundo), se assim for serão sempre a favor dos povos. Quando tomo posição contra a ocupação da Palestina por Israel, manifesto-me contra as opções políticas de Israel e nunca contra o povo israelita. Se condeno a invasão da Ucrânia é pelo povo ucraniano e pelo povo russo, não pelas opções dos seus governos.

As legítimas expressões de apoio e manifestações a favor da paz na Ucrânia onde, alguns, cidadãos expressam, genuína e generosamente, a sua preocupação sobre o sofrimento das populações afetadas, têm sido aproveitadas, de forma consciente e objetiva, por uma perigosa corrente política que serve interesses que não os da paz. Corrente política que oblitera alguns conflitos, desresponsabiliza os seus principais promotores (a oligarquia financeira que não tem, como se sabe, nacionalidade), e apoia medidas que se escudam na condenação, com a qual estamos todos de acordo, para continuar a promover a guerra.   

O formato das manifestações tem provocado dois efeitos:  a promoção da guerra e da russofobia; qualquer deles lamentável e estou certo que a maioria dos manifestantes não é isso que pretende, mas há quem o faça de forma deliberada e para daí retirar dividendos políticos.

O clima de crispação que decorre da forma como a guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) tem provocado nas redes sociais e nas ruas o aumento da russofobia. Existem já algumas situações em que cidadãos russos residentes em Portugal, apenas pelo facto de serem russos, têm sido alvo de insultos e outros comportamentos discriminatórios. Lamentável que os cidadãos de boa vontade não percebam que a forma como se posicionam em relação à guerra na Ucrânia (dura há 8 anos) prejudica os cidadãos russos que vivem e trabalham em Portugal.

Incompreensível é que alguns desses cidadãos que, consciente ou inconscientemente, promovem a russofobia sejam eles também vítimas de preconceito e discriminação, por diferentes motivos,  e não tivessem parado, por uns instantes, para perceber que estão a incentivar comportamentos discriminatórios. 

Fica um abraço de solidariedade a todos os meus amigos ucranianos e russos de boa vontade.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 02 de março, de 2022

.


3 comentários:

Emilio Antunes Rodrigues disse...

A percepção a que as pessoas são levada sobre esta guerra é a de que ela apareceu do nada só porque o Putin é putão e não tem causas nem antecedentes, na verdade esta guerra é o seguimento da guerra por etapas que começou na guerra fria, passou pelo Iraque, Líbia, Jugoslávia, Síria, Afeganistão, Iémen, Palestina and so on como dizem eles os senhoras da guerra.

Manuel Maria Saraiva da Costa disse...

O Mundo descansa e confia que a Ucrânia se possa ver livre da Rússia, através de negociações sem tréguas.
Negociações ou conversações, de que tipo? Favorável a quem? Como se pode confiar? Para quando?
Utilizando a palavra PAZ, esta serve para que em seu nome haja desculpa e covardia. Putin não é um Super Humano e Super Inteligente, mas assim tratado por quem o teme!
Putin, “dono dos russos que fielmente o servem”, não passa de um repugnante bicho peçonhento, que só morto se pode acabar com a peçonha.

Aníbal C. Pires disse...

Meu caro Manuel da Costa!

Esta guerra, que dura há 8 anos, não se resume ao Putin (por mim pode usar a adjetivação que entender para o caraterizar que não me incomoda).
Mas como lhe dizia a questão não é simples e existem vários responsáveis pela guerra na Ucrânia que se iniciou em 2013/2014.
Reduzir o problema à invasão russa que teve lugar nos últimos dias de fevereiro é redutor. Por outro lado, o que tenho escrito sobre o assunto tem sido sempre de apelo à PAZ. Só com uma situação de cessar fogo instituída será possível que o direito internacional e os diferentes acordos e compromissos selados entre as partes envolvidas (não são só a Ucrânia e a Rússia) possam ser reatados e, sobretudo, cumpridos.
Mas, sempre lhe direi que as posições, como a da União Europeia em nada ajudam para que, rapidamente, se consiga um cessar fogo. Apagara fogos com gasolina não me parece muito avisado.
Obrigado pelo comentário
boa noite